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DIÁRIO
[Sobre rezas e orações]
Elmar Carvalho
13/05/2020
Desde muito
cedo minha mãe me ensinou a rezar. Fiz catecismo e comunguei. Decorei algumas
orações. Depois, me mantive fiel exclusivamente ao Pai Nosso. Li o Velho e o
Novo Testamento algumas vezes. Reli os Evangelhos, os Salmos e os Provérbios em
maior quantidade de vezes. No final de minha meninice li um exemplar comentado
do Novo Testamento. Mas nunca fiz parte de nenhuma congregação religiosa e
tampouco fui acólito ou coroinha.
Aos treze anos, fui a uma pregação,
uma espécie de encontro com um padre católico. Após a leitura de uma parábola,
o sacerdote perguntou se havia alguém habilitado a explicá-la. Fundamentado no
Evangelho comentado que eu havia lido, e também em minha experiência em leitura
e interpretação de fábulas e apólogos das antologias dos livros didáticos de
meu pai, alguns da autoria de Aída Costa e José de Sá Nunes, dei a minha
interpretação. Isso causou grande admiração do padre e dos presentes.
Contudo, nunca fui um fiel, um
evangélico e nem um católico praticante. Faz muito tempo não comungo e
raramente vou a uma missa. Entretanto, desde que aprendi a rezar, ensinado por
minha saudosa mãe, rezo diariamente, como vi meu pai, católico convicto, fazer.
Porém, posso dizer que faço pequenas orações ao longo do dia, movido por
circunstâncias e finalidades diversas.
Pelo que tenho lido e baseado em
minha própria experiência, entendo que há vários tipos de rezas ou orações, e
diversas maneiras de orar, até mesmo quanto à postura física ou obedecendo a uma
ritualística. Creio que o importante seja a sinceridade e a Fé, e não certos
formalismos ou exterioridades.
Muitas vezes a reza é decorada e
recitada de forma mecânica, distraída, sem que a pessoa atente para o que está
dizendo. Outras vezes, é dita de forma sincera, fervorosa. Havia, não sei se
ainda os há, os grandes místicos, que meditavam e oravam de forma arrebatada, e
entravam em estado de êxtase, como na primeira das Elegias de Duíno, de Rilke:
“Vozes, vozes. Ouve, meu coração,
como outrora apenas
os santos ouviam, quando o imenso
chamado
os erguia do chão; eles porém
permaneciam ajoelhados,
os prodigiosos, e nada percebiam,
tão absortos ouviam (...)”
Enfim, repito, são inúmeras as
maneiras e os motivos para uma pessoa entrar em oração, sem falar naqueles que
só o fazem quando estão desesperados ou precisando de algo. Deixo que o leitor
medite sobre isso e sobre as razões que o levam a rezar.
Não sendo um fariseu e nem um
hipócrita, confesso que durante alguns anos rezei apenas por hábito, como se
fosse um dever, e quase sempre o Pai Nosso. Depois, parei de rezar.
Pretensiosamente, achei que não havia necessidade de fazer orações, que os
nossos atos e ações falariam a Deus por nós, e que teríamos a nossa recompensa
ou não, conforme o que praticássemos ou deixássemos de fazê-lo.
Mas logo senti que isso era uma
espécie de comodismo e de atitude orgulhosa, pois todos somos pequenos e
frágeis, e dependemos de Deus. Se o próprio Cristo orava, por que nós não
teríamos necessidade de orar? Além do mais, compreendi que ninguém pode ser
salvo mediante seus próprios méritos, porquanto todos somos falhos e pecadores.
Quero encerrar fazendo uma confissão:
hoje, em minhas orações, agradeço a Deus por tudo que Ele me deu, por tudo que
Ele me permitiu viver, mesmo pelos fatos desagradáveis, que me chatearam, que
me decepcionaram, que me frustraram, porque certamente eles contribuíram para
moldar a minha personalidade, para me tornar mais humilde, e assim compreender as
falhas de meu semelhante; sem isso, talvez, eu me tivesse tornado um tanto
arrogante e presunçoso.
Por fim, peço que Deus, dentro dos
limites que Ele me achar apropriado, me torne uma pessoa boa, digna, correta a
seus olhos; que nos afaste, todos nós, do egoísmo, do orgulho, da vaidade, da
arrogância e da empáfia, e que nos abençoe e nos conceda sua Graça,
especialmente a da salvação.
Mas, parafraseando Benjamim Franklin,
sou apenas uma edição em processo de revisão e que ainda tem muito que
melhorar.
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