Dia langoroso
Carlos Rubem
Neste Dia de Finados (2020), manhã nublada, tempo ameno, estive, como de costume, no Cemitério Municipal (1938) contíguo ao Cemitério do Santíssimo Sacramento (1869), em Oeiras, para prestar referência à memória dos meus entes queridos, familiares ou não.
Antigamente, as pessoas tidas como gradas da cidade eram sepultadas no interior da Igreja de N. Sra. da Vitória, a exemplo do jornalista Tibério César Burlamaqui, o Cego, proprietário do periódico “Eco Liberal”, que muito se insurgiu contra a mudança da Capital de Oeiras para Teresina (1852).
Também havia o Cemitério de São Benedito. Nele eram enterrados somente negros. Aqui, estratificação social era bem delineada. Nos anos quarenta do século passado, período da getulina ditadura, o prefeito da época, Coronel Orlando Carvalho, achou por constituir em seu lugar o Matadouro Público. Neste prédio funciona, hoje, a Secretaria Municipal de Saúde.
Desnecessário dizer que aqueles equipamentos necessitam de uma urgente e séria intervenção por parte da gestão municipal. A última que houve para valer foi em 1971, na administração do prefeito Juarez Tapety.
Não depositei flores nem acendi velas nas catacumbas. Apenas fotografei muitas delas. A cada inscrição lida em suas respectivas lápides, fui tomado de saudades e reflexões.
Ao me deparar como o túmulo do Professor Possidônio Queiroz fiquei bastante enternecido. Lembrei-me de sua figura mansa, dadivosa. Pessoa sempre disposta a servir, distribuir saberes, indistintamente.
Ao pé de sua cova, lembrei-me do folclórico Joaquim Caboclo. Um doido engraçado. Dizia-se beato, homem de muitos estudos, que havia se encontrado com Cristo. Usava roupa militarizada, espada de plástico, cabelo rastafari. Pintura do diabo!
Certa feita, desafiou o Bruxo Velho de Oeiras:— Compadre Possidônio, qual é o maior pau do mundo?
Muito jeitoso, fazendo arrodeio, o Professor passou a falar das grandes florestas mundiais. Discorreu sobre a araucária e outras gigantes árvores.
— O maior pau do mundo, Possidônio, é o capitão de campo que já nasce com a patente, negro besta, atalhou.
Nesta efeméride fico sempre langoroso...
Nenhum comentário:
Postar um comentário