sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

ENCARNANDO O ESPÍRITO DO MUSSUM? CRUZ CREDIS!

Fonte: Google

 

ENCARNANDO O ESPÍRITO DO MUSSUM? CRUZ CREDIS!


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Há alguns anos, aproveitando intervalo de curso que fazíamos em Petrópolis – RJ, aceitei convite de colega e fomos passar final de semana em sua bela e aconchegante cidade Juiz de Fora.

                À tardinha da sexta-feira, o amigo me levou a conhecer alguns pontos que julgava interessante mostrar-me: a residência do ex-presidente Itamar Franco, e a do escritor, compositor e cantor Paulinho Pedra Azul, a quem meu colega conhecia desde a infância, e eu, de apresentações feitas em Teresina. Como não deu para falar com o artista, que não estava em casa, fomos a um barzinho encontrar com a turma dele e, claro, aproveitar um pouco da noite juiz-forense (ou juiz-forana).

                Conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas, sapequei o verbo “mangar” durante o papo. Uns estranharam o termo e eu lhes estranhei a pobreza gramatical. Aproveitei a deixa para afirmar que não estava criando o termo, que, tampouco era um neologismo, pois estava contido em quase todos os bons dicionários da língua portuguesa. Adiantei-lhes que, a propósito, achava interessantes incontáveis vocábulos, citações, interjeições constantes do mineirês - o dialeto mineiro -;  é que Minas Gerais é o estado com uma das maiores variações de fala do país – uai, trem, bão, mé-renda (merenda), ocê, procê , já haviam, inclusive, sido invocados naquela reunião -;  ainda acrescentei que nós, piauienses, como vários estados brasileiros, incluindo, certamente, o mineiro,  temos dicionários próprios, dadas as centenas de expressões vocabulares, falares, exclusivas ou comuns, que usamos com certa constância.

                Mas todo esse prólogo é para falar de elucubrações a que somos levados quando nos metemos a atribuir super importância a informações derivadas da leitura ou ciência de fatos ou decisões tomadas de acordo com o politicamente correto, ou decorrentes de implicações ideológicas do que consideram preconceito e/ou discriminação e, mais presentemente, de temas ligados a questões de gênero.

                Não me ocorre ter sabido de qualquer movimento paroquial, ou oriundo da Bahia, Pernambuco, Ceará, Pará, Amazonas, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, e alhures, no sentido de tentar impor à língua formal falada por quaisquer de nós, falares ou expressões vocabulares próprios: em regra, entendemo-nos, cada um falando português, no seu dialeto, sem necessidade de imposição linguística a fim de tornar unívoco, único ou imutável aqueles termos, expressões ou ideias de que nos utilizamos corriqueira e, cotidianamente.

                De repente, iluminados guerreiros das lutas contra o preconceito e a discriminação racial, ideológica, religiosa ou escambau,  julgaram ideal sugerir a extirpação da língua portuguesa de palavras, termos ou expressões – censuras ou proibições a reclusos pensamentos a respeito dessas máculas linguísticas, deve ser o próximo passo que darão esses implacáveis vigilantes – que, semântica e/ou hermeneuticamente, indiquem, apontem, inspirem, travistam, escondam – ou mesmo conotem, se utilizados com o fito de ofender,  discriminar ou machucar – ações preconceituosas e/ou discriminatórias. Já se transformaram em párias vocabulares, demônios linguísticos, certos substantivos, adjetivos, verbos e que tais: mulato/mulata – será que teremos de solapar dos dicionários as palavras mulo, mula, dos quais, etimologicamente, derivariam? -, judiar (que remete ao mal e a morte imposta a milhões de judeus, principalmente, pelos nazistas comandados por Hitler). Se todas as maldades deixassem de existir, caso não houvessem verbos que as especificassem ou definissem; se todos os preconceitos existentes, influenciados ou tornados reais por meio de ações ou atos dependessem tão somente de termos que os conceituassem, necessariamente, teríamos que extirpar da língua – senão condenar quem, recalcitrante e recorrentemente, ainda os utilizasse após expurgados -  milhares de sinônimos, palavras “insinuadoras”. Apenas para arrolar uns poucos, dentre os já condenados à lixeira linguística, incluiríamos: denegrir, aliás já incluso, demagogicamente, pelos patrulheiros do politicamente correto ou dos que veem preconceito ou discriminação até em bulas de medicamentos – e todos que dele derivam ou se lhe assemelham: obscurecer, aguarentar, enegrecer, enlodar, e por aí vai; assim também: gordo – obeso, adiposo; deficiente – diminuto, falho, incompleto, imperfeito, insuficiente; empretecer – escurecer, amorenar, enturvar, etc.; desajeitado – canhestro, desconjuntado, deselegante; moreno; feio; dentre milhares de outros termos pejorativos (opa! Esse também seria execrado? E este?). Inocentes vocábulos condenados à morte, quem diria?

                Como se não bastasse, lá vêm outras idiossincrasias, criadas a partir da ideia sobre diversidade de gênero. Sábios entendem que ela precisa ser desprezada, inutilizada, esquecida. Não há mais, segundo seus defensores, que se falar em gêneros, chega, para eles, dessa loa de masculino e feminino; enquanto não se dispuser de um conceito novo, que se use, como guarda-chuva, o de não binário.

                Ainda quanto ao tema diversidade de gêneros; há os Pilatos, que lavam as mãos: não foram seus criadores nem incentivadores, também não serão defensores da ideia; os maria vai com as outras: que acham até uma boa ideia tal discussão, mas preferem ou continuarão defendendo e se valendo da tradicional. Termos aceitos pelos defensores da nova linguagem não binária para pronomes, adjetivos e substantivos – amigue (em vez de amigo/amiga), minhe (em vez de meu/minha), irmane (e não irmão/irmã), adulte (adulto/adulta), pintade (pintado/pintada), bonite (bonito/bonita), ile (ele/ela), todes (todos/todas)...; remetem-me ao grande humorista brasileiro Mussum, que usava termos jocosos, únicos, para expressões conhecidas ou por ele criadas: matildis e cacildis (para Cacilda e Matilde), mininis (para menino), homis (homem), cachacis e mé (cachaça), comidis e cervejis (comida e cerveja), e tantos outros.

                Será que os falantes da linguagem não binária vão encarnar o espírito e a hilária fonética do velho e bom “Mussum”?     

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