PEQUENO TRATADO SOBRE O DESVALOR CIENTÍFICO
DA VIDA HUMANA
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Havia tempo que não lia tamanha e tão depressiva bobagem,
como a publicada sob forma de pérola de erudição e sabedoria, pelo midiático
Yuval Harari, professor israelense de história e autor de best-sellers atuais,
replicada por revista semanal brasileira: “Até onde sabemos, de um ponto de
vista científico, a vida humana não tem sentido algum”.
Segundo George Steiner, nonagenário crítico literário
francês, professor universitário em Cambridge e Genebra, em um de seus livros,
mesmo o poema, o conto, a crônica, qualquer parágrafo escrito, grosso modo,
nada mais é que um somatório de fonemas, letras, vocábulos, não inusitados, nem
inéditos, ainda que derivados de neologismos; eis que os grafemas e as palavras
que lhes serviram de matéria-prima já existiam antes da arrumação ou composição
daqueles.
E ainda deduz: não pode querer a física, mecânica
quântica que o seja, a matemática, a filosofia, além de outras ciências, atualmente,
meterem-se a falar, por exemplo, em erros, falhas, cometidos por Aristóteles,
Platão, Kepler, Anaximandro. Os físicos, matemáticos, filósofos de hoje beberam
de fontes preexistentes, não equivocadas nem portadoras de erros ou falhas, simplesmente,
porque não haviam como ser comparadas com outras, eram o que estava à
disposição deles, para lhes servirem; felizmente, graças a elas, a esforços,
estudos, pesquisas, experiências, complementares, pôde-se chegar a novas
conclusões, teses, talvez, paradigmas; no futuro, quem sabe, venha-se a
descobrir estarem eivadas de tantos ou mais erros, defeitos ou equívocos, do
que as que lhes serviram de ponto de partida.
Outra observação, digamos preliminar, à pretensa
conclusão a que gostaria de chegar. O mundo e o tempo, na visão de Carlo Rovelli,
físico teórico italiano, estudioso da mecânica quântica, é uma sucessão de
eventos, quânticos e/ou não, de coisas, objetos, entes, seres. Na condição de
estudioso da física tomada como ciência exata, é provável que pouco haja a se
reparar nele; quando se imiscui ou migra, todavia, para a metafísica, a primeira
das filosofias - é assim que a tomam, porque assim ela o é -, como tem feito,
quando leva a público ou torna conhecidas experiências empíricas feitas a
partir de conhecimento teórico, mormente, sobre a mecânica quântica,
equipara-se a um bom filósofo.
Poderia, sendo, também, hipócrita, tachar como
conhecimento, do ponto de vista científico, talvez, superficial, raso,
experimental, shakespeariano – já que há mais mistérios entre a terra e céu do
que nossa vã filosofia possa supor -,
sem, no entanto, querer desmerecer ou desvalorizar ditas ciências, os, até
agora, obtidos por meio de experiências, observações e, mesmo, estudos profundos,
em cosmologia, astronomia, astrofísica, para ficar só com essas, dado o
ilimitável campo de estudo, e da incomensurável quantidade de matéria a
observar, manipular, segregar, em laboratórios limitados que, portanto, não
lhes garantiriam chegar a qualquer tipo de plena certeza, até porque as mais
avançadas tecnologias disponíveis somente lhes permitem ir ou atingir limites
imagináveis.
Como tomar sem sentido, sob qualquer ponto de vista,
o que incluiria o científico, a vida humana? Não bastasse o fato de, irresponsavelmente,
desvalorizar ciências como a biologia, a antropologia, ramos de conhecimento
como a moral, a ética, atributos existenciais como a fé, a religião, a
inteligência, seria a negação de conclusões, confirmações de verdades
científicas irrefutáveis: não houvesse o ser humano - do qual nem precisaria dar
exemplos de nomes e de vidas que a engrandeceram ou a tornaram conhecidas - não
existiria ciência, ou seja, só por esse motivo, a vida humana faz e tem sentido.
A menos que a ciência de que fala o professor israelense fosse algo do
que, até agora, não tratamos, no que não cremos, porque acreditamos que ele
sabe muito bem o que ela é, a tal ponto que a nega, ao negar valor científico à
vida humana. Foi e continua sendo esta, enquanto mantenedora da inteligência do
homem, a responsável pelo conhecimento acumulado e estocado no mundo das
coisas, da razão e das ideias, ao longo do “irrelevante tempo” do físico
italiano. Esse cabedal de estudos, pesquisas e práticas sobre tudo o que o
discernimento humano possa descortinar, a partir de princípios certos e, permanentemente
atualizáveis, é a ciência, que para poder circular de modo contínuo, precisa da
vida humana prolongada, protegida e, valorizada.
Negar, filosoficamente, em uma dialética deletéria, tergiversando,
criando querelas e discussões subliminares, é fácil; e fútil se, notadamente,
contra fatos reais, impõe imaginários, fáticos apenas para quem acha que nada é
o que parece ser. Afirmar que a vida humana, cientificamente falando, não tem
sentido, é o mesmo que estar, não apenas duvidando, mas declarando que a
ciência é uma quimera, uma tolice a que alguns se dedicam por não encontrarem algo
mais útil a fazer. O que se faz quando se pensa não estar fazendo ciência, geralmente,
é ciência. Se queriam, os aqui citados, colocar à mesa para discussões sob ponto
de vista científico, elementos que não refutariam, que estivessem certos de que,
de fato, são irrefutáveis.
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