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DIÁRIO
[A última praga]
Elmar Carvalho
22/05/2020
Nesta madrugada,
quando acordei para urinar, tive de imediato o insight de um conto. Antes de adormecer
procurei aperfeiçoar e desenvolver mentalmente a repentina inspiração. Acredito
que a sua gênese pode ser as sugestões provocadas pela quarentena covidiana que
estamos vivenciando.
Procurei não
dar a meu conto nenhum tom alarmista, nem apocalíptico e muito menos de Juízo
Final. Até porque Cristo disse que quando ele retornasse: “Daquele dia e hora,
porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai. [Mateus
24:36]” Acredito que também não saberemos como esse acontecimento predito será.
Sem mais
delongas, eis o conto, acima citado e agora concluído, que fará parte de meu
livro inédito “Arte-Fatos Oníricos e outros”:
A ÚLTIMA PRAGA
23/12/2102.
Acho importante registrar neste diário que, no final de 2100 e nos três
primeiros meses do ano seguinte deste novo século, algo muito estranho
aconteceu. Muitas pessoas começaram a morrer, de uma forma que inicialmente fez
lembrar a pandemia da Covid-19, doença provocada pelo novo corona vírus, no ano
de 2020. Ainda foram iniciadas as quarentenas e outras modalidades de
distanciamento social.
Contudo,
logo os médicos e os cientistas notaram que havia uma grande diferença. Os
infectados morriam rapidamente e sem sofrimento. Era quase uma espécie de morte
súbita. A pessoa se sentia fraca e logo perdia a vida. Muitos de nós sentiam um
verdadeiro terror, outros se resignavam, enquanto alguns passaram a orar
fervorosamente, em verdadeiro misticismo. Havia os medrosos, os covardes, os
corajosos e os estoicos. Mas quanto a isso não havia distinção por parte da
nova e estranha doença.
Notou-se que os infectados, em sua
maioria, eram pessoas de índole ostensivamente má; depois se descobriu que
havia os hipócritas e fariseus, que dissimulavam suas perversões e maldades,
mas eles também sucumbiram. A história da ciência não registrava nada
semelhante, embora, é claro, desde muito tempo se saiba que há doentes e há
doenças, e que a doença e a cura sempre foram consideradas psicossomáticas.
Ainda no início os mais modernos
exames, testes, autópsias e sofisticados aparelhos descobriram que o mal não
era contagioso, pelo que era inútil qualquer forma de quarentena. Também nunca
encontraram o menor indício de vírus ou bactérias, razão pela qual concluíram
que era produzida de forma autônoma pelo próprio organismo de cada infectado. E
todos os casos foram letais e de imediato desfecho.
Dada a radicalidade e rapidez dessa
espécie de praga ou pandemia, as câmaras frigoríficas e fornos crematórios
funcionaram em capacidade máxima, já que não havia condições de tempo e espaço
para o sepultamento de tantos mortos.
O mais estranho, e para isso cada um
tem a sua própria explicação, é que a sociedade, como um todo, se tornou muito
melhor, mais amável e mais generosa, e o que considerávamos crimes e pecados
desapareceram. As relações sociais e os costumes mudaram de forma radical.
Não houve mais morte e nem doença, e
nota-se que está acontecendo um processo gradual de rejuvenescimento, com os
corpos se tornando mais belos e mais poderosos. A ciência não tem explicação
para esse fenômeno.
Para mim e para todos os que conheço
a única explicação é que houve uma intervenção direta de Deus.
Meu caro Poeta, o estado de hipnagogia, tem sido muito utilizado pelos artistas para produzir seus melhores trabalhos. Acredito que você deve ter entrado no que Salvador Dali cunhou como "Soneca com Chave". O que o seu conto preconiza é uma verdadeira limpeza ética e moral pelas artes santificadas do Criador. E aí teríamos um mundo bem melhor. Com pouca gente, é bem verdade, pois sabemos que a alma humana, na sua quase totalidade, é impura, um receptáculo de sentimentos ruins.
ResponderExcluirCaro Araújo,
ResponderExcluirvocê foi exato e preciso, se não estou incorrendo em alguma redundância (mas que no caso utilizei como uma ênfase) como um bom cirurgião.
Abraço,
Elmar
Caro Dr. Elmar:
ResponderExcluirQualquer parecer ou mera ideia quanto esta pandemia não deve ser tratada como além de um parecer ou de uma ideia especulativa. Lê-se e ouve-se aqui e alhures autoridades médicas e cientistas se contradizendo acerca dela. E pasme, até políticos.
Dizer que o dedo de Deus aparece como ente gerador deste infortúnio será acusa-lo de impiedoso, mau.
Por outra é sabido que Deus sempre respeita a vontade do homem, do contrário cairia por terra a tese divina de que Ele fez o homem essencialmente livre. Sim, fê-lo livre para fazer o que é certo. Se eivado de erro que ele assuma as consequências de suas ruis escolhas.
Saber ainda que o mal não vem por si só, há sempre uma causa que o gere. Em se partindo de que é impossível o mal ser gerado por Deus, logo, por ele cabe ao homem responder. Por oportuno, Deus a tudo assiste.
E que essa pandemia sirva de advertência e lição a todos nós. O meu texto, contudo, como você sabe, é mera ficção.
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