sábado, 30 de outubro de 2021

PROFESSOR FREITAS E O GIGANTE ADAMASTOR



 

28 de fevereiro

PROFESSOR FREITAS E O GIGANTE ADAMASTOR


Elmar Carvalho


Ontem à tarde estive no apartamento do professor José de Ribamar Freitas. Muitas vezes o tenho visitado, seja para conversarmos, seja para receber alguma orientação sua, mormente na área de literatura. Ele é um homem sério, para alguns circunspecto, mas para mim foi sempre uma pessoa de fácil convívio e de bom-humor. Admiro a sua avantajada e bela biblioteca.

Muitos de seus livros são, hoje, obras raras, e muitos já não são reeditados há muitos anos. A maioria é composta de clássicos da literatura universal. Ribamar Freitas é, ele próprio, um clássico, e eu o chamo de o último dos helenos. Tem considerável conhecimento de grego e de latim. Lê, no original, os poetas do classicismo greco-romano. É um erudito e grande orador. Está, no momento, às voltas com um livro de ficção, que está preparando para publicar, já tendo escrito vários de seus contos.

Fui seu aluno de Direito Penal, na Universidade Federal do Piauí, na primeira metade da década de 80. Recordo que no primeiro dia de aula cheguei um pouquinho atrasado. Ele estava dizendo que já ninguém lia os clássicos, que ninguém queria mais saber desses grandes mestres do classicismo. Para provar o que dizia, perguntou se alguém já ouvira falar em Adamastor, exatamente no momento em que eu me sentava numa das cadeiras.

Devo dizer que o silêncio foi sepulcral. Então, levantei o braço, e disse que Adamastor era o gigante de Os Lusíadas, de Camões, que ameaçou de males formidáveis os navegadores portugueses, ao dizer que lançaria maldições de toda sorte, e que o menor mal seria a morte. O mestre ficou perplexo, e levemente contrafeito, porque eu quebrara o mote e o fundamento de sua peroração.

Duas décadas depois, encontrei na apresentação ao livro Reflexões sobre a Vaidade dos Homens e Carta sobre a Fortuna, de Mathias Aires, uma passagem que me fez recordar o episódio, algo anedótico, que contei. Consta que Ariano Suassuna, ao ministrar aula em São Paulo, dissera que as universidades brasileiras ensinam de costas para o país. Para provar o que afirmava perguntou se alguns dos alunos já ouvira falar em Kant. Todos levantaram a mão, afirmativamente.

Em seguida, perguntou se eles já tinham ouvido falar em Mathias Aires. Ninguém levantou a mão, exceto um único aluno. Suassuna perguntou a esse aluno se ele já lera esse clássico de nossa literatura, ao que ele respondeu que não. Disse que só conhecia o nome do grande escritor e pensador porque, por coincidência, morava numa rua que tinha o seu nome.

Contudo, se fosse nos dias de hoje, à pergunta de mestre Ribamar Freitas, todas as mãos levantar-se-iam e todas as vozes responderiam sim, em uníssono. Sucede que hoje é sobejamente conhecido o palhaço televisivo Adamastor Pitaco.

28 de fevereiro de 2010

Comentário:

A boa nova!

Foi com incontida alegria que li o seu relato sobre os seus momentos na companhia do Professor Freitas, pois, assim como você, também tive a grande felicidade de ser aluno do memorável mestre, que, à época, prelecionava,  a cadeira de Medicina Legal em um período especial de férias na UFPI!

Em face a essa afortunada oportunidade fui agraciado com ensinamentos que abriram os meus olhos para o mundo clássico greco-romano. Um encantamento!

Lembro-me, por exemplo, dos conceitos médicos a respeito do estudo relativos à mulher, da origem da palavra ginecologia e de sua relação com a palavra GINEO (mulher) acrescida de LOGOS (estudo), resultando no ramo da ciência voltado aos cuidados com a saúde feminina.

A técnica usada pelo Mestre para transmitir conhecimentos é insuperável, está muito acima de tudo que vi na vida!

O conhecimento a respeito de latim e grego é uma ferramenta que o Professor esgrima com uma maestria invejável! Facilmente descreve a etimologia das palavras e, como uma tatuagem, desenha o conhecimento em nossa mente.

A maestria que o Professor domina envolve o espírito de quem o escuta falar! A mansidão de sua voz e o timbre sereno e solene que impõe às suas preleções, por si, fazem calar a audiência. Ele representa a verdadeira imagem do PROFESSOR (com letras maiúsculas, mesmo).

Finalmente, para o bem da humanidade, auguro vida longa ao mestre, haja vista a incessante atividade intelectual que norteia a sua rotina diária.

A ele e a você o meu sincero desejo de saúde, paz e serenidade, sob os auspícios do Grande Arquiteto do Universo.

Com um T.'.F.'.A.'.

Fernando de Sousa Rocha

Membro da Academia Maçônica de Letras


Retificação

Por infortúnio meu, somente agora tomei conhecimento do falecimento do Professor Freitas a cerca de 2 anos.

A distância que nos afastou durante estes 32 anos após a conclusão do curso de direito na UFPI, certamente, justifica o deslize temporal do meu comentário anterior. Hoje, com o peso da perda do meritório mestre, dedico a menção à sua maestria com uma coroa de louro a ser encimada no seu túmulo.

Enfim, fica o dito como dito anteriormente, apenas ressalvado o desconhecimento do pesaroso passamento do Mestre ao plano celestial!

Que o G.'.A.'.D.'.U.'. restabeleça-o no ofício de tutor das chusmas de anjos celestiais!

Com sincero pedido de escusas,

Receba um T.'.F.'.A.'.

Fernando de Sousa Rocha

Membro da Academia Maçônica de Letras

3 comentários:

  1. A boa nova!

    Foi com incontida alegria que li o seu relato sobre os seus momentos na companhia do Professor Freitas, pois, assim como você, também tive a grande felicidade de ser aluno do memorável mestre, que, à época, prelecionava, a cadeira de Medicina Legal em um período especial de férias na UFPI!

    Em face a essa afortunada oportunidade fui agraciado com ensinamentos que abriram os meus olhos para o mundo clássico greco-romano. Um encantamento!

    Lembro-me, por exemplo, dos conceitos médicos a respeito do estudo relativos à mulher, da origem da palavra ginecologia e de sua relação com a palavra GINEO (mulher) acrescida de LOGOS (estudo), resultando no ramo da ciência voltado aos cuidados com a saúde feminina.

    A técnica usada pelo Mestre para transmitir conhecimentos é insuperável, está muito acima de tudo que vi na vida!

    O conhecimento a respeito de latim e grego é uma ferramenta que o Professor esgrima com uma maestria invejável! Facilmente descreve a etimologia das palavras e, como uma tatuagem, desenha o conhecimento em nossa mente.

    A maestria que o Professor domina envolve o espírito de quem o escuta falar! A mansidão de sua voz e o timbre sereno e solene que impõe às suas preleções, por si, fazem calar a audiência. Ele representa a verdadeira imagem do PROFESSOR (com letras maiúsculas, mesmo).

    Finalmente, para o bem da humanidade, auguro vida longa ao mestre, haja vista a incessante atividade intelectual que norteia a sua rotina diária.

    A ele e a você o meu sincero desejo de saúde, paz e serenidade, sob os auspícios do Grande Arquiteto do Universo.

    Com um T.'.F.'.A.'.

    Fernando de Sousa Rocha
    Membro da Academia Maçônica de Letras

    ResponderExcluir
  2. Retificação

    Por infortúnio meu, somente agora tomei conhecimento do falecimento do Professor Freitas a cerca de 2 anos.

    A distância que nos afastou durante estes 32 anos após a conclusão do curso de direito na UFPI, certamente, justifica o deslize temporal do meu comentário anterior. Hoje, com o peso da perda do meritório mestre, dedico a menção à sua maestria com uma coroa de louro a ser encimada no seu túmulo.

    Enfim, fica o dito como dito anteriormente, apenas ressalvado o desconhecimento do pesaroso passamento do Mestre ao plano celestial!

    Que o G.'.A.'.D.'.U.'. restabeleça-o no ofício de tutor das chusmas de anjos celestiais!

    Com sincero pedido de escusas,

    Receba um T.'.F.'.A.'.

    Fernando de Sousa Rocha
    Membro da Academia Maçônica de Letras

    ResponderExcluir