sábado, 6 de março de 2021

FRANCISCO DA SILVA CARDOSO, um homem feliz e completo


Francisco da Silva Cardoso

FRANCISCO DA SILVA CARDOSO, um homem feliz e completo


José Ataide Tôrres Costa Filho

Cronista, biógrafo e memorialista

  

Francisco da Silva Cardoso é o quinto filho do casal Enos da Silva Cardoso, funcionário da Diretoria Geral dos Correios, e Izabel Furtado de Moraes Cardoso, “Dona Belinha”, nascido no dia 12 de março de 1936, na antiga Rua do Caquengue, atual Rua General Taumaturgo de Azevedo na cidade de Barras-Piauí.

Pouco depois de completar seis anos perdeu sua mãe e, apesar da falta do carinho materno, foi consolado e confortado pelos cuidados recebidos de sua avó Raimunda Fontenele Furtado, e sua irmã mais velha, Maria da Conceição de Moraes Cardoso, a quem chamava de “Madrinha”. Francisco da Silva Cardoso, Chico, ou Chico Cardoso, foi uma criança como as demais que gostava muito de brincar, entretanto já era possível se observar que era um garoto muito responsável e dedicado aos estudos.

 

Os pais de Francisco da Silva Cardoso


Chico, além dessas qualidades de garoto também era muito espirituoso, saindo às vezes com dizeres bastante engraçados. Certa feita estava junto com sua família, pai, irmãos, avó e outros, iam fazer a visita à sepultura de sua mãe, por ocasião do sétimo dia do falecimento, passavam por uma “quinta” quando avistou uma goiabeira carregada de belos e apetitosos frutos. De repente quando todos estavam contritos, tristes, ainda abalados com o falecimento de Dona Belinha, o fúnebre silêncio daquele momento foi quebrado por uma fala de Chico, olhando para os frutos da goiabeira: - “Oh diacho! Se não fosse o sétimo dia da morte de minha mãe eu ia te passar na mestra presa”.

Chico inicia seus estudos no Grupo Escolar Matias Olímpio, e recebia reforço das atividades escolares com Dona Otildes Rego. Por isso mesmo e por sua dedicação e esforço pessoal sempre se manteve entre os melhores alunos de sua turma.

Apesar das dificuldades impostas pela vida, com a perda da mãe, condição financeira de seu pai, que não era das melhores (e, para completar, seu pai se juntara com outra mulher), aumentando ainda mais as despesas da família, Chico pôde ter uma infância dentro da normalidade como as demais crianças. Participava de brincadeiras diversas e normais para aquela ocasião, e estudava com responsabilidade e dedicação. 

Dez meses depois do falecimento de sua mãe, morreu também sua avó Raimunda, mais uma grande perda para o garoto. Com mais este trágico acontecimento sua família passou a sentir-se isolada na cidade, pois lhes faltavam a presença de parentes mais próximos que pudessem socorrê-los num momento de dificuldade, além da necessidade de um meio melhor para o estudo de todos. Em conversa com seu pai, sua irmã Maria, sugeriu a mudança da família para Campo Maior, pois lá além de parentes próximos havia também melhores condições de ensino para seus irmãos.

Após conseguir a transferência com a ajuda de um primo que trabalhava na sede dos Correios, em Teresina, a família preparou a mudança e num certo dia do final do mês de junho de 1947, nas primeiras horas do alvorecer, mas ainda escuro, começou a saga da mudança da família de Enos Cardoso para Campo Maior. Os poucos móveis e demais pertences da família foram acomodados em caminhão para que fossem levados até a nova moradia. Chico preferiu viajar na carroceria para melhor cuidar de seu amigo inseparável, o carneiro “Boneco”.

Por volta das 7:00 da manhã, o caminhão com a mudança da família de Enos Cardoso, estacionou na porta da nova morada, uma casa situada na Rua Cel. Antônio Maria, nº 19, bem próximo à casa de seu cunhado, Cel. Miguel Furtado. Ao desembarcar com seu carneiro Boneco, Chico, que de agora por diante iremos nos referir a ele como: “Chico Cardoso”, foi recebido por um garoto até então pra ele desconhecido, Edson de Melo Lopes, “Edinho”, que viria se tornar seu melhor amigo, amizade que se manteve fiel por toda vida. O novo amigo de Chico Cardoso desde o primeiro momento se mostrou muito solicito e amigável, auxiliando e viabilizando a acomodação e ambientação do recém-chegado.

Já na adolescência e juventude a amizade de Chico Cardoso e Edinho se mantinha cada vez mais firme, era como dizia o Sr. Antônio Músico, então delegado da cidade, “eram dois corpo numa só alma”, querendo com essa expressão caracterizar e exaltar a amizade dos dois jovens, realmente uma sólida e sadia relação de cumplicidade e afeto.

 Ao chegarem a Campo Maior os filhos do Sr. Enos Cardoso foram logo matriculados em escolas da cidade, a fim de não terem prejuízo na continuidade dos estudos. Chico Cardoso, foi matriculado no Grupo Escolar Valdivino Tito, onde concluiu o Curso Primário. Logo após concluir o Primário, tomou conhecimento por parte do colega Ferdinand Portela Andrade que ia ser aberta a inscrição para o “Exame de Admissão” do Ginásio Santo Antônio. Falou com seu pai pedindo ajuda para fazer o Exame, o que foi concedido.

Feliz com o que estava acontecendo, entretanto ciente das dificuldades que teria que enfrentar, Chico Cardoso encarou a missão com responsabilidade e dedicação, fazendo um planejamento de seu estudo e preparação para bem fazer o Exame de Admissão. Inicialmente verificou que se estudasse na parte da manhã teria maior proveito, principalmente se começasse ainda na madrugada, pois nessa hora sua mente estaria mais descansada. Preparou uma rústica luminária a querosene, “uma lamparina”, arregaçou as mangas e começou sua preparação, deixando de lado as brincadeiras e diversões.

Após árdua maratona de preparação fez o Exame de Admissão, tranquilo e confiante, haja vista que havia se preparado com responsabilidade e dedicação. Dias depois saiu o resultado e, ansioso foi ao Ginásio Santo Antônio para saber o resultado. Ao chegar, dirigindo-se para o Quadro de Avisos para conferir a lista de aprovados, de longe avistou o Pe. Mateus, Diretor do Ginásio, e então procurou de imediato desviar o caminho para evitar o encontro, pois Pe. Mateus era por demais temido pelos estudantes por sua austeridade. Mesmo assim ele se dirigiu ao seu encontro, interpelando-o com um abraço dizendo: “Parabéns meu filho você passou em primeiro lugar”! Radiante de alegria e emoção, relaxou e verificou que seu esforço não fora em vão.

Chico Cardoso iniciou seus estudos no Ginásio e, quando já cursava o segundo ano, recebeu o convite de sua prima, Odete Pereira e de seu esposo Olavo Pereira, para ir morar em Teresina. Falou com seu pai e aceitou o convite, instalando-se na residência de sua prima e matriculando-se no Colégio Diocesano, para continuar o Ginásio. Transferiu-se em seguida para o Colégio Demóstenes Avelino e depois para o Liceu Piauiense, onde concluiu o ginásio e posteriormente o científico. 

 

Chico Cardoso na juventude
Chico Cardoso adulto

Algum tempo depois que chegou à casa de sua prima Odete mudou-se para uma república do Centro Estudantil, onde começou dar aula para um curso preparatório para o Exame de Admissão, o que o motivou a prestar o vestibular na faculdade de Filosofia, vindo mais tarde se graduar em Geografia e História.

Na faculdade teve uma destacada vida acadêmica, militando no movimento estudantil, chegando a presidir o Diretório Acadêmico Dom Avelar Brandão Vilela.

Por volta do ano de 1965, quando da visita ao Piauí do então presidente da república, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, na qualidade de presidente do diretório acadêmico, juntamente com outros dois presidentes de diretório, foi convocado pelo governador do estado, para compor comissão para reivindicar ao presidente da república a autorização para criação e implantação da Universidade Federal do Piauí, o que veio se concretizar no dia primeiro de março de 1971.

Ainda cursando o científico e morando na república da Casa Estudantil, conseguiu seu primeiro emprego na Casa Marc Jacob SA. Anos mais tarde, quando já fazia o curso de Geografia e História, na Faculdade de Filosofia, foi convidado para emprego no Colégio Agrícola de Teresina, onde ficou até 1967 quando assumiu emprego na Companhia Hidroelétrica de Boa Esperança – COHEBE após aprovação em concurso público.

 

Chico Cardoso quando assumiu o primeiro emprego


Apesar de graduado em Geografia e História não seguiu o magistério, pois se dedicou ao seu trabalho na COHEBE, empresa, que foi depois incorporada ao sistema CHESF, onde prestou relevantes serviços, dentre eles, foi responsável pela criação e implantação do setor de compras, ficando sob sua responsabilidade por longos anos, destaque-se o fato de que a aquisição de todo o material para construção da Usina de Boa Esperança, foi adquirido sob o seu comando, inclusive as Turbinas que ainda hoje geram energia para o Brasil.

Exerceu tão importante função com muita dedicação e principalmente com honestidade e integridade. Em determinada época, quando construía sua primeira casa, ao fazer uma visita à obra, percebeu que entregaram todo o material para o banheiro, da melhor qualidade que havia na praça, porém lembrou que não havia comprado nenhum material, e indagou o pedreiro responsável pela obra, que lhe informou que tudo fora deixado por uma determinada empresa. Chico Cardoso verificou que a empresa era uma das fornecedoras da CHESF, e imediatamente retornou da obra, dirigindo-se para a sede da tal empresa, solicitando que fossem buscar tudo, pois não havia comprado nada. O gerente da empresa por sua vez disse que era um presente, ele agradeceu, mas não aceitou o presente.

 Após longos anos de trabalhos dedicados com profissionalismo, responsabilidade e honestidade, galga a tão merecida e esperada aposentadoria.

Por volta dos anos 70 Chico Cardoso era um rapaz beirando os quarenta e já bem estabelecido profissionalmente, pois tinha um bom e estável emprego, casa própria, como também já havia aproveitado bem sua juventude e passado por diversas experiências amorosas que não deram certo. Numa certa noite no final do mês de dezembro de 1973, envolto com as emoções próprias dessa época do ano, ao recolher-se para dormir, começou a refletir sobre sua vida. Percebeu que um vazio se instalara e que já estava na hora encontrar uma pessoa que pudesse preencher esse vazio, a sua “cara metade”.

Na tentativa de encontrar essa pessoa que pudesse assumir o trono de seu coração, aquela com quem poderia dividir suas conquistas, alegrias, agruras da vida, e a seu lado construir sua própria família, começou então a vasculhar a memória e fez passar em sua mente uma grande película cinematográfica onde estrelavam seus amores passados, mas também estrelas que estiveram no seu convívio em certas ocasiões.  Após esgotar uma longa lista de possíveis candidatas, sem encontrar uma que se enquadrasse dentro do perfil que havia planejado, lembrou-se de uma colega da época da faculdade, Maria de Lourdes Nogueira Brandão, “Lourdinha”. Percebendo que aquela colega, apesar de um pequeno desentendimento que tiveram, era bonita, portadora de outras qualidades e de boa família, bateu o martelo e disse: “É essa mulher que irá acalentar meu coração e juntos construiremos uma bela família”.

Decidido, não perdeu tempo: na manhã seguinte conseguiu o telefone do trabalho de Lourdinha e logo ligou pra ela, mas essa primeira tentativa não teve sucesso. No entanto, como decidido estava, provocou outros encontros, já se iniciara o ano de 1974, e com esses novos encontros conseguiu conquista-la. Foi apresentado à família da jovem e dois meses depois oficializava o noivado e como certo estava de sua escolha, no dia 26 de maio do mesmo ano casou-se com Lourdinha, realizando assim o maior sonho de sua vida, com a pessoa certa e ideal.

 

Casamento em 26 de maio de 1974


Dessa feliz união, que este ano faz 47 anos, foram gerados os filhos Aline Brandão Cardoso, Elaine Brandão Cardoso e Francisco Alexandre Brandão Cardoso, todos educados com formação superior.

Hoje seus filhos já têm suas próprias famílias: Aline Brandão Cardoso Paz é casada com Manoel Paz e Silva Filho, com quem têm os filhos Ingrid Brandão Cardoso Paz, acadêmica de Medicina, e Mateus Brandão Cardoso Paz; Elaine Brandão Cardoso Bluhm é casada com Leonardo Henrique de Aragão Bluhm, com quem têm as filhas Giovanna Cardoso Bluhm e Gabriela Cardoso Bluhm; Francisco Alexandre Brandão Cardoso, divorciado, tem as filhas Isabele da Paz Cardoso e Lara da Paz Cardoso.

 

O casal Chico Cardoso e Lourdinha com filhos, genros e netos

Após sua aposentadoria, ao contemplar a bela família, filhos bem estabelecidos, netos que são pra ele a alegria e realização maior, lembrou-se de um adagio popular que diz: “Todo homem para ser feliz e completo deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. Percebeu que faltava escrever um livro, então, para realizar mais esse sonho e para ocupar o tempo disponível, resolveu dedicar-se à literatura e começou a escrever; já acumula uma produção literária de cinco livros: Trajetória de um Guerreiro, Memórias de Campo Maior, Memórias da adolescência: venturas e aventuras em Campo Maior, Solar dos Furtado e Animais Cativos, o que lhe possibilitou assumir uma cadeira na Academia Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE.

 

Registro da posse de Chico Cardoso na ACALE

   


Chico Cardoso também foi agraciado com os títulos de Cidadão Teresinense e Campomaiorense, reconhecimento das casas legislativas dessas cidades pelos relevantes serviços prestados.

 

Título de cidadão Campomaiorense

Título de cidadão Teresinense

                     

Eu, em particular, guardo boas e agradáveis lembranças de meu tio Chico Cardoso, pessoa que sempre esteve presente em minha vida e na de meus irmãos, e mesmo morando em outra cidade, acompanhou e colaborou bastante na formação de nosso caráter e educação. Lembro-me com alegria dos períodos de semana santa, quando ansiosos esperávamos a chegada de nosso tio Chico em nossa casa em Campo Maior, quando ele nos proporcionava inúmeras diversões: banho de rio, feitio e linchamento do Judas e tantas outras alegres brincadeiras.

É por essa brilhante trajetória de vida que afirmamos que Francisco da Silva Cardoso é um homem feliz e completo. Feliz por que, apesar das agruras do princípio de sua vida, com a perda da mãe e avó, encarou com altivez, alegria e responsabilidade as diversas fases de sua vida, brincando enquanto criança, aproveitando com responsabilidade os prazeres da juventude, sem nunca deixar de se dedicar aos estudos e finalmente abraçando com dedicação o trabalho. Completo porque concluiu todas estas etapas de sua vida com brilhantismo. Plantou árvores: de amizade, de companheirismo, de dedicação aos estudos, ao trabalho e principalmente à família, bem como árvores propriamente ditas. Gerou Filhos: Construiu uma bela família com três filhos que lhe deram seis netos, que são filhos duas vezes. Escreveu Livros, belas peças literárias, e o mais importante: a história de sua vida que é o mais belo livro que foi escrito nas páginas do tempo.

E por ocasião do dia 12 de março deste ano de 2021, quando Chico Cardoso completa 85 anos, vividos com as dificuldades naturais que a vida nos impõe, mas sabendo encarar com altivez, responsabilidade e alegria, gostaria de agradecer a Deus por sua existência e por tudo o que representa em nossas vidas.

Parabéns tio Chico, que Deus o abençoe sempre.

 

Teresina, 05 de março de 2021. 

 

                José Ataide Tôrres Costa Filho, Campomaiorense nascido em 12.09.1953, graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Ceará em 1977, em 2015 bacharelou-se em Ciências Contábeis no Centro de Ensino Superior Vale do Parnaíba – CESVALE, autor do livro “Reminiscências de Minha Vida”.

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