Neander Francisco (autor da proposição) e Espedito Martins (presidente da Câmara Municipal) entregam a Elmar Carvalho o diploma do Título de Cidadão Oeirense |
OEIRAS NA ALMA E NO CORAÇÃO
Elmar Carvalho
Oeiras navega na
noite
de um tempo que não
termina.
De um tempo sem
medida, fugitivo
de ampulhetas e
relógios.
Nos longes de minha meninice, salvo engano no livro didático
Nosso Tesouro, li – num de seus “serões” – uma referência a Oeiras, como tendo
sido a primeira capital do Piauí. Foi a primeira alusão à Terra Mater,
encravada nos confins dos sertões de Cabrobó, de que tomei conhecimento em
livro. Data daí, talvez, o meu fascínio pela velha Mocha e o meu desejo de
conhecê-la.
Por volta de duas décadas depois, numa viagem a serviço da
SUNAB – Delegacia do Piauí, a conheci de relance. É que cheguei à noite e logo,
ainda no escuro da madrugada, retornamos a Teresina. Posso dizer que apenas a
entrevi, que ela apenas se entremostrou, como uma rosa ainda em botão,
entrefechada ou entreaberta, como num poema do Bruxo do Cosme Velho.
Contudo, o meu desejo de conhecê-la ou mesmo devassá-la se
tornou mais avassalador. E a conheci em toda sua glória e tradição em outras
viagens a serviço e, sobretudo, para participar de vários eventos culturais e
literários.
Em minha gestão como presidente da União Brasileira de
Escritores do Piauí (1988/1990), minha principal meta foi desenvolver uma
campanha para que a Literatura Piauiense fosse insculpida no texto de nossa
Constituição Estadual (1989), como disciplina obrigatória em nossas escolas, o
que terminou acontecendo, graças à acolhida que nos deu o deputado Humberto
Reis da Silveira, seu relator-geral, descendente de velhas estirpes oeirenses.
Imbuído desse propósito de bem divulgar a nossa literatura,
fiz realizar um de nossos Encontros de Escritores em Oeiras, em cujo evento
homenageei o grande romancista brasileiro O. G. Rego de Carvalho, nascido nesta
terra de rica história e tanta tradição cultural, religiosa, literária e
musical. Nesse encontro, além de outras atividades, o romancista, cronista e
médico Expedito Rego pronunciou uma minuciosa palestra sobre o jornalismo
oeirense, que infelizmente parece haver se perdido entre os papéis de seu
espólio literário.
Em sua conferência, foi ele auxiliado pelo seu afilhado
Carlos Rubem, defensor intransigente do patrimônio arquitetônico, artístico e
cultural de Oeiras, que além de Promotor de Justiça, o é também de Cultura. Por
causa dessa sua veemência em defesa das coisas oeirenses, me solicitou algumas
crônicas sobre a velhacap, em ocasiões especiais, dentre as quais estão as em
que falo do velho calçamento de Oeiras, do grande poeta Nogueira Tapety e do
Sobrado dos Ferraz, hoje Paço Municipal. Na minha crônica Uma noite, em Oeiras,
falo do nosso sonho de ser construído, no alto do Morro da Sociedade, o Jardim
dos Poetas, em que seriam estampados os poemas que louvam as louçanias da bela
paisagem sertaneja e os velhos casarões e sobrados de nossa encantadora Oeiras.
Ao longo dos anos 80 e 90 do século passado e neste século
XXI, fui amealhando importantes amizades com ilustres intelectuais e escritores
de Oeiras. Além dos já referidos acima, citarei (pedindo desculpas por
eventuais omissões): Balduíno Barbosa de Deus, meu professor no curso de
Direito na UFPI, Possidônio Queiroz, de valsas sublimes, dito o Bruxo Velho de
Oeiras, Dagoberto Carvalho Jr., meu confrade na APL, Antonio Reinaldo Soares
Filho, Ferrer Freitas, Paulo Gutemberg, Rogério Newton, Gutemberg Rocha, que me
prefaciou o livro Noturno de Oeiras, com belas ilustrações de Francisco Leandro,
Rita Campos, Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves Filho, Cassy Neiva Gama, Stefano
Ferreira, Júnior Vianna, Socorro Barros e Moisés Reis, que fez a apresentação,
em lançamentos nesta velha urbe, de meus livros Lira dos Cinqüentanos e Noturno
de Oeiras e outras evocações, hoje meu confrade na APL.
Sobre muitos dos escritores citados acima tive a honra de
escrever, lhes ressaltando o talento e o brilho da escrita. E muitos deles se
pronunciaram sobre a minha prosa e sobre a minha poesia, o que vale mais para
mim do que certos galardões.
Uma das maiores honras e satisfações que tenho é a de que o
meu poema Noturno de Oeiras caiu no gosto e na graça dos amigos oeirenses. Foi
incluído em vários livros e antologias. Em diferentes ocasiões, já ecoou no
palco do Cine Teatro Oeiras, no adro da catedral e entre suas vetustas naves.
Teve versos citados em vários livros e discursos, o que o mantém vivo e
presente na memória de meus novos conterrâneos. Foi publicado na Revista do
Instituto Histórico de Oeiras, que também publicou vários outros textos de
minha autoria sobre assuntos oeirenses. Foram feitos três vídeos desse poema,
que se encontram no You Tube, um dos quais recentemente produzido por Inamorato
Reis, em que aparecem suas lindas fotografias, com a interpretação irrepreensível
de Cláucio Carvalho, de bela voz ritmada e de dicção perfeita.
Na época em que o escrevi, uma cópia de Noturno de Oeiras foi
enviada para o advogado Talver de Carvalho Mendes, que me remeteu uma
desvanecedora carta manuscrita, na qual teceu muitas considerações elogiosas,
mas em que disse haver sentido falta dos sons de bandolins e do velho
cemitério. Instigado por essa missiva, senti a inspiração e o impulso para compor
o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras, que foi musicado e apresentado no dia do
lançamento do livro Noturno de Oeiras e outras evocações por alunos do
Instituto Barros de Ensino – IBENS.
A dona Anatália Gonçalves de Sampaio Pereira enviou uma cópia
desse livro para seu irmão, o ilustre oftalmologista Elisabeto Ribeiro
Gonçalves. Para meu gáudio, poucos dias depois, recebi uma linda missiva desse
médico, que é na verdade uma excelente crônica, em que ele, a pretexto de
comentar o poema, parece viajar ao tempo de outrora, para rever os prédios e
outros sítios oeirenses de uma outra dobra ou dimensão do espaço-tempo, toda
impregnada de emoção e saudade.
Em julho de 2013, quando me encontrava de férias, após
renunciar a promoções para outras Comarcas, por preferir ser promovido a
titular do Juizado Especial Cível e Criminal de Oeiras, consegui esse
desiderato. Estava presente a essa sessão o ilustre Des. Sebastião Martins,
casado com a senhora Solange, filha desta terra, que sempre me incentivou e
aplaudiu o labor literário.
Assumi o Juizado no começo de agosto, mas logo após recebi a
impactante notícia, dada por minha mulher, por telefone, de que os exames que
fizera constataram a existência de um CA, o segundo de minha vida, o que me
impediu de exercer por mais tempo a minha atividade judicante nesta vetusta
Comarca, embora estivesse contente com minhas funções e com o relacionamento e
apreço dos servidores. Todavia, tive a honra de encerrar minha carreira como
magistrado pertencente a esta jurisdição de entrância final.
Posso dizer que ao longo de todos esses anos participei de
vários eventos culturais em Oeiras, escrevi textos sobre vários assuntos e
logradouros oeirenses, bem como várias crônicas e críticas literárias sobre
diversos poetas e escritores de nossa etérea e eterna capital.
Assim, julgo que me fui tornando um cidadão oeirense por
livre e espontânea vontade de mim mesmo, ou por conta própria como disse um
amigo.
Diria que me tornei um oeirense por coração, vocação,
predestinação e devoção. Mas, para continuar com essas rimas em ão, acrescento
que como coroação a Augusta Câmara Municipal de Oeiras, no tempo certo de Deus,
através de proposição do Excelentíssimo Vereador Neander Francisco da Silva
Moura, com o beneplácito dos demais parlamentares, houve por bem me conceder o
glorioso Título de Cidadão Honorário de Oeiras, que tudo farei para honrar, e
que me será um galardão, do qual saberei manter o lustre. Agradeço a todos os
eminentes Vereadores, aos do tempo da concessão, ocorrida em 2013, e aos deste
momento da solenidade de outorga desta magna honraria, na pessoa do Excelentíssimo
Sr. Espedito Martins, Presidente desta Egrégia Casa Parlamentar.
Que mais dizer? Nada mais preciso dizer, exceto repetir que
agradeço, comovido, ao povo de Oeiras e aos nobres e distintos Vereadores por
este áureo Título, que oficializa e enobrece para sempre a minha cidadania
oeirense, que sempre porfiei em cultivar em minha acendrada oeirensidade.
(*) Discurso pronunciado no dia 06/06/2022, em solenidade da
Câmara Municipal de Oeiras, no dia em que recebi o Título de Cidadão Oeirense.
Parabéns!
ResponderExcluirUm belo e emocionante discurso, mestre. Ninguém merece mais o título recebido do que você, por tanto que feito pela cultura oeirense. Comungo desse mesmo sentimento por aquela cidade que você. E nas vezes em que estive por lá, deliciava-me caminhando pelas suas ruas solitariamente, somente para ter o prazer de admirar o seu vetusto casario e sentir a atmosfera dos tempos idos. Gosto de imaginar que por aquelas ruas, alguns séculos antes, pessoas já pisavam as pedras daquele piso e isso era como se o tempo também retrocedesse para mim. Parabéns pela merecida honraria recebida.
ResponderExcluirMais uma vez, meus parabéns Dr. Elmar. Um grandioso discurso. E uma bela e justa homenagem. Deus o abençoe, sempre.
ResponderExcluirMuito obrigado, prezados amigos!
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