quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

RELEMBRANDO FERNANDO MENDES


Fonte: Google

RELEMBRANDO FERNANDO MENDES

     Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


                “Jornalistas são uma espécie em extinção”, foi o que ele disse, mas não complementou: porém, ditadores, não; nem doutrinadores educacionais.

                        Não pretendo falar sobre esses temas em mais que um parágrafo. Este. Se os jornalistas e a imprensa, deixarem a figura de lado e passarem a falar ou discutir sobre fatos mais interessantes – ou será que não existem assuntos mais apropriados e em quantidade suficiente para encher colunas jornalísticas ou espaços na mídia impressa? - do que os disparates e as verborreias do chefe da nação, é provável que ele viesse a sentir falta do tempo em que parecia ser a figura mais proeminente e noticiosa nos meios de comunicação de massa, e até voltasse atrás em suas aleivosias e destemperos verbais. Quanto à doutrinação, um adendo: tivemos vários ministros da educação muito bons; alguns, nem tanto; outros, ruins, mas a probabilidade de o que está no ar ou de plantão superar os últimos, ou melhor, de estes ganharem um novo companheiro, é bastante plausível. No atual momento de ebulição e evolução globais, em que todos estão conectados vinte e quatro horas diárias, querer que a infância, a adolescência, e mesmo a juventude, apenas venham a ver ou saber, em matéria de ciência ou qualquer outra matéria, o que seja ou esteja adotado, oficial e, formalmente, pelos gestores e autoridades governamentais responsáveis pelas políticas público-burocráticas voltadas à educação e cultura, é ou não uma espécie de doutrinação? 

                        Também não pretenderia me imiscuir nisso que preferiria fosse uma lorota exposta por parte da mídia descompromissada com a verdade fática: essa loa de que o governo não admite que não haja tributo sobre a produção e utilização particulares de energia solar, não porque esteja pensando no cidadão-contribuinte, mas por não simpatizar com os gestores da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Isso seria o mesmo que dizer que, tão logo, conseguisse uma gestão que lhe fosse simpática, a tributação estaria liberada; ou, então, que a figura estaria sendo, mais que demagógica, hipócrita, se, logo, logo, viéssemos a concluir que, desde o princípio, sua birra com o parlamento - que teima em querer espoliar-nos um pouco mais, tributando item ou serviço em que o estado, as instituições produtoras ou distribuidoras de energia elétrica, não têm gerência, nem preocupação que não seja oferecer, como se sua fosse, a quem quer que seja o excedente de energia produzida particularmente pelos cidadãos que nela investiram -, seria de fachada, de brincadeirinha.

                        Tentarei, doravante, falar sobre uma situação que vivenciei, dia desses, em determinada região da cidade. Atravessava a praça quando dei de cara com um velho amigo que tentava, ali, vender um livrinho de poesia caseira, que acabara de editar a duras penas. Entabulamos conversa. Naquele momento e local, um pregador que, a princípio, não distingui de que seita ou religião seria – depois, entendi de qual se tratava, mas não vem ao caso, dada a laicidade de nossa institucional condição religiosa, identificá-la, explicitamente: quem interessar, que possa fazê-lo -, tentava chamar a atenção dos presentes, desafiando-lhes a fé: - olhem, amigos, para ser um bom cristão, não basta ir à igreja todos os dias (lembrei-me do cantor Fernando Mendes, do meu tempo de criança, e de música sua que dizia: “não adianta ir à igreja rezar e fazer tudo errado...”), mas não se livrar do pecado, se, ao sair da casa de Deus, vai para a “cerveja”, à boate, enfim, à farra. Aquele amigo era do tipo que dá um boi para não entrar em briga ou discussão, mas nem com uma boiada de torna dela sai. Deixando a pregação de lado, cutuquei-lhe: vem cá, se beber, de fato, fosse pecado tão grande, por que Jesus, naquelas bodas de Canaã, diante da falta de vinho para os convidados presentes, atendendo pedido de sua mãe, transformou água – produto tão ou mais precioso naquelas paragens – em vinho de boa qualidade? E continuei falando, como que para abastecer-lhe de malévolas informações: quem foi o idiota, quase disse, antes de este, que falou que se divertir, ir a boates, bares, por si só, seja pecado? E concluí: se todos que tomassem sua cervejinha, social e, educadamente, abdicassem de esse hábito, antes de irem para o céu que o pregador estava oferecendo, veriam as cervejarias falirem, os bares e restaurantes que as revendem irem à bancarrota, e os empregados, tanto na produção, quanto na distribuição e revenda do líquido maltado, perderem seus empregos. Pecado, penso que seja, e bem maior, é desejar o inferno para quem, pura e, simplesmente, quer se divertir, principalmente, depois de ir à igreja. Errado mesmo é deixar de fazer algo a que nossa consciência não atribua maldade ou culpa. Foi a deixa que meu amigo estava precisando para interromper o pregador, pedir-lhe a palavra e começar seu discurso.

                        Já que deram tanto tempo ao meu colega aqui, referindo-se ao pregador, gostaria de somente ter um minuto da atenção dos senhores: sou um metido a escritor, filósofo e professor por formação, e proporia a vocês o seguinte: quem achar que o cidadão aqui – apontando para o ex-pregador - está certo em dizer que é pecado e que leva ao inferno, beber, pacificamente, sua cervejinha, uísque ou pinga; ir a uma festinha com sua patroa, amigos, namorado ou namorada, mesmo após sair de uma pregação religiosa das mais proveitosas, que fique onde está? Por outro lado, aqueles que não veem qualquer mal nisso, que venham para mais perto de mim. Dois ou três ficaram aonde estavam, os demais preferiram ouvir meu velho amigo. Quanto a mim, dir-lhes-ia, satisfeito, fui-me, cantarolando “Sorte tem quem acredita nela”, de Fernando Mendes.                   

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