terça-feira, 12 de novembro de 2019

PARNAÍBA: o rio da integração piauiense

Fonte: Google


PARNAÍBA: o rio da integração piauiense

José Pedro Araújo
Romancista, cronista, contista e historiador

Da mesma forma que o São Francisco é conhecido como o rio da integração nacional, o rio Parnaíba pode receber o epíteto de rio da Integração do Piauí, por sua importância ímpar para a ocupação e desenvolvimento deste Estado. O traçado do seu curso, a relativa ocorrência de obstáculos intransponíveis e a largura e profundidade do seu leito, são alguns dos pontos positivos que favoreceu o trânsito de pessoas e embarcações ao longo de todo o trecho navegável. Também funcionou como fator primordial a configuração do próprio território, amplo no seu comprimento e estreito na sua largura. Por esta razão, desde a sua embocadura no Atlântico, até a região de Santa Filomena, a mais de um mil quilômetros de distância, existia, naquela época, certa facilidade na sua navegação utilizando-se embarcações com calado apropriado. 

Por estas razões, transformou-se o chamado rio grande dos Tapuias em autêntico caminho por onde desciam as embarcações com os produtos agropecuários produzidos na região sul, chegando até ao litoral; da mesma forma, por ele subiam as embarcações com outros artigos não encontrados nas distantes regiões de onde procediam os rebanhos. Do mesmo modo, também trafegavam seu leito sinuoso os novos ocupantes do vasto e desocupado território, grandes pecuaristas, mas também pequenos agricultores, todos a procura de locais aonde situar suas moradias simples. Pequenas posses de terra lhes serviriam para assentarem nelas suas famílias, instalar suas roças com produtos de subsistência e seus diminutos rebanhos.

Nas margens desse manancial de esperanças relevantes, foram surgindo pequenos embarcadouros, que muito mais tarde se transformariam em cidades, centros de atração de novas populações e novos negócios. Em um ponto equidistante deste fantástico rio, entre Parnaíba e o alto sertão, o Agrônomo Francisco Parentes instalaria a primeira colônia agrícola na Província, munida de estrutura apropriada para receber a primeira escola especializada em agropecuária, no local que ficou conhecido como Colônia e, anos depois, cidade de Floriano. Aquele estabelecimento, que passou a chamar-se São Pedro de Alcântara, sobre o qual falaremos mais detidamente à frente, funcionou como principal ponto de apoio aos colonos que subiam o rio em busca das fertilíssimas terras existentes mais ao sul.

Pode-se assim dizer que acontecia agora um processo de recolonização, uma vez que os primeiros colonos vindos da Bahia e de Pernambuco, haviam começado exatamente por aqueles ermos sertões a ocupação do território piauiense.  Portanto, à falta de estradas com boas possibilidades de tráfego que ligasse as regiões sul e norte, foi o rio Parnaíba o principal percurso tomado pelos primeiros desbravadores, símbolo de uma época de grandes conquistas e de muita luta.

As embarcações usadas para vencer as grandes distâncias naqueles tempos remotíssimos eram simples, construídas à partir do talos retirados da palmeira denominada buriti ou do próprio babaçu. Em rudimentares embarcações, aproveitavam-se da corrente os primeiros navegantes, para chegar aos primeiros aglomerados urbanos que iam se formando ao longo do portentoso rio, até chegar ao seu litoral, onde crescia com desenvoltura a célebre povoação de São João da Parnaíba. Também trafegavam contra a corrente, as grandes canoas, levando suas cargas e seus passageiros, impulsionadas para frente pelo braço forte do resoluto barqueiro, por centenas de quilômetros, à falta de outro meio de transporte que facilitasse a chegada da sua carga ao sul da Província.

Foi tormentosa a luta dos primeiros administradores para abrir e conservar os primeiros caminhos ligando a capital da Província com as vilas que iam se formando nos distantes sertões. Os recursos escassos e o desinteresse da Coroa para com a nova colônia, deram o tom do primeiro século de vida dela. É vasta a documentação encontrada dando conta das correspondências enviadas à Corte com a solicitação de recursos para abrir estradas, construir pequenas pontes sobre os rios mais importantes ou simplesmente conservar e alargar os caminhos abertos pelos curraleiros para tocarem as suas boiadas até os mercados consumidores.

Por outro lado, a eterna falta de recursos da qual padecia a Província, além da pobreza de espírito e de dinheiro do nascente empresariado local, impediu por mais de um século que embarcações movidas à motor substituíssem as pobres canoas impulsionadas a remo, na difícil tarefa de vencer as grandes distâncias até os locais mais distantes do Piauí. Discorrendo sobre isto, o incansável Odilon Nunes vai buscar na correspondência trocada entre o Presidente da Província, Frederico de Almeida e Albuquerque e o ministro do Império, as razões que considera como preponderantes para o atraso eterno pelo qual passava o Piauí: a falta de meios de transportes para os produtos locais.

Visando chamar a atenção para a aflitiva situação de atraso pelo qual passava o território por ele administrado, Almeida e Albuquerque esclarece assim a situação vivida: “Esta Província fica em sua totalidade, tão distante dos portos de mar, e dos grandes mercados do país que muitos de seus produtos agrícolas deixam de ter valor algum, porque as despesas de transporte absorvem e porventura excedem ao mesmo valor; e aquele mesmo produto que é o objeto da ocupação da máxima parte dos respectivos habitantes que constitui a riqueza da Província, o gado, vende-se por preço mui inferior àquele por que costuma ser vendido o que produzem as províncias vizinhas que se acham colocadas em posições mais favoráveis” (NUNES, pág. 139, 2007).

Foram tempos de duras lutas, vencidas pela dadivosa da existência de um grande manancial, chamado rio Parnaíba. Contudo, se funcionou como grande válvula de escape, tornou-se também a desculpa que queriam os gestores do país que diziam não precisar o Piauí de estradas terrestres, uma vez possuindo o extenso e sinuoso rio que cobria toda a sua extensão.   

2 comentários:

  1. Meu caro poeta, hoje o nosso Rio Grande dos Tapuias clama por ações governamentais que estanquem a sua acelerada deterioração. Mas todos fazem ouvidos de moucos. Triste sina é essa do nosso grande manancial.

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  2. E quanto mais ele se degradar, mais difícil, trabalhosa e cara será a sua revitalização ou recuperação.

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