sábado, 18 de janeiro de 2020

RESPEITEM O MACACAL (SÃO JOÃO)

Fonte: Google


RESPEITEM O MACACAL (SÃO JOÃO)

José Maria Vasconcelos, cronista, josemaria001@hotmail.com
  
          Em 1970, a Zona Leste de Teresina acabava no BALÃO DO SÃO CRISTÓVÃO. Seguia-se um fim de mundo de modestas casas, raras residências nobres ao longo da inacabada AVENIDA KENNEDY, de mão única, chão batido, ao norte.

         Ricos do centro da capital sonhavam atravessar a ponte do RIO POTI, morar no cobiçado e crescente JÓQUEI, construir residência moderna, desfrutar fundos de quintais arborizados, friozinho noturno, termômetro 20 à noite, privilegiados ricos. O JÓQUEI logo se estendeu para a região de FÁTIMA e RIVER, e a valorização imobiliária disparou.

         Em homenagem à simpática GUADALAJARA mexicana, que torceu pelo BRASIL NA COPA DE 70, ergueu-se belo conjunto residencial de mesmo nome, no prolongamento do RÍVER.

         À direita de toda a modesta AVENIDA JOÃO XXIII, só mão dupla e calçamento, estendia-se imensa floresta de babaçu e matas, até confins da atual PONTE WALL FERRAZ ao RECANTO das PALMEIRAS. Região úmida, mananciais pantanosos, frio intenso à noite, macacos divertiam-se, gritando, quebrando coco e o silêncio da mata. Pouca gente cobiçava um lote na imensa extensão daquelas terras úmidas e férteis. Baratíssimos. Dez vezes menos, comparados aos do lado direito da JOÃO XIII. Pior, o futuro BAIRRO SÃO JOÃO, estigmatizado de MACACAL. Ganhando meus primeiros salários de modesto professor, arrisquei em cinco lotes, sabendo que, um dia, valeriam fortuna. Dito e feito. Lá meu recanto e vida.

         A arquidiocese de Teresina dispunha de extensa gleba na região próxima ao atual CLUBE ELDORADO. DOM AVELAR BRANDÃO VILELA dedicava-se às questões da exclusão social. O prelado dividiu a terra com os pobres e reservou uma porção para construção do templo de SÃO JOÃO BATISTA, a cargo das freiras  de SANTA CATARINA. Fundava-se, em 1973, a Paróquia JOÃO XXIII, constituída de modesta comunidade, sem infraestrutura, isolada da ambição imobiliária. À noite, a fumaça carvoeira de fundos de quintais infernizava a região.

         Desdenhava-se o BAIRRO SÃO JOÃO de MACACAL. “Zé Maria, você reside no MACACAL?!” Referência aos símios que habitavam a floresta. Imobiliárias descobriam que valia a pena vender lotes naquela região. Invejaram-me? Ora, eu já adquirira onze lotes!

         Diariamente, músicas sacras e bucólicas da amplificadora da igreja despertavam a comunidade. Não se ouvem mais românticas melodias nem se respira certa tranquilidade e interação comunitária, sob a liderança do pároco PADRE CARLITO. Macacos me mordam, se um dia eu me separar do BAIRRO SÃO JOÃO. Sempre preservado de MACACAL.   

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