DIÁRIO
[A Fábrica de Laticínios e o Centro
Cultural de Campinas]
Elmar Carvalho
Confesso que, às vezes, sou mesmo meio hiperativo e, outras
vezes, sou hiperativo e meio. Hoje foi um dos dias em que amanheci muito
entusiasmado e ativo, e com a pá um tanto virada. De modo que acordei cedo, e
já a partir das cinco horas comecei a escrever a crônica, que abaixo se vê.
Talvez o embrião dela
seja uma outra, que titulei Expedição ao Sertão Colonial, e, agora, é o seu
estopim a forte perspectiva de restauração da Fábrica de Laticínios do
Engenheiro Sampaio, com a subsequente instalação de um Centro Cultural da Fecomércio.
O meu entusiasmo se deve à satisfação de concebê-la em meu cérebro
e de escrevê-la, bem como o fato de que tenho fortes esperanças de que essa
obra será realizada, por motivo que nela será exposto. Mas deixemos de tanta
conversa e de tanto blá-blá-blá, e passemos à transcrição da aludida crônica,
que passa a integrar este Diário.
A Fábrica de Laticínios e o Centro Cultural de Campinas
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Três meses atrás, Valdeci Cavalcante, dinâmico e
empreendedor presidente da Fecomércio/PI, através de WhatsApp e telefonemas, me
manifestou o seu interesse em restaurar a antiga Fábrica de Laticínios de
Campos, hoje Campinas do Piauí, para nela instaurar um Centro Cultural, que
prestaria relevantes serviços àquela região.
A fábrica de laticínios, sobre a qual prestarei breves
informações mais adiante, foi fundada e instalada no final do século XIX, pelo
engenheiro Antônio José de Sampaio, nascido na Fazenda Ininga, em José de Freitas.
Por motivos diversos, o empreendimento funcionou apenas durante poucos anos,
vindo a falir.
Posteriormente, segundo informação que me foi repassada por
Carlos Rubem, a fábrica e as terras teriam sido arrendadas pelo coronel Ângelo
Acelino de Miranda, oriundo da região de São Raimundo Nonato, que administrou
esse empreendimento entre os anos de 1917 e 1922, período em que a fábrica
ainda teria funcionado.
O interventor federal Landri Sales Gonçalves, homem probo,
exemplo de administrador público, operoso e dedicado, voltou a reativar essa
indústria de laticínios, que se manteve em funcionamento, nessa terceira fase,
também por um curto período. A seguir, o imponente prédio serviu para que nele funcionassem
uma escola e serviço da Prefeitura Municipal.
Não sei se foram feitas algumas adaptações internas. Se
foram, não percebi. Sei que quase todas as peças do maquinário, sobretudo as
mais nobres, foram surrupiadas por diferentes administradores das antigas
fazendas nacionais. O que importa dizer agora é que esse lindo e suntuoso
prédio hoje se encontra inservível, sem
nenhum uso, em completo abandono, sujo, e em estado de ruínas.
Após sua correta restauração, nos moldes exigidos pelo IPHAN,
já que se trata de um edifício tombado, o Dr. Valdeci Cavalcante, através do
Sistema Fecomércio/SESC/SENAC, nele pretende instalar, como disse acima, um
Centro Cultural, no qual poderão ser criados vários espaços. O maior, poderia
ser um pequeno cineteatro e/ou auditório; nos demais, após estudos e
adaptações, poderão ser instalados um museu/memorial da própria fábrica, uma
biblioteca e salas para cursos e oficinas, etc.
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Para atender o presidente Valdeci, que me solicitara
informações, recorri ao Carlos Rubem, que durante muitos anos, como cidadão e
na qualidade de Promotor de Justiça, defendeu a restauração desse prédio, como
uma espécie de novo Dom Quixote e profeta, a clamar no deserto da indiferença
quase geral das chamadas autoridades competentes. O Carlos Rubem, com presteza
e solicitude, me repassou as informações que tinha e outras que conseguiu instigado
por mim. Incontinenti, as repassei ao solicitante.
Nesse ínterim veio o período eleitoral, que se somou às
dificuldades causadas pela pandemia. As informações colhidas e sabidas pelo
Carlos Rubem, que foi representante do Ministério Público na Comarca de
Campinas, diziam que o imóvel, no qual se encontrava o prédio da antiga fábrica
de laticínios, pertencia ao município de Campinas, por doação do Estado do
Piauí.
Para que a Fecomércio possa fazer a restauração do prédio,
com a subsequente criação e instalação do Centro Cultural, é necessário que o
município lhe faça a cessão do direito real de uso.
Na segunda-feira, dia 16, o Valdeci Cavalcante, após
conversar com o Dr. Felipe Mendes, ex-deputado federal e ex-vice-governador do
Piauí (fora outros luminosos títulos que possui), sobre um outro assunto, lhe
pediu o ajudasse a conseguir a cessão acima referida.
Felipe Mendes, meu confrade e do Valdeci na Academia
Piauiense de Letras, lhe explicou que o prefeito eleito de Campinas, o médico
Jomario Ferreira dos Santos, genro do ex-prefeito Alencar Moura,
pessoa de sua amizade, era amigo de um seu sobrinho, residente em Simplício
Mendes.
Dinâmico, interessado e experiente, fez de imediato os
contatos necessários, e já na sexta-feira, cedo da manhã, em minha companhia,
partiu para cumprir essa importante missão, no interesse da cultura e da
promoção social e educativa da região de Campinas. Para encurtar a história, em
Oeiras já nos aguardava o Carlos Rubem, que formaria conosco os três mosqueteiros
dessa importante missão, uma espécie de embaixada do Sistema Fecomércio e de
seu presidente, Valdeci Cavalcante, que conhece esse prédio desde a sua
juventude, ainda nos idos de 1978.
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A viagem não teve nenhum acidente e nenhum incidente digno de
registro, a não ser duas ou três paradas previstas na logística, para merenda
dos tripulantes e abastecimento do carro, de modo que um pouco antes de uma da
tarde chegamos a Campinas. Fomos acolhidos pelo prefeito eleito Dr. Jomario e
sua esposa Andrea Moura, pelo ex-prefeito Avelar Moura, pela vice-prefeita eleita
Ana Maria, pelo vereador Ruy Costa, pelo professor Maivan Ibiapina e por Neta
Gonçalves.
Apesar de certo cansaço e início de fome, fizemos questão de
ver logo a sede do antigo laticínio e o seu entorno. O Dr. Felipe Mendes, que
havia conversado dias antes com o diretor do IPHAN, logo reparou que uma
construção e um “puxadinho” ficavam muito perto do prédio, o que lhe
prejudicaria a visibilidade e mesmo as obras de construção de muro, estacionamento
(se for o caso) e de restauração, bem como a visibilidade do edifício.
De imediato constatamos que o monumento da arquitetura
piauiense se encontra excessivamente deteriorado, podendo ser tido como estando
em estado de ruína. Mesmo assim, a gente pode sentir a imponência da obra de
engenharia de Alfredo Modrach, a excelência dos tijolos e das telhas, dos
detalhes e ornatos no contorno das portas, dos beirais, da fachada e da
chaminé; esta foi feita com todo esmero, quase como se fora uma escultura
moderna, devendo por isso mesmo ser preservada a qualquer custo. Ervas daninhas
e mesmo arbustos já infestam a edificação e o seu entorno.
Em seguida, o nosso comandante Felipe Mendes tratou de expor
ao prefeito eleito as exigências do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional e a necessidade de que o imóvel seja desmembrado e individualizado
no registro cartorário, para que a cessão do direito real de uso possa ser
feita de forma adequada. Eu e o Carlos Rubem coadjuvamos nessas tratativas,
adicionando uma ou outra explicação.
O que importa acrescentar é que o prefeito eleito ficou entusiasmado,
e se comprometeu a adotar as providências necessárias tão logo tome posse de
seu cargo. Em seguida, fomos nos refestelar e nos deliciar com um farto e
variado almoço, na verdade um verdadeiro banquete, a que se seguiu uma não
menos deliciosa sobremesa.
A missão foi documentada por algumas fotos, nas quais se
percebe o estado de deterioração do imóvel a ser restaurado. Para dar um tom
solene à missão e embaixada, após o almoço, discursamos o Dr. Felipe Mendes, o
Dr. Carlos Rubem, este escriba, que fui proclamado escrivão da viagem
missionária e diria cívica, já que os três mosqueteiros agimos por devoção e
vocação, e o médico Jomario, prefeito eleito.
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Felipe Mendes, com a sua larga experiência de professor do
Curso de Economia na UFPI, de secretário de estado da
Fazenda e do Planejamento, além de deputado federal e vice-governador, fez uma
rápida explanação das exigências do IPHAN, com relação ao entorno do prédio, da
necessidade de requalificação e ressignificação da praça situada em frente,
adaptando-a para as atividades do futuro Centro Cultural e da importância
social e turística que ele terá, fazendo uma integração entre os dois espaços
de beleza e fruição social. Enfim, além de explicações administrativas e
técnicas, enfatizou a importância social e cultural da restauração do imóvel e
de sua destinação a Centro Cultural da Fecomércio.
O Dr. Carlos Rubem, que foi Promotor de Justiça em Campinas
do Piauí, discursou de modo lírico e telúrico, ressaltando as suas ligações
sentimentais, afetivas e atávicas com a comunidade local. Falou, com
simplicidade e verdade, de suas lutas antigas, de algumas décadas, desde o
início de sua atuação no Ministério Público, quando empreendeu campanhas pela
conservação e restauração da vetusta sede da fábrica, bem como pela divulgação
de sua importância histórica e arquitetônica. Eu mesmo posso dar o meu
testemunho de que ele muito se empenhou para que esse prédio se mantivesse de
pé, como ainda se encontra, a despeito de toda desídia e descaso do Poder
Público, embora um tanto trôpego, cheio de estrias e achaques, e algo capenga.
E esse trabalho rendeu os frutos que agora começa a render.
Em minha fala, ressaltei que o magnífico prédio da vetusta
Fábrica de Laticínios do engenheiro Antônio José de Sampaio, há muitos anos de
fogo morto, e hoje quase transformado em escombros, era um símbolo da história
do Piauí, porque o seu imóvel e o seu gado remontavam aos tempos coloniais da
Casa da Torre da Bahia, depois aos Jesuítas, tendo posteriormente passado a
integrar as fazendas reais e em seguida as nacionais, com o advento da
República, para, enfim, passar ao domínio estadual, e recentemente se tornarem
do município; já então não havia gado e as peças valiosas do maquinário haviam
sido desviadas, para não usar um outro vocábulo.
Disse que era uma obra arquitetônica de portentosa beleza,
construída com esmero, com fino acabamento e detalhes ornamentais, e que por
essa razão era uma obra de arte em si mesma, podendo ser considerada um dos
mais notáveis marcos da arquitetura piauiense. E que, por haver abrigado uma
fábrica montada com os mais modernos maquinários e equipamentos da época,
trazidos da Europa, através do oceano e do rio Parnaíba até a cidade de
Floriano, é também um símbolo da industrialização piauiense.
Acrescentei que só o transporte dessas pesadas peças e
equipamentos, através de estradas e
picadas em terra nua, em carros de bois ou em lombos de animais, de Floriano
para Campinas, fora uma verdadeira epopeia, que daria um filme épico. Finalizando,
disse que tinha muita confiança de que a obra de restauração seria realizada,
porque o Dr. Valdeci Cavalcante tem o hábito de cumprir as suas promessas. E
citei algumas de suas obras mais notáveis e recentes.
Coroando a parte solene, falou o prefeito eleito, Dr. Jomario Ferreira dos Santos, reiterando o seu desejo em fazer a cessão do direito real de uso do imóvel em favor da Fecomércio, e que fará todo o possível para que as exigências do IPHAN sejam atendidas, e, assim, essa importante obra possa ser realizada da melhor forma possível.
Notícias como essa alegram meu coração e aumentam minhas esperanças para a manutenção das riquezas históricas piauienses, por meio desses paladinos que se entregam incansáveis na defesa do patrimônio do popular. O Eng° Sampaio é meu conterrâneo e o tenho no mais elevado patamar.
ResponderExcluirSendo o comentário positivo, o amigo poderia nos informar seu nome?
ExcluirTemos, também, de aplaudir o tino preendedor de Dr. Valdecir,como assim, o espírito nobilíssimo do Poeta Elmar, que como homem de cultura refinada, projeção intelectual, faz valer o seu poder de convencimento, iluminado pelo traquejo e sapiência de Juiz bem conceituada. Dessa maneira, unindo homens de envergadura, o Piauí eleva-se em cultura, os cidadãos em destaque Brasil a fora.
ResponderExcluirAplausos
Wilton Porto
Pena que não possamos reestruturar nosso imenso patrimônio piauiense em espaços que promoveram nossa história. Sempre me vejo contemplando nossos casarões em Parnaíba em ruínas e a cada dia, mais descaso. Estou decepcionada com a falta de apoio de nossos conterrâneos. Um nome importante e histórico "CAMPAL" Cooperativa Artesanal Mista de Parnaíba. Primeira cooperativa do Piauí-1968. Com sua sede tombada pelo IPHAN em 2008, necessitando de apoio para dar continuidade à geração de renda a vários grupos de ARTESANATO. Atividade que se estende desde o Buriti dos Lopes, Luís Correia, Coqueiro da Praia, Parnaíba até a Pedra do Sal.
ResponderExcluirInfelizmente por motivos diversos, particulares, ONGs,órgãos públicos e até mesmo entidades religiosas deixam que antigos e importantes prédios, de notório valor arquitetônico e histórico, entrem em estado de ruínas.
ExcluirParabéns aos três mosqueteiros pela exitosa missão. Não temos dúvidas de que a restauração do prédio da antiga fábrica de lacticínios em Campinas do Piauí e transformado em um Centro Cultural, assim como foi
ResponderExcluirfeito em Parnaíba no antigo prédio da União
Caixeiral, muitos benefícios trarão para a cultura e desenvolvimento da região e do estado.
O dinâmico empreendedor Valdeci Cavalcante é abnegado pela cultura e em promover coisas boas para o Piauí. Recentemente trouxe para Parnaíba vagões e a locomotiva para fazer o percurso Parnaíba/Luis Correia, e implantou, em um dos vagões uma Biblioteca Infantil dando-lhe o nome da poeta e escritora Dilma Pontes. A Biblioteca localiza-se na Praça Mandu Ladino também conhecida como Praça do Quadrilhodomo.
Como membro da Academia Parnaibana de Letras, do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Parnaíba e ainda como jornalista, louvo e apoio todas essas iniciativas do empresário Valdeci Cavalcante assim como parabenizo a todos quantos se engajam e se empenham para o êxito e sucesso das mesmas.
Amigo Elmar,
ResponderExcluirParabéns a você e demais envolvidos nesta empreitada. Faço votos para que tenhamos em breve a inaugração do Centro Cultural.
Cordialmente,
Ben-Hur
Tudo indica que tudo vai dar certo.
ExcluirTriste ver prédios em outras épocas imponentes e hoje em completo abandono e ruínas. Vide os casarões de Parnaiba, próximo ao Porto das Barcas e os do Centro de Teresina, que se já não tinha tantos, hoje dão espaço a estacionamentos de veículos. Falta uma iniciativa do Poder Público para a restauração e revitalização de tais imóveis, só ele que tem esse poder para corrigir tal erro, através claro, do setor competente.
ResponderExcluirAmigo elmar,
ResponderExcluirUm sentimento vale mais que mil palavras: Estou feliz ao ler esse depoimento.
Parabéns a todos que trabalharam nessa empreitada.
Um grande abraço
Tenho fundadas razões para acreditar que vai dar certo.
ResponderExcluirHaveremos de nos encontrar lá, na inauguração.