segunda-feira, 1 de março de 2021

Sobre saudade e Parnaíba revisitada

Fonte: Google/Mapio.net

 

DIÁRIO

[Sobre saudade e Parnaíba revisitada]

Elmar Carvalho

20/02/2021

No dia 20 de fevereiro, sábado, participei da live Leituras Compartilhadas da Saudade em Poesia, que se encontra disponível no You Tube, realizada pelo Portal Entretextos e mediada pelo poeta Dílson Lages Monteiro. Vários intelectuais participaram, lendo e comentando poemas que tematizassem a saudade, ainda que apenas implicitamente. Escolhi o poema Saudade, de Da Costa e Silva, um de meus poetas preferidos. Discorri sobre esse belo texto, tanto levando em conta aspectos intrínsecos, como extrínsecos, bem como relatei fatos curiosos e interessantes da vida desse grande bardo brasileiro.

Contudo, bem no final da live, fui surpreendido com a notícia de que o poeta e escritor Claucio Ciarlini havia escolhido um texto meu para ler e comentar, no caso, o poema Parnaíba Revisitada, mas que, em virtude de compromisso profissional no mesmo horário, ficara impedido de cumprir esse mister. Diante desse impasse, segundo o apresentador Dílson Lages, o Claucio lhe pedira para que ele o lesse e comentasse.

Como Dílson, além da apresentação e mediação da live, ainda iria ler e comentar um texto um tanto longo, pediu para que o poeta Diego Mendes Sousa o fizesse em seu lugar. Devo dizer que Diego, apesar de um tanto surpreendido pelo convite, se saiu muito bem, pois o leu com alma, fazendo uma quase performance teatral, e lhe fez uma bela interpretação, analisando com pertinência os pontos que de fato importavam ser comentados, de modo que nenhum reparo lhe poderia fazer, a não ser agradecer pela sua eficiência e percuciência.

Apenas expliquei que escrevi esse poema num tempo em que estava muito saudoso de Parnaíba, pois havia me mudado para Teresina há pouco tempo. Então, eu percorria as ruas, praças e logradouros de Parnaíba, em busca de um tempo em que eu fora muito feliz e em que a poesia me sacudia a alma com muita força e sofreguidão. Andava pelas ruas estreitas e um tanto tortuosas do centro histórico e do entorno do Porto das Barcas, como se andasse em um labirinto impregnado de saudade. Como se fora um Proust, cujo impulso memorialístico fora desfechado por uma madeleine embebida em uma xícara de chá, o gatilho de minha memória fora um pedaço de um azulejo desbotado.

No dia seguinte, por WhatsApp, conversei com Claucio Ciarlini a respeito da live e da competência demonstrada pelo Diego, ao tempo em que lhe agradeci por haver escolhido o meu poema, e pelo seu empenho junto ao Dílson Lages Monteiro para que ele não deixasse de ser objeto de leitura e análise. Ele, então, para honra e felicidade minha, disse que escreveria um texto sobre Parnaíba Revisitada, mas que o faria sem me consultar, para que o texto expressasse a sua opinião, sem influência de outras pessoas, o que me deixou ainda mais contente.

Sem necessidade de mais explicações, segue abaixo o texto do Claucio Ciarlini, grande agitador e promotor cultural de Parnaíba, editor do jornal O Piaguí, organizador de várias coletâneas literárias de contos, poemas e crônicas e de revista literária impressa e virtual:

 

Sobre o poema Parnaíba Revisitada, de Elmar Carvalho

 

            A leitura de Parnaíba Revisitada, poema do escritor e amigo Elmar Carvalho, se traduz num convite/mergulho à nostalgia (no que gera saudade), onde logo nas primeiras linhas o poeta nos fala:

 

Pelos labirintos

de antigas ruas perdidas

 

            Creio eu, e posso estar estupidamente errado, que estes labirintos podem muito bem se configurar num emaranhando de lembranças que com o tempo vão caindo nos recônditos mais escuros daquele vasto terreno entre o consciente e o subconsciente, e que podem permanecer ocultas até que algum gatilho emocional, fruto da visualização de algum objeto ou paisagem (dentre inúmeros outros fatores) possa acionar uma rápida procura, havendo ao fim uma imersão, fragmentada ou não, daquele tempo ou acontecimento.

            Porém, antes que haja essa imersão, a mente costuma se perder, enquanto realiza a angustiante tarefa do procurar, como bem cita:

 

caminho sem destino

e mergulho no temporal

das cavernas inescrutáveis

do deus Cronos

 

            Até que chega o momento mais prazeroso, embora breve (antes que a melancolia se instale), que é o de visualizar e até mesmo sentir, o passado em nossas mãos:

 

e o que se chama passado

intacto resgato

num pequeno pedaço de um

velho azulejo desbotado.

 

            A partir daí, dependendo do ser mergulhado em nostalgia, de seu humor e/ou maturidade, ele terá a capacidade de fugir a tempo para que esta saudade seja apenas doce sentimento e não se torne amargura, porque no presente é que está nossa segurança.

            O poema, apesar de curto, é de uma grandeza sentimental que nos emociona, não apenas do imaginar as inúmeras sensações que Elmar deve ter percorrido quando da inspiração, da escrita e do depois, mas pelas nossas próprias lembranças que acabam sendo acionadas quando da leitura de Parnaíba Revisitada.

 

Claucio Ciarlini (2021)   

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