Fonte: Google/Jardim Exótico |
Brincadeira tem hora! Certamente,
pensando assim, José Gregório, dono de um rústico engenho de cana, tornou-se
inimigo de Tomás Maurício, vaqueiro. O primeiro residia na Fortaleza. O outro,
em Sussuapara. Localidades do município de Oeiras. O fato jocoso envolvendo a
ambos aconteceu na década de 40.
A feira citadina se realizava, então,
somente aos sábados. Certa vez, ao entardecer, Tomás comprou no Mercado Público,
um caixão de doce de buriti. Rumou viagem de regresso. Logo que atingiu o bairro
Canela começou a comer a referida iguaria. Passou-a toda no papo. Quando chegou
mais a frente, desceu do cavalo e foi fazer uma precisão, debaixo de um frondoso Chapada. Terminado o serviço, como o auxílio de um graveto,
colocou o excremento dentro do caixote, lacrando-o. Depois deixou este presente no meio da estrada. Ora, Tomás
sabia que quem iria encontrá-lo era Zé Gregório, pois o tinha visto
preparando-se para voltar a sua casa. O caminho a ser percorrido era aquele.
Dito e feito. Não custou muito,
Zé Gregório avistou logo o achado. Saltou-se do meio da carga do jumento.
Apanhou o caixote, guardou-o. Satisfeito, dizia para si:
– “Ah! Atrás deste é que eu andava”.
Apressou a viagem com medo
do dono do doce voltar para procurá-lo.
Zé Gregório chegou em casa lá
pelas sete horas da noite. Mandou a sua mulher, Ana Maria, botar logo a janta.
Estava cansado, faminto. Morava com o casal um neto de nome Sabino, desorientado
do juízo. Vivia pelo mato, não trabalhava. Negro dos olhos amarelos e pés
rachados. Sabino gostava de espiar a comida dos outros. Estava ali reparando o
avô devorar o seu descomunal prato. Uma lamparina luzia vagamente aquele tosco
ambiente.
Acabando de jantar, Zé Gregório
gritou a sua mulher:
– “Ana Maria, traga da mala um doce de
buriti que tá aí...”
A velha veio pressurosa. Colocou
o doce em cima da mesa. Quando Zé Gregório começou a tirar a primeira tala do
caixote, sentiu um mau cheiro avassalador. Pensou que tivesse sido Sabino que
tinha dado um vento. Indignado, bateu
a mão a cintura:
– Espera fio duma égua, que tu vai já cagar fedorento no mato.
Sabino correu de porta afora,
caiu no escuro...
Em seguida, Zé Gregório desmiolou
o doce com uma colher. Quando ia levando-a à boca cismou com os caroços de
feijão no doce. Cientificou-se bem:
– Mas menino, que cabra sem vergonha, fio dum mil e seiscentos
diachos!, bradou.
– O que foi José?, indagou Ana Maria, apavorada.
– Isto é arrumação de Tomás Maurício, eu pensava que era doce e o
condenado era só bosta, respondeu.
Pegou o caixote, atirou-o no
terreiro. Ouviram-se os estalos dos porcos que saboreavam a deliciosa fruta.
– No dia em que eu me encontrar com Tomás eu mato ele, prometeu Zé
Gregório.
A notícia do doce correu célere.
Todos da redondeza tomaram conhecimento desta presepada. A gozação foi geral!
Na sexta-feira seguinte, quando
vinham para a cidade, os dois voltaram a se encontrar quase no mesmo local onde
o doce fora deixado, na bifurcação da estada. Tomás Maurício vendo o seu compadre
foi logo se derretendo em gargalhadas. Tinha uma gaitada puxada. Zé Gregório
não perdeu tempo. Partiu com um facão para cima de Tomás. Este procurou se
safar. O jeito que teve foi se espreguiçar o seu cavalo.
O pobre brejeiro se tornou um homem enfezado para o resto da vida!
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