terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PEQUENO TRATADO SOBRE O DESVALOR CIENTÍFICO DA VIDA HUMANA



PEQUENO TRATADO SOBRE O DESVALOR CIENTÍFICO DA VIDA HUMANA

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Havia tempo que não lia tamanha e tão depressiva bobagem, como a publicada sob forma de pérola de erudição e sabedoria, pelo midiático Yuval Harari, professor israelense de história e autor de best-sellers atuais, replicada por revista semanal brasileira: “Até onde sabemos, de um ponto de vista científico, a vida humana não tem sentido algum”.

                Segundo George Steiner, nonagenário crítico literário francês, professor universitário em Cambridge e Genebra, em um de seus livros, mesmo o poema, o conto, a crônica, qualquer parágrafo escrito, grosso modo, nada mais é que um somatório de fonemas, letras, vocábulos, não inusitados, nem inéditos, ainda que derivados de neologismos; eis que os grafemas e as palavras que lhes serviram de matéria-prima já existiam antes da arrumação ou composição daqueles.

                E ainda deduz: não pode querer a física, mecânica quântica que o seja, a matemática, a filosofia, além de outras ciências, atualmente, meterem-se a falar, por exemplo, em erros, falhas, cometidos por Aristóteles, Platão, Kepler, Anaximandro. Os físicos, matemáticos, filósofos de hoje beberam de fontes preexistentes, não equivocadas nem portadoras de erros ou falhas, simplesmente, porque não haviam como ser comparadas com outras, eram o que estava à disposição deles, para lhes servirem; felizmente, graças a elas, a esforços, estudos, pesquisas, experiências, complementares, pôde-se chegar a novas conclusões, teses, talvez, paradigmas; no futuro, quem sabe, venha-se a descobrir estarem eivadas de tantos ou mais erros, defeitos ou equívocos, do que as que lhes serviram de ponto de partida.

                Outra observação, digamos preliminar, à pretensa conclusão a que gostaria de chegar. O mundo e o tempo, na visão de Carlo Rovelli, físico teórico italiano, estudioso da mecânica quântica, é uma sucessão de eventos, quânticos e/ou não, de coisas, objetos, entes, seres. Na condição de estudioso da física tomada como ciência exata, é provável que pouco haja a se reparar nele; quando se imiscui ou migra, todavia, para a metafísica, a primeira das filosofias - é assim que a tomam, porque assim ela o é -, como tem feito, quando leva a público ou torna conhecidas experiências empíricas feitas a partir de conhecimento teórico, mormente, sobre a mecânica quântica, equipara-se a um bom filósofo.

                Poderia, sendo, também, hipócrita, tachar como conhecimento, do ponto de vista científico, talvez, superficial, raso, experimental, shakespeariano – já que há mais mistérios entre a terra e céu do que nossa vã filosofia possa  supor -, sem, no entanto, querer desmerecer ou desvalorizar ditas ciências, os, até agora, obtidos por meio de experiências, observações e, mesmo, estudos profundos, em cosmologia, astronomia, astrofísica, para ficar só com essas, dado o ilimitável campo de estudo, e da incomensurável quantidade de matéria a observar, manipular, segregar, em laboratórios limitados que, portanto, não lhes garantiriam chegar a qualquer tipo de plena certeza, até porque as mais avançadas tecnologias disponíveis somente lhes permitem ir ou atingir limites imagináveis.

                Como tomar sem sentido, sob qualquer ponto de vista, o que incluiria o científico, a vida humana? Não bastasse o fato de, irresponsavelmente, desvalorizar ciências como a biologia, a antropologia, ramos de conhecimento como a moral, a ética, atributos existenciais como a fé, a religião, a inteligência, seria a negação de conclusões, confirmações de verdades científicas irrefutáveis: não houvesse o ser humano - do qual nem precisaria dar exemplos de nomes e de vidas que a engrandeceram ou a tornaram conhecidas - não existiria ciência, ou seja, só por esse motivo, a vida humana faz e tem sentido.

A menos que a ciência de que fala o professor israelense fosse algo do que, até agora, não tratamos, no que não cremos, porque acreditamos que ele sabe muito bem o que ela é, a tal ponto que a nega, ao negar valor científico à vida humana. Foi e continua sendo esta, enquanto mantenedora da inteligência do homem, a responsável pelo conhecimento acumulado e estocado no mundo das coisas, da razão e das ideias, ao longo do “irrelevante tempo” do físico italiano. Esse cabedal de estudos, pesquisas e práticas sobre tudo o que o discernimento humano possa descortinar, a partir de princípios certos e, permanentemente atualizáveis, é a ciência, que para poder circular de modo contínuo, precisa da vida humana prolongada, protegida e, valorizada.  

                Negar, filosoficamente, em uma dialética deletéria, tergiversando, criando querelas e discussões subliminares, é fácil; e fútil se, notadamente, contra fatos reais, impõe imaginários, fáticos apenas para quem acha que nada é o que parece ser. Afirmar que a vida humana, cientificamente falando, não tem sentido, é o mesmo que estar, não apenas duvidando, mas declarando que a ciência é uma quimera, uma tolice a que alguns se dedicam por não encontrarem algo mais útil a fazer. O que se faz quando se pensa não estar fazendo ciência, geralmente, é ciência. Se queriam, os aqui citados, colocar à mesa para discussões sob ponto de vista científico, elementos que não refutariam, que estivessem certos de que, de fato, são irrefutáveis.                

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