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O CABEÇA DE CUIA
João Ferry (1895 – 1962)
Com o sol a pino, um dia, no
Poti,
Um pescador voltou da pescaria;
Vinha fulo, porque no seu pari;
Um peixinho sequer, nele caía.
Alegre a velha mãe o aguardava
Com o almoço frugal que de
costume,
Para o filho querido preparava,
Quando vinha feliz com seu
cardume.
Nesse dia, zangado, o belo moço,
Tratou mal a velhinha e aos
palavrões,
Recusou-se aceitar o seu almoço,
Uma ossada gostosa de pirões.
Em vão a velha mãe bondosamente,
Com mimos, com carinho e com
amor,
Procurou acalmar o imprudente,
Que tomando um osso, um “corredor”...
Bateu na velha mãe, em louca
fúria,
Esmurrou-lhe a cabeça veneranda
E cobrindo-a de apodos e de
injúria,
Mostrou sua alma vil, negra e
execranda.
Com a dor, a velhinha atordoada,
No terreiro da casa ajoelhou,
Filho ingrato, cruel,
desnaturado,
E mil pragas do céu invocou...
Filho maldito, o rio há de
tragar-te,
E entre todas as suas agonias,
De monstro que tu és, para salvar-te
Haverás de engolir 7 Marias...
E o filho como um louco caiu n’água
No lugar “Poti Velho” e ali
sumiu-se,
E a velhinha corando sua mágoa,
Ao sol quente, de dores, sucumbiu-se.
E é voz corrente que o Poti
gemendo,
Quando a cheia do rio em fúria
desce,
O “Cabeça de Cuia”, um monstro horrendo,
Nas águas a boiar sempre aparece.
E ao que consta, até hoje, o
imprudente,
Não conseguiu tragar uma só Maria...
E há de viver assim eternamente,
Um fantasma de dor e agonia.
Fonte: Antologia dos Poetas
Piauienses (2006), de Wilson Carvalho Gonçalves
Haverá de engolir 7 Marias
ResponderExcluirCrispim Pescador (Cabeça de Cuia). Uma lenda triste...
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