terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Barras em memórias e recortes

Barras, antes da demolição da velha igreja   Fonte:Google/IBGE

Fonte: Google/Coalize


DIÁRIO

[Barras em memórias e recortes] 

Elmar Carvalho

19/01/2021

Mandei o link do registro deste Diário de ontem, titulado Barras de minha adolescência, a vários de meus contatos. Muitos amigos agradeceram o envio da crônica, e fizeram breves comentários. Entre  eles escolhi alguns, que traziam mais informações e reminiscências ou faziam uma espécie de análise literária, para engendrar este texto coletivo, que poderia chamar de colcha de belos e finos retalhos estampados e de boa tessitura em fios de ouro, produzidos por amigos e parentes.

Cedo da manhã, por WhatsApp, o Chico Acoram Araújo, escritor e cordelista, me mandou o seguinte comentário, que também publicou em meu blog:

“Li seu magistral texto com o título "Barras de minha adolescência". Li-o de forma efusiva, cheio de emoção, e de um só fôlego. De todos os textos que li sobre Barras do Marataoan, esse é o que me deixou mais emocionado sem desmerecer o que descreveram Leônidas Melo no seu livro "Trechos do meu caminho", Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro com o livro “Rua da Glória” e o do ilustre escritor Antenor Rego no "Barras Histórias e Saudades". Meus parabéns, Dr. Elmar. E muito obrigado por permitir que esse excelente texto faça parte integrante do meu livro "O menino, o rio e a cidade", ora em editoração.”

O romancista e historiador Anfrísio Neto Lobão Castello Branco, cujo livro Abelheiras – trezentos anos de história, recheado de informações históricas e memórias da crônica familiar, li recentemente com muito prazer, teceu as seguintes considerações:

“Conheço Barras de passagem e de poucas demoras. Visitas ao Hospital Leônidas Melo e à casa do amigo, colega médico Dr. José do Rêgo Lages – de  saudosa memória – seu diretor nos anos 80. Agora com essa crônica repleta de nostalgia, me acerquei melhor, de mais perto, com riqueza de detalhes, nuances, que só quem viveu pode contar. Personagens e logradouros. Barras do Marataoã, o rio e suas curvas, os banhos, e a Ilha dos Amores a invocar fantasias. Gostei muito. Parabéns.”

O professor Antônio Gallas Pimentel, jornalista, escritor e poeta, meu amigo desde que fui morar em Parnaíba em 1975, pelo mesmo sistema de comunicação, me enviou o comentário, que ele pretendia publicar em seu blog, antes de eu lhe avisar que o agasalharia neste Diário, através dos alinhavos e costuras, que venho “entretecendo”:

“Rememorar os momentos ímpares da infância, da juventude, passados com bons e verdadeiros amigos, pessoas especiais, é como fazer uma viagem de volta ao passado em busca das agradáveis lembranças de uma época boa e que nos deixou muita saudade.

            Assim fez o escritor e poeta Elmar Carvalho. Embarcou de volta à imponente e aprazível Barras, não no “horário” mas no tempo, e desembarcou na rodoviária de sua memória para reviver emoções vivenciadas na juventude, principalmente as dos banhos de rio na chamada “Ilha dos Amores”.

            Elmar Carvalho é um poeta nato! Assim sendo, mesmo na prosa, não deixa de exaltar a poesia, peculiar na sua veia poética, como por exemplo quando refere-se às meninas que iam ao banho de rio diz: “De dentro d’água, eu lhes via os olhos, risonhos, cintilantes, a refletirem a luminosidade das ondulações do Marataoã...” Ou quando referindo-se à própria cidade:  “Ó Barras de minha adolescência, de meus devaneios, divagações, de minhas ingênuas ilusões, de minha saudade e da saudade de meu pai, dos meus ancestrais, de tudo que já tive e que não tenho mais...”

            Em “Barras da Minha Adolescência” Elmar descreve pessoas, as belezas da cidade, o zelo que tinham com as árvores, a limpeza, enfim buscou na memória todos os fascínios que a cidade também conhecida por “a terra dos governadores” oferecia e ainda oferece a quem quer que a visite. Belo texto poeta! Parabéns.”

Meu filho João Miguel, residente no Amazonas, e minha irmã Joserita, no Rio de Janeiro, como bons filho e irmã corujas, me enviaram amáveis bilhetes eletrônicos. Publicarei apenas o da Joserita, por ser o menor: “Lindo texto, padrinho Elmar! Tu consegues levar a gente junto contigo nas tuas recordações... E tu  consegues fazer com que a gente consiga  visualizar todas as paisagens descritas por ti!”

Não bastassem todas as palavras amáveis ditas acima sobre a minha crônica, o bardo Wilton Porto, poeta de muitos méritos e largos recursos, radicado em Parnaíba há várias décadas, meu amigo desde o final da década de 1970, para consumar tudo de uma vez, resolveu desfechar o certeiro tiro de misericórdia bem no meio do  coração deste velho poeta:

“Que maravilha! Não bastam as lembranças, mas o fluir magnânimo do que deixou, para escapar de dedos tão elevados em enlevo poético. Do começo ao fim, o poetismo  se altiva, porque a mão que lapidou tal texto, é de um vate de recursos indomáveis – o que tem feito entre os maiores da nossa tão valorosa pátria de tesouros e intelectuais que se derramam em sapiência constante.”

Confesso que estranhei o silêncio do professor Dílson Lages Monteiro, que, através de sugestões, em diferentes momentos, e inclusive por ocasião de sua recente live sobre Barras, que tive a honra de assistir, em que foi lido o meu poema Barras das sete barras, foi o estopim para que eu escrevesse minha crônica memorialística. Estranhei porque quando, no domingo, lhe noticiei haver escrito a crônica, cujos temas sugerira, ele me disse estar ansioso para lê-la. Achei que ele deveria estar em sua fazenda barrense ou assoberbado de trabalho, em suas funções magisteriais; a segunda hipótese é que era a verdadeira, conforme ele me disse, ao enviar o seguinte texto, que muito me comoveu e enriqueceu minhas memórias da velha Barras, de muita história e tradições:

“Quanta alegria, prezado confrade e parente Elmar! Essa sua crônica é antológica; construída em várias instâncias enunciativas a provocar, por isso, sentimentos e efeitos de sentido diversificados no leitor. Nela, aliam-se saudosismo, euforia, ternura e a revisitação da juventude, um tipo de memória que sempre preciosa a todos, porque fase das descobertas inesperadas da vida; fase em que tudo é novo. 

A região de Luís de Sousa/Ameixas integrava, parte dela, famosa fazenda centenária (com muitos registros) dessa família comum de Barras que é Carvalho-Castello Branco, de cujo nome não me lembro no momento. Também era lugar de fazenda do irmão mais velho do marechal Firmino Pires Ferreira, cuja sede da fazenda não há registros. Talvez mais uma dessas fazendas de estrutura rústica.  Luiz de Sousa Fortes exercera política em União, em ala contrária à família Barboza Ferreira (Rego-Castello Branco do Peixe) de quem era parente próximo.

Essa região (parte da Puba; diga-se Barras se divide entre região da Puba e Zona da Mata, (sendo a rua São José o marco divisório) sempre encantou com seus veios d’água que deságuam tanto no Marataoã (via riacho Santo Antônio) quanto no Longá, que não ficava distante da propriedade de seu avô.

Salomão e Domingos Furtado, suponho com certa confiança, eram parentes de vosso pai  não somente pelos Furtado, mas também pelos Castello Branco, porém não consegui descrever toda a teia. Foram figuras de grande respeitabilidade em Barras pelo trabalho, inteligência, lisura e amabilidade.

Faço uma pequena digressão para relatar que ambos eram muito estimados  de meus pais, sendo senhor Salomão quem  acompanhou meu pai até meu avô materno quando decidiu pedir minha mãe em casamento num tempo em que ainda era comum filhas contraírem matrimônio com parentes, especialmente primos. Antevendo-se o possível casório, o velho já tinha levantado a história e sabia de cor e salteado a origem do moço. Era um forasteiro o pretendente – e as posses, além da paixão,  eram apenas a disposição para o trabalho e sua fazenda Canto da Onça, que deixara a encargos de terceiros no Médio Parnaíba – mas consentiu, sobretudo,  porque tinha a influência de Salomão de quem era muito amigo e vizinho da casa na cidade de Barras. Foi genro que lhe deu muito contentamento e a quem passou a destinar tratamento de um filho.

Esta sua crônica é um painel vivo dos costumes de um tempo. Ainda vivi o rio com essa simbologia tão bem decantada neste texto de grande expressão lírica, um rio bem diferente do de hoje, quando o Marataoã  é poluição e, principalmente, quase reduzido a ornamento da paisagem. Torço que algum agente público volte seus olhos para o valor do Marataoã na vida de Barras e promova políticas públicas que o revigorem  em todos os sentidos. Viva a memória viva!”

Todos esses comentários me emocionaram e desvaneceram, principalmente porque não os pedi e nem ao menos os insinuei, e serviram para aumentar e avivar as lembranças que tenho da velha e mítica Barras do Marataoã, que chamo de não apenas “terra dos governadores”, mas também de marechais, poetas e intelectuais.

Digo agora para todos os analistas e comentaristas, fazendo as devidas adaptações, o que havia dito para o médico e escritor Anfrísio: “Há certas coisas e fatos que só quem os viveu poderia contar. Contudo, em texto literário, sobretudo de ficção (o que não é o caso), sempre podemos fantasiar alguma coisa. Seus comentários foram um ovo só gema. E gema de ouro, cravejada de diamantes.”   

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