28 de fevereiro
PROFESSOR FREITAS E O GIGANTE ADAMASTOR
Elmar Carvalho
Ontem à tarde estive no apartamento do professor José de
Ribamar Freitas. Muitas vezes o tenho visitado, seja para conversarmos, seja
para receber alguma orientação sua, mormente na área de literatura. Ele é um
homem sério, para alguns circunspecto, mas para mim foi sempre uma pessoa de
fácil convívio e de bom-humor. Admiro a sua avantajada e bela biblioteca.
Muitos de seus livros são, hoje, obras raras, e muitos já não
são reeditados há muitos anos. A maioria é composta de clássicos da literatura
universal. Ribamar Freitas é, ele próprio, um clássico, e eu o chamo de o
último dos helenos. Tem considerável conhecimento de grego e de latim. Lê, no
original, os poetas do classicismo greco-romano. É um erudito e grande orador.
Está, no momento, às voltas com um livro de ficção, que está preparando para
publicar, já tendo escrito vários de seus contos.
Fui seu aluno de Direito Penal, na Universidade Federal do
Piauí, na primeira metade da década de 80. Recordo que no primeiro dia de aula
cheguei um pouquinho atrasado. Ele estava dizendo que já ninguém lia os
clássicos, que ninguém queria mais saber desses grandes mestres do classicismo.
Para provar o que dizia, perguntou se alguém já ouvira falar em Adamastor,
exatamente no momento em que eu me sentava numa das cadeiras.
Devo dizer que o silêncio foi sepulcral. Então, levantei o
braço, e disse que Adamastor era o gigante de Os Lusíadas, de Camões, que
ameaçou de males formidáveis os navegadores portugueses, ao dizer que lançaria
maldições de toda sorte, e que o menor mal seria a morte. O mestre ficou
perplexo, e levemente contrafeito, porque eu quebrara o mote e o fundamento de
sua peroração.
Duas décadas depois, encontrei na apresentação ao livro
Reflexões sobre a Vaidade dos Homens e Carta sobre a Fortuna, de Mathias Aires,
uma passagem que me fez recordar o episódio, algo anedótico, que contei. Consta
que Ariano Suassuna, ao ministrar aula em São Paulo, dissera que as
universidades brasileiras ensinam de costas para o país. Para provar o que
afirmava perguntou se alguns dos alunos já ouvira falar em Kant. Todos
levantaram a mão, afirmativamente.
Em seguida, perguntou se eles já tinham ouvido falar em
Mathias Aires. Ninguém levantou a mão, exceto um único aluno. Suassuna
perguntou a esse aluno se ele já lera esse clássico de nossa literatura, ao que
ele respondeu que não. Disse que só conhecia o nome do grande escritor e
pensador porque, por coincidência, morava numa rua que tinha o seu nome.
Contudo, se fosse nos dias de hoje, à pergunta de mestre
Ribamar Freitas, todas as mãos levantar-se-iam e todas as vozes responderiam
sim, em uníssono. Sucede que hoje é sobejamente conhecido o palhaço televisivo
Adamastor Pitaco.
28 de fevereiro de 2010
Comentário:
A boa nova!
Foi com incontida alegria que li o seu relato sobre os seus momentos na companhia do Professor Freitas, pois, assim como você, também tive a grande felicidade de ser aluno do memorável mestre, que, à época, prelecionava, a cadeira de Medicina Legal em um período especial de férias na UFPI!
Em face a essa afortunada oportunidade fui agraciado com ensinamentos que abriram os meus olhos para o mundo clássico greco-romano. Um encantamento!
Lembro-me, por exemplo, dos conceitos médicos a respeito do estudo relativos à mulher, da origem da palavra ginecologia e de sua relação com a palavra GINEO (mulher) acrescida de LOGOS (estudo), resultando no ramo da ciência voltado aos cuidados com a saúde feminina.
A técnica usada pelo Mestre para transmitir conhecimentos é insuperável, está muito acima de tudo que vi na vida!
O conhecimento a respeito de latim e grego é uma ferramenta que o Professor esgrima com uma maestria invejável! Facilmente descreve a etimologia das palavras e, como uma tatuagem, desenha o conhecimento em nossa mente.
A maestria que o Professor domina envolve o espírito de quem o escuta falar! A mansidão de sua voz e o timbre sereno e solene que impõe às suas preleções, por si, fazem calar a audiência. Ele representa a verdadeira imagem do PROFESSOR (com letras maiúsculas, mesmo).
Finalmente, para o bem da humanidade, auguro vida longa ao mestre, haja vista a incessante atividade intelectual que norteia a sua rotina diária.
A ele e a você o meu sincero desejo de saúde, paz e serenidade, sob os auspícios do Grande Arquiteto do Universo.
Com um T.'.F.'.A.'.
Fernando de Sousa Rocha
Membro da Academia Maçônica de Letras
Retificação
Por infortúnio meu, somente agora tomei conhecimento do falecimento do Professor Freitas a cerca de 2 anos.
A distância que nos afastou durante estes 32 anos após a conclusão do curso de direito na UFPI, certamente, justifica o deslize temporal do meu comentário anterior. Hoje, com o peso da perda do meritório mestre, dedico a menção à sua maestria com uma coroa de louro a ser encimada no seu túmulo.
Enfim, fica o dito como dito anteriormente, apenas ressalvado o desconhecimento do pesaroso passamento do Mestre ao plano celestial!
Que o G.'.A.'.D.'.U.'. restabeleça-o no ofício de tutor das chusmas de anjos celestiais!
Com sincero pedido de escusas,
Receba um T.'.F.'.A.'.
Fernando de Sousa Rocha
Membro da Academia Maçônica de Letras
A boa nova!
ResponderExcluirFoi com incontida alegria que li o seu relato sobre os seus momentos na companhia do Professor Freitas, pois, assim como você, também tive a grande felicidade de ser aluno do memorável mestre, que, à época, prelecionava, a cadeira de Medicina Legal em um período especial de férias na UFPI!
Em face a essa afortunada oportunidade fui agraciado com ensinamentos que abriram os meus olhos para o mundo clássico greco-romano. Um encantamento!
Lembro-me, por exemplo, dos conceitos médicos a respeito do estudo relativos à mulher, da origem da palavra ginecologia e de sua relação com a palavra GINEO (mulher) acrescida de LOGOS (estudo), resultando no ramo da ciência voltado aos cuidados com a saúde feminina.
A técnica usada pelo Mestre para transmitir conhecimentos é insuperável, está muito acima de tudo que vi na vida!
O conhecimento a respeito de latim e grego é uma ferramenta que o Professor esgrima com uma maestria invejável! Facilmente descreve a etimologia das palavras e, como uma tatuagem, desenha o conhecimento em nossa mente.
A maestria que o Professor domina envolve o espírito de quem o escuta falar! A mansidão de sua voz e o timbre sereno e solene que impõe às suas preleções, por si, fazem calar a audiência. Ele representa a verdadeira imagem do PROFESSOR (com letras maiúsculas, mesmo).
Finalmente, para o bem da humanidade, auguro vida longa ao mestre, haja vista a incessante atividade intelectual que norteia a sua rotina diária.
A ele e a você o meu sincero desejo de saúde, paz e serenidade, sob os auspícios do Grande Arquiteto do Universo.
Com um T.'.F.'.A.'.
Fernando de Sousa Rocha
Membro da Academia Maçônica de Letras
Retificação
ResponderExcluirPor infortúnio meu, somente agora tomei conhecimento do falecimento do Professor Freitas a cerca de 2 anos.
A distância que nos afastou durante estes 32 anos após a conclusão do curso de direito na UFPI, certamente, justifica o deslize temporal do meu comentário anterior. Hoje, com o peso da perda do meritório mestre, dedico a menção à sua maestria com uma coroa de louro a ser encimada no seu túmulo.
Enfim, fica o dito como dito anteriormente, apenas ressalvado o desconhecimento do pesaroso passamento do Mestre ao plano celestial!
Que o G.'.A.'.D.'.U.'. restabeleça-o no ofício de tutor das chusmas de anjos celestiais!
Com sincero pedido de escusas,
Receba um T.'.F.'.A.'.
Fernando de Sousa Rocha
Membro da Academia Maçônica de Letras
Muito obrigado, caro amigo e Irm.'.
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