quarta-feira, 6 de abril de 2022

ALGUMA POESIA

Fonte: Google


ALGUMA POESIA


José Expedito Rêgo


Drummond, ainda em vida, dizia não se considerar o maior poeta do Brasil. Ele era modesto. Os grandes homens, de real valor, são, via de regra, humildes. Bernard Shaw não era, nem Voltaire, exceções por certo. Não acredito porém que fosse por falta modéstia que o poeta de Itabira não se julgava o maior. Era sinceridade. Explicava: “Não há maiores poetas, há poetas”. Citava outros que achava muito bons: Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Manoel Bandeira. Cada qual na sua época, em diversas escolas literárias, seguindo tendências diferentes, mas todos grandes. 


Realmente, Bilac, dentro de sua maneira de encarar a arte poética, atingiu a perfeição. Sua poesia era inspirada, correta na forma, de inigualável beleza e sensibilidade.  Quem não recorda o Ouvir Estrelas?  Casimiro de Abreu, poeta da infância brasileira, nunca me esqueço dos Meus Oito Anos: “Oh! Que saudades que tenho...” E a Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá...”. São versos que caíram na boca do povo, todo mundo sabe de cor.  Manuel Bandeira teve também momentos de rara inspiração e realização estética.  Mas, no meu fraco entender, nenhum outro poeta brasileiro dominou tão bem a arte de fazer versos como o paraibano Augusto dos Anjos. Ele encontrava a palavra exata, para colocá-la no lugar certo, em versos de metrificação rigorosa e cadenciado ritmo, usando rimas do melhor efeito, tudo dentro de impecável harmonia: 


“É a meretriz que de cabelos ruivos, 

colérica, soltando hórridos uivos,

na mesma esteira pública recebe,

entre farraparias e esplendores,

o eretismo das classes superiores

e o orgasmo bastardíssimo da plebe.”


A poesia de Augusto nada tem de romântica. É realista, muitas vezes brutal: “Um urubu pousou na minha sorte!” Claro que não podia ser popular.  Seu linguajar é difícil, erudito, requer leitura atenta:


“... também das ditomáceas da lagoa

 a criptógama cápsula se esbroa...”


Na verdade, Drummond deve ser o maior de nosso tempo. Em cada época, dentro diferentes concepções da beleza, na arte poética, tivemos nomes tão grandes quanto o dele.   

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