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DALILÍADA
(poema
épico inspirado na vida e na obra de Dalí)
Elmar Carvalho
XXXIII
Dalí menino,
transmudado em menina,
levanta a orla do mar
e contempla o cão
adormecido
à sombra das águas.
Dalí adulto
suspendeu a borda do mar,
as fúrias das ondas aplacou,
a contemplar o ritmo das
esferas
que o rosto da amada
desenhavam.
O cão sonolento ainda
dormia
sob o tapete das
águas.
XXXIV
A cabeça de Rafael é
uma cúpula de catedral
estalando em fragmentos
com os quais seu gênio
construía as obras em
que seu crânio se refazia.
XXXV
Nos justapostos cubos
suspensos
em forma de cruz, um Cristo
dolorido retorcido pelos
séculos
ainda sente as mesmas dores
dos cravos, da lança e da
maldade
humanamente desumana.
Uma Madona solitária contempla
triste rainha em xeque –
mate no chão de xadrez
a agonia do “corpus hipercubicus”.
XXXVI
Na natureza morta de Dalí
a morte ganhou vida
na rosa ceifada que
levitava.
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