HAJA MANCHETE!
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Uma boa manchete tem o poder de despertar
no leitor, espectador ou telespectador, a vontade de, o mais rapidamente
possível, explorar o fato ou assunto a que ela se propõe resumir, destacar. Não
é incomum compulsarmos determinado jornal, revista ou meio semelhante, à cata
daquele tema cuja manchete, mesmo que não se refira à notícia à qual o veículo
gostaria de dar maior destaque, teria sido a que mais nos chamara a atenção.
Elas são o âmago, a síntese da notícia ou reportagem. Quando, porém, exageram
ou se mesmerizam, empobrecendo, tornando-se cansativos pleonasmos ou anacolutos,
o fato noticiado costuma perder essência.
Eis manchete colhida no matutino
daquele dia: “Parte de muro de cemitério cai e deixa túmulos à mostra”. O autor
não disse que, pelo espaço aberto, uma legião de sepultados aproveitara para
fugir. Aqui, a síntese quase substitui o todo, a notícia; talvez nem fosse necessário
lê-la para se saber mais. Se o tapume era de um recinto onde se enterram mortos
em jazigos ou sepulturas, uma vez destruído, certamente, aqueles é que ficariam
expostos. Todavia, lendo-se a notícia, percebe-se que o temor dos vivos que têm
mortos ali enterrados, não é pelo que lhes possa acontecer, mas aos túmulos,
que bandidos poderiam conspurcar em busca de objetos de algum valor material, ou
utilizarem o buraco para adentrarem o local e, lá dentro, arquitetarem outras
ações criminosas; e, vândalos irresponsáveis, fazerem do mesmo espaço depósito
de lixo.
Outra: “Deputado fulano nega sua
ida para o partido tal”. Até onde se sabia, também por meio das mídias
informativas, a legenda para a qual o parlamentar mostraria interesse em
migrar, não estaria querendo contar com seu concurso; no texto da notícia, ele
alegaria que apenas não tinha intenção de concorrer com nomes tradicionais da
sigla rechaçada. Seria uma tentativa de valorizar seu passe, negar que não
estava aceitando ir para uma legenda partidária que já teria anunciado não
fazer ressalva a ninguém que a quisesse integrar? Inusitado não soaria se,
logo, logo o mesmo veículo de informação (ou outro) anunciasse que o cidadão
teria aceitado a oferta, antes, rejeitada, e se incorporado às fileiras da
sigla camarada; afinal, em política, com federação ou sem coligação, sim e não
apenas dois advérbios são.
E esta: “Moradores de bairro da
capital reclamam da falta de limpeza”. Reclamação é o que vêm fazendo citadinos
de todos os recantos quanto a muitos descasos dos gestores públicos de plantão:
transporte coletivo, por exemplo, parece assunto sem solução: andaria mais
capenga do que nunca; nas escolas públicas faltariam produtos exigidos pelos
protocolos sanitários para combate ao coronavírus, mas, mesmo assim, os administradores
exigindo que as atividades educacionais fossem retomadas. Os sindicatos das
categorias profissionais envolvidas reclamando que funcionários não podem nem deveriam
bancar às próprias expensas a aquisição de tais produtos; enquanto não ficar tudo
dentro dos conformes, pretenderiam impedir que seus filiados retornassem. Quem
está fora, ainda que participando como vítimas de tantos imbróglios, já ouve o que
comentam à boca solta, que o governante é um sortudo, pois, abertamente, ainda
não pedem seu impeachment, mas precisa dar o ar da graça, porque paciência tem
limite. A instabilidade na prestação do serviço de transporte público teria levado
empregado a dormir no local de trabalho para não ter cortado o ponto no dia
seguinte; e, outros, a nem irem ao trabalho, uma vez que os meios alternativos
de locomoção estariam impraticáveis em termos de custos.
Outra manchete do mesmo caderno do jornal que anunciava a reclamação
dos moradores daquele bairro ante à falta de limpeza por parte dos órgãos
públicos: “Superintendência de transporte e trânsito promete dobrar frota; Sindicato
das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros não foi notificado”; o que
parece fato, haja vista o texto da notícia não desmentir a segunda afirmação. O
Sindicato dos Lojistas talvez precisasse aliar-se aos representantes da indústria,
dos prestadores de serviço (inclusive, das empresas de ônibus), para, juntos, somente
pararem de cobrar providências efetivas e práticas dos gestores públicos,
quando elas fossem tomadas; afinal, tratam-se de empresas que contribuem com um
percentual considerável da arrecadação de tributos e no fornecimento de
empregos. Ou seja, fato é que o SINDILOJAS e as demais entidades de classe não
podem aceitar lero-lero ou conversa fiada dos administradores quanto às suas
demandas.
Haja manchete! Aqui, mais uma,
provocada por um midiático parlamentar municipal: “Desesperados” - edil diz ter
pena do partido que, coincidentemente, até ontem, comandava os destinos
políticos da cidade. Como sua crítica, ao que parece, teria sido à candidatura
de nomes do partido desesperado ao governo do estado - já derrotados, na visão do
vidente crítico, pelo candidato apresentado por seu partido -, talvez, se questionado,
também admitisse ter dó da cidade, administrada, sem a ajuda de gente de sua
legenda política e, menos ainda, claro, da dos desesperados; só cobranças.
Na edição do dia seguinte do mesmo diário, esta destacaria seu editorial: “Uma cidade entregue à própria sorte...” Manchete irretocável, infelizmente. Quem leu, ou não, o editorial, diante do que já estava farto de saber, cremos, concordaria.
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