quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Professor Gallas, entre a verdade e a ficção

Dilma Pontes, José Luiz de Carvalho, Gallas e Alcenor Candeira Filho



DIÁRIO

[Professor Gallas, entre a verdade e a ficção]

Elmar Carvalho 

21/01/2021

Ontem à tarde o escritor e jornalista Zózimo Tavares, presidente da Academia Piauiense de Letras, autor de importantes obras que enriquecem a nossa literatura, me ligou para tratar de um assunto ligado à Academia Piauiense de Letras.

Depois, conversamos sobre outros assuntos afins, em cujo ensejo ele me falou de uma frase de efeito dita pelo escritor e jornalista Gabriel Garcia Márquez sobre a verdade no jornalismo e na ficção. Não pude deixar de lembrar da epígrafe do magnífico escritor português Eça de Queiroz, posta em seu romance A relíquia: "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia".  

À noite, o também escritor e jornalista Antonio Gallas Pimentel me cobrou, por WhatsApp, um comentário, que me havia solicitado dias atrás, para seu livro Reminiscências (contos, causos, crônicas e poesias), que já se encontra na gráfica, em fase de formatação. Respondi-lhe que o faria hoje cedo, o que de fato fiz, e já lhe enviei. Após a conversa whatsappiana, comecei a ruminar algumas ideias para a resenha, que teria como mote a citação referida pelo Zózimo.

Como não sabia na íntegra a bela frase de Garcia Márquez, e não a consegui em pesquisa na internet, resolvi lhe fazer uma paráfrase, com que iniciei o meu sintético comentário sobre a contística do professor Gallas. Abaixo segue a resenha:

“Mais ou menos parafraseando o escritor e jornalista Gabriel Garcia Márquez, diria que um ficcionista, se tiver talento, poderá transformar um fato verdadeiro ou real em um bom conto ou romance, modificando-o, exagerando-o, enfeitando-o, enquanto um jornalista, se deturpar a verdade, poderá para sempre perder a sua reputação e credibilidade.

Antonio Gallas Pimentel é jornalista e contista. Como jornalista nunca falseou a verdade, relatando-a em sua inteireza; por isso, manteve sua reputação, a sua autoridade e credibilidade. Como escritor, tem contado estórias interessantes, atraentes, inusitadas, e muitas vezes jocosas, engraçadas, que nos fazem soltar boas gargalhadas.

O protagonista, em muitas delas, é o seu “seu sobrinho Prodamor”; mas acredito que, em várias, é o próprio autor travestido de Prodamor. Alguns desses relatos, em menor ocorrência, são contos dramáticos, e outros chegam a nos revelar verdadeiras tragédias, em que a miséria humana reponta em toda a sua crueza. Contudo, em sua maioria, essas narrativas são “causos”, que nos encantam em sua singeleza e peculiaridade, pelo seu humor singular e inesperado.

Seja como escritor ou como jornalista, o professor Gallas primou sempre por uma linguagem objetiva, concisa, escorreita, como, aliás, preconizam os melhores manuais de redação. Nunca gostou de frases quilométricas, cheias de atavios e de “cipós retorcidos e floreados”, como pretensos estilistas gostam e propalam.

Preferiu seguir a praxe do bom jornalismo, com o uso de frases curtas, diretas e claras. Em determinada época, quando a Rádio Educadora era a única emissora de comunicação no norte do Piauí, suas crônicas eram lidas pelas belas e vibrantes vozes de Gilvan Barbosa e Reginaldo Mendes, que marcaram época na radiodifusão parnaibana. Essa praxe, ainda mais aprimorada, ele levou para a sua ficção. E fez muito bem.”   

3 comentários:

  1. Agradeço ao ilustre e poeta e amigo as considerações feitas à minha pessoa e aos meus escritos. Num momento conturbado pelo qual o mundo se encontra, propagar o riso é como propagar a paz e o amor. Como disse São Francisco de Assis "onde houver tristeza que eu leve a alegria". Obrigado poeta, suas palavras trouxe-me alegria e encheu-me de felicidades neste dia de hoje, 21 de janeiro de 2021.

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  2. Não há necessidade de agradecer. Você merece o que disse. Você tem uma longa história nas letras e no jornalismo.

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  3. Antigamente era o velho dicionário Aurelio, o pai dos burros, e hoje, não tão hoje assim, já ta indo para os seus 20 anos, o pai dos burros é o site Google. Nesse refúgio dos ignorantes, uns mais, outros menos, vi muitas reportagens e comentários sobre o Nobel Gabriel Garcia Marquez e sua relação entre o jornalismo e a ficção. Alguns falaram que suas reportagens tinham muitas pitadas ficcionais, o próprio Garcia enalteceu a sua profissão de Jornalista, agirmando como o melhor ofício do mundo. Não vi nenhuma frase cunhada por ele sobre a verdade especificamente, mas vi uma referenciada a ele que fala da relação entre a realidade e a ficção; disse ele: se num texto de ficção for acrescentado um dado da realidade, o leitor poderá sair convencido que aquilo é verdade. Agora se numa literatura de não ficção (creio que o jornalismo) tiver um dado falso, toda a verdade estará arruinada. Uma outra vez Garcia também disse: "se eu falar que tem elefantes voando ninguém acreditará, mas se eu falar que tem 100 elefantes voando já passarão a acreditar. Essa frase fala sobre a importância da discriminação minuciosa, dos detalhes. Eu particularmente nunca gostei dos filmes "mentirosos", sabemos é claro, que todo filme é uma ficção, mas pessoalmente gosto mais daqueles mais próximos da realidade, mais humano. Aqueles filmes com muitos personagens cheio de poderes, filmes com muitos efeitos especiais e CGI não me interessaram tanto.

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