sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

VIDAL FREITAS - A TOGA E A CÁTEDRA




VIDAL FREITAS - A TOGA E A CÁTEDRA

Elmar Carvalho

Nesta quarta-feira, conheci a Dra. Myrtes Freitas, irmã de meu colega e amigo Vidal Freitas Filho, corregedora da Defensoria Pública do Estado do Piauí, que fora inspecionar o polo sediado na Comarca de Regeneração, cujo titular é o defensor público Ivanovick Pinheiro, que também exerce o magistério superior, com muita proficiência. É uma pessoa simpática, de agradável conversação e interessada em assuntos culturais.

Instigada por mim, falou-me de seu pai, o honrado e saudoso magistrado Vidal Freitas. Colho no livro Sua Excelência o Egrégio, da autoria do professor A. Tito Filho, a informação de que ele nasceu em Oeiras em 1901, e de que fundou e orientou jornais, em que escrevia sobre diversos assuntos. Foi professor de português, latim, inglês e história. Fundador e diretor de colégios. Bacharelou-se na Faculdade de Direito do Recife. Exerceu a magistratura em diversas cidades do estado.

Segundo a referida fonte, dominava o francês, o inglês, o alemão, o italiano e o espanhol, além de conhecer profundamente o latim. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Piauiense e à Academia Piauiense de Letras. Em 1971, aposentou-se como desembargador. Perguntei à Dra. Myrtes se era verdade certo caso interessante e um tanto anedótico de que ele fora protagonista. Contou-me o caso. O desembargador Vidal era um homem sério e honrado, e bom e justo.

Quando era professor da velha Faculdade de Direito, havia um aluno que trabalhava na então toda poderosa Casa Inglesa, que era rígida com relação ao cumprimento de horário. Por isso, esse aluno, forçosamente, chegava quase sempre um pouco atrasado às aulas. O diretor da faculdade, por alguma razão que desconheço, passou a fiscalizar a frequência dos discípulos. E certo dia foi inspecionar a frequência dos alunos do desembargador.

Disse haver notado que na lista de presença não constava a falta desse aluno, que ainda não chegara. Vidal Freitas respondeu que ele viria, que já estava chegando. De fato, naquele instante o aluno entrou na sala, e a sua presença ficou mantida. Esse aluno galgou importante cargo público e conservou pelo mestre Vidal uma amizade e gratidão, que perdurou até depois de sua morte.

Sua gratidão era tanta, que um dia comentou para familiares de Vidal Freitas, quando ele já havia falecido, mesmo sabendo que ele fora batista praticante, assim como sua família, de que havia sonhado com o velho professor, e de que este lhe pedira a celebração de uma missa.

A família, claro, sabia que as suas convicções religiosas jamais lhe permitiriam fazer esse tipo de solicitação, mas entendeu que a realização desse culto católico era uma maneira de esse homem demonstrar a sua mais profunda gratidão pelo desembargador Vidal Freitas, por quem nutria nobres e perenes sentimentos de reconhecimento e amizade pelos benefícios  recebidos. E a missa foi celebrada, com a presença da Dra. Myrtes Freitas.  

18 de abril de 2010

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