segunda-feira, 23 de maio de 2022

TRIBUTO À INESQUECÍVEL RUA CORONEL ANTÔNIO MARIA

 



O grande goleiro do Caiçara, Coló (último à direita).


TRIBUTO À INESQUECÍVEL RUA CORONEL ANTÔNIO MARIA


José Francisco Marques

Musicista e cronista


HOMENAGENS PÓSTUMAS AOS MORTOS, CADA VEZ MAIS VIVOS EM NOSSAS MEMÓRIAS, QUE POR LÁ HABITARAM.


Rua Coronel Antônio Maria

Quem diria?

Hoje a saudade veio cobrar.

Somos ingratos filhos por ti gerados,

o mesmo feijão com arroz compartilhado. Hoje, compelido de um desejo inexplicável, escrevo sobre ti, responsável por minha base de sustentação social, de minha postura frente à grande aventura à que a vida nos impõe.

A presente narrativa não possui ordem cronológica quanto a citação dos personagens.

Grande e magistral Coló, dono de voos que invejavam os próprios pássaros, grande amigo pessoal. Melinho meu super-herói anônimo, João Agostinho e sua pérola de esposa, dona Zélia de coração tamanho, que de tão imenso subiu ao céu e não mais desceu, Antônio do Monte, meu mestre primeiro, que nas noites ainda ouço o ressoar de seu "soluço do mar", Chichico Baú e a sua voz maviosa a preencher as minhas noites vazias de insônia sem fim, Guilherme Melo e sua pseudossisudez, pois se tratava na verdade de alguém de fino trato, quando era voltado à intimidade pessoal. Foi comerciante e militou certo tempo na política municipal. Sua esposa, dona Anita, tornou-se posteriormente grande amiga de nossa família. Gerson, meu pai, a desfilar outrora em seu cavalo gigante, cowboy numa época de pura magia e sonhos realizáveis, Oswaldo Lobão Filho e a sua assustadora inteligência jurídica, sua mãe dona Margarida a ditar as normas de convivências, Eutrópio e dona Maria, certamente rimaria com serraria a exalar o odor do resto das serragens de grandes troncos de madeira, seus muitos filhos uma amizade ser par, Ulisses Raulino, cuja alma benevolente o transformou em eterno menino a narrar as suas estórias de um reino oculto e tão visível, hoje na saudade presente. Júlio Capucho e sua prole profunda, o inigualável pão cujo odor ainda povoa minhas narinas, dona Celeste, sua companheira, uma mulher celestial, a distribuir simpatia com seus atos sempre amigáveis. Raimundinho Andrade, um gentleman por excelência, um homem cujo legado ainda hoje alimenta o lado raro de políticos honestos, era orgulho dos habitantes locais. Ludgero Raulino e seu português impecável, de tiradas magníficas a narrar aventuras de sua adolescência distante. Zeca Machado e sua humildade latente ao lado de sua querida Filó a exportar caráter através de filhos maravilhosos Brasil afora.

Lázaro Carvalho, bancário e professor, dono de uma elegância admirável ao abraçar seus livros junto ao seu peito, orgulhoso pelo sacerdócio educacional. Nair Sá e sua beleza morena, a desvendar e traduzir a todos nós a curiosidade de uma nova e enigmática língua. Antônio Carlos Cavalcante e sua D'luz, meu padrinho querido e inesquecível, pessoa de uma integridade insuperável e ensinamentos profícuos à minha personalidade, Raimundo Gordinho, baixo e barrigudinho e seu farto comércio, distribuía a simpatia inerente aos donos de bodegas daquela época de ouro, Chico Padeiro: já o identifiquei na terceira idade. Tinha como peça constante um chapéu Panamá à cabeça e invariavelmente calça social sem camisa. Ao lado de fora de seu comércio, funcionava uma espécie de cassino paralelo, onde alguns dos habitantes locais reuniam-se as noites em mesas de baralhos emparelhadas.

Homenagear in memoriam a todas os personagens que habitaram aquela verdadeira sucursal do paraíso até então, me renderiam por certo muitas horas e muitas e muitas laudas nessa crônica saudosa, nesse desabafar de uma alma ansiosa/ciosa de deixar fluir a saudosa e inesquecível aurora de muitas vidas.  

Um comentário:

  1. Parabéns pelo belo texto. Me fez relembrar a boa convivência com os amigos vizinhos desta rua tão querida. 👏👏👇

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