sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

QUATRO POETAS DO PIAUÍ – Poemas – Parte 2

Fonte: Google



SACRIFÍCIO

Elmar Carvalho

Abrir meu ventre
como uma rosa de carne
e de suas vísceras multicores
pétalas dispostas em arabesco
projetar uma poesia
feita de flores e de fezes.
Cortar meu corpo
e retalhar minha alma
e fazer uma poesia
de matéria e de espírito
e morrer na última palavra
do último verso por nascer.
Drenar
minhas veias e
com seu sangue
regar um poema canibal
que não fale de morte.
E escrever a obra-prima
com o sangue da alma.

OUTONAL

Clóvis Moura

Depois da primavera o caos no mundo
e uma nuvem deitada nos meus braços,
criança abandonada que regressa
até o tempo de voltar criança.
Depois da primavera um lance apenas
de resto para viver um pouco tarde:
as tardes que perdemos são memória
e as mãos acordam para um abraço calmo.
Depois da primavera uma esperança
de tudo ser tranquilo e repousante,
ser como aquilo que sonhei um instante.
E depois deste outono a vaga espera,
um sabor de passado sem memória
ou só memória, após a primavera.

TÚMULOS

H. Dobal

Trovões distantes trazem
de um horizonte escondido uma tarde de chuva.

A chuva transforma a tarde
nas trevas da noite.

A noite traz de novo os amores perdidos,
uma ambição abandonada
o tremor das almas transidas no túmulo dos corpos.

PARA ILUDIR O CORAÇÃO

Da Costa e Silva

Como me enleva e quanto me impressiona
Conservar sempre nítido comigo
O teu perfil judaico de Madona
Na iluminura de um missal antigo!

A saudade, que nunca me abandona,
(Oh! sombra de minh'alma, eu te bendigo!),
Ficando a tua imagem se fez dona
Do pensamento em que te dei abrigo...

Para iludir o coração que pena,
No espelho móvel da memória trago
Teu vulto amado, na expressão serena...

E iluminas meu ser, num sonho vago,
Como estrela a abrir-se em luz serena
Sobre a quietude límpida de um lago...     

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