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DEMAGOGIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Estava
lendo o jornal do longo final de semana, quando cheguei ao artigo de um
professor/historiador piauiense que tentava dar ares de suma importância à
antecipação do feriado pelo dia do Piauí, de dezenove de outubro para quinze de
maio, afirmando que, muito mais do que por conta da necessidade de manter
dentro de casa, isolada, a população e, com isso, tentar diminuir a
possibilidade de contágio pelo novo coronavírus, essa decisão governamental –
que, possivelmente, nem ele queria tê-la feito – trouxe à baila a oportunidade
de propor-se uma discussão sobre as causas que teriam levado os pensadores da
efeméride à determinação de quando e porque deveria acontecer em dezenove de
outubro e não quinze de maio: na primeira data, ainda lá em mil, oitocentos e
vinte e dois, pouco mais de um mês após a ocorrência da mítico-histórica
proclamação da independência do Brasil, o Piauí iniciaria um primeiro levante,
um processo bélico de reconhecimento da separação nossa de Portugal, ocorrido
na cidade de Parnaíba. Esse episódio, certamente, inusitado para estados do
norte e nordeste brasileiros, não teria como ver transferida ou trocada, ainda
que legalmente, sua comemoração para uma data aleatória qualquer.
Outras tantas nos remetem à luta
pelo reconhecimento da independência: mas aquela foi a primeira. Portanto, não
que se esteja dizendo que a legislativa antecipação não tivesse a importância
que se lhe quiseram atribuir: do ponto de vista sanitário, sim. Afirmar-se ou
lhe querer conferir valoração histórica, como a insinuação de que deveríamos aproveitar
o fato para discutir o motivo da existência do feriado, é, ou não, fazer
demagogia? Logo, logo, a se manter no ar o perigo causado pelo coronavírus e a
necessidade de isolamento da população, não havendo sido descoberto nem
encontrado medicamento ou tratamento para a virose, poderia ser de extrema
importância, não somente sanitária, mas, principalmente, para que pudéssemos
examiná-los sob ponto de vista didático-histórico ou religioso, a antecipação
para vindouros finais de semana, dias santificados ou feriados como o sete de
setembro, o doze de outubro, o dois e quinze de novembro, o oito e até mesmo o
vinte e cinco de dezembro. Ainda bem que esses feriados ou suetos são nacionais
e, a não ser que o presidente da república mexa com eles, o governador,
certamente, não teria como fazê-lo; a menos que decidisse estatuir outros.
Voltando
um pouco no tempo. Coincidentemente, enquanto lia as últimas linhas do artigo
do historiador mafrensino, o netinho, que comigo “curtia o confinamento”,
perguntou-me: - ‘vô, hoje é feriado porque é o dia do Piauí? Temendo lhe dar
resposta diferente de outra já obtida, devolvi-lhe a pergunta: você já
perguntou isso a alguém? Como estava entretido com o celular, apenas acenou,
negativamente. Então, lhe disse: - hoje não é feriado coisa nenhuma! – ele
ficou bastante sério, mas não disse nada -, o governador determinou que assim
fosse para proteger-nos da contaminação pelo coronavírus – nova perplexidade,
não porque não soubesse sobre o vírus, talvez porque sim -, o dia do Piauí, no
qual comemoramos nossa luta pela independência do Brasil, ocorre em dezenove de
outubro. Vi um sorriso em seu rostinho inteligente, como a dizer: vá entender
os adultos, e continuou com seu jogo eletrônico. Ainda bem, porque não sei se
não teria de lhe dizer que tinha de dar razão a um outro governante piauiense,
tido como excêntrico, que preferiu desconsiderar a antecipação do feriado e
confiar no discernimento de seus governados, no sentido de que eles, e somente
eles, não só seriam os maiores beneficiários pela redução de infecção e mortes
pelo coronavírus, como os mais prejudicados, a depender do que,
voluntariamente, decidiriam sobre a necessidade de isolamento.
Outro
caso de demagogia; ou eu é que estaria sendo hipócrita? Não parece difícil, preocupante,
nem mesmo pode ser considerado um ato de irresponsabilidade, alguém como um
leigo, um religioso, jurista ou um gestor público acossado pela urgência,
sugerir, especular ou insistir que, ante tal ou qual situação, dever-se-ia
utilizar ou adotar, por exemplo, certo procedimento fármaco-médico experimental
não recomendado nem aprovado por organismos especializados, por ainda não estar
pacificado o entendimento de que seria inquestionável sua eficácia contra
sintomas, ou mesmo tratamento de
determinadas enfermidades ou patologias, em que, pretenderiam aqueles,
fossem aplicados; notadamente, se ou porque saberiam, que essa recomendação,
sugestão, de fato, prosperaria (ou não), após especialistas no assunto, depois
de exaustivas análises e exames, darem parecer, laudo ou decisão conclusiva, na
qual se embasariam aqueles que receberam ou foram cientificados da
representação, sugestão, provocação, para agirem dali em diante; se é que no
curso da demanda não já decidiram por conta e risco próprios, ou como lhes deu
na telha.
No futebol, dizem que todo
brasileiro é entendido, senão técnico; em tempo de pandemia, ao que parece,
esse entendimento também pode ser aplicado ou aproveitado: não é incomum, até
quem é de seara científica diferente meter-se a discutir ou agir como
infectologista, microbiologista, virologista; ou a criticar todos eles.
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