Arte de Elmara Cristina |
A Insônia e a pedra no meio do
caminho
Elmar Carvalho
Nesses dias publiquei o meu
poeminha Insônia no meu blog e em vários outros sítios da Internet, inclusive
no grupo de WhatsApp da Academia Piauiense de Letras. O pequeno poema foi
escrito, creio, no final dos anos 80 ou nos 90. Sua gênese, como o nome sugere,
foi mesmo uma insônia, que me acontece muito raramente. Hoje me deparei com a
seguinte postagem do Comandante Jônathas Nunes, confrade de muita inteligência
e argúcia, e de notável sinceridade e franqueza, que considerei pertinente:
“Comandante Elmar,
Mesmo sem rima e sem métrica, seu
sugestivo poema INSÔNIA traz a marca inconfundível da veia poética. Desde
criança, aprendi a ser reticente a toda poesia desprovida de rima e de métrica.
Fui despertado desde bem jovem a admirar o ritmo e a cadência dos poemas de
Castro Alves, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Gonçalves Dias e tantos outros
luminares da pirâmide literária brasileira. Sempre vi e vejo, com justa apreensão,
ainda hoje, a Semana de Arte Moderna de 1922, no que ela pretendia trazer, no
campo da literatura, de ruptura com o passado romântico do sec. XIX. Nesse
sentido, cultuo com especial desvelo a produção literária pré-Semana de Arte
Moderna, de fevereiro de 1922. A Arte Lusófona desde então, se torna
especialmente exigente ao mergulhar nas águas lustrais da crítica literária. Se
tudo que é belo é rítmico, como
mergulhar no sentimento de beleza de um poema pós- semana de arte moderna?
Inobstante, Drummond conseguiu com maestria e altivez atingir a glória
literária, com o poema, hoje universal – No Meio do Caminho Tinha uma Pedra!
No meio do caminho tinha uma
pedra
Tinha uma pedra no meio do
caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma
pedra.
Nunca me esquecerei desse
acontecimento
Na vida de minhas retinas tão
fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio
do caminho
Tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do
caminho,
No meio do caminho tinha uma
pedra.
Pasme! Sem métrica e sem rima!
Feito pra poucos! Muito poucos! Pouquíssimos!
E agora, décadas após, já em
pleno sec. XXI, o nosso estimado Acadêmico Elmar, no poema - INSÔNIA, reedita o
fascínio de – NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA, de Drummond.
INSÔNIA
No silêncio abissal
Da noite estagnada
A engrenagem pesada
Do tempo se desenrola
E desaba sobre mim.
As botas cadenciadas
Das horas, marcham
- lentas lesmas -
Marcham Infinitamente
Na noite sem fim.
DRUMOND deve ter se valido do
clima das Alterosas.
ELMAR deve ter provado o Veneno
das Horas de Hardi Filho em alguma madrugada mal dormida em Parnaíba.
A
APL ESTÁ DE
PARABÉNS.”
Em seguida o presidente Zózimo
Tavares, um mestre da palavra e da concisão, sem perder o seu senso de humor,
cravou o seguinte comentário, que muito me desvanece: “Vê-se, confrade Jônathas,
que, em matéria de poesia, o vate Elmar não dorme no ponto.”
Ato contínuo, ao receber o exímio
e milimétrico passe, o confrade Reginaldo Miranda, com a sua argúcia e olhos de
águia e de Argos, que um bom historiador como ele deve ter, chutou para fazer
um gol de placa ou cinematográfico: “Excelente análise e oportuna a comparação
com o poema de Drummond. No entanto, percebo pela hora da postagem que o
comandante Jônatas também estava com insônia, o que demonstra a produtividade
literária nas noites indormidas dos nossos acadêmicos.”
O acadêmico e poeta Luiz Ayrton,
não menos apetrechado que os demais colegas, ao receber a pelota, emendou de
primeira, em primoroso voleio: “Ótima reflexão. Seria um conflito de gerações?
Sou apaixonado pelos poemas não rimados, o poema que brinca com as sílabas e
palavras soltas, a poesia visual, a literatura underground…”
Zózimo Tavares voltou à contenda
para comentar o comentário do Reginaldo: “E o confrade Reginaldo, como bom fazendeiro,
é madrugador.” E, logo em seguida, o do Luiz Ayrton: “Em ambos os casos, a luta
com as palavras, como ensinava o Drummond.” Fazendeiro, estudioso e
pesquisador, acrescento eu, referindo-me a Miranda.
Não me restou opção, senão
agradecer os amigos e confrades pelos seus comentários, todos pertinentes e
untados de certa jocosidade, conquanto tenha me dirigido mais ao amigo Jônathas
Nunes, que foi o estopim de tudo isso:
“Excelentes e muito inteligentes
as suas análises e observações ensejadas pelo meu poeminha Insônia, e muito
lisonjeado fico por ele ter sido comparado ao celebérrimo poema drummondiano
titulado "No meio do caminho tinha uma pedra".
Devo dizer que lanço mão de
rimas, só que sem rigidez, e vez ou outra; e que, embora não use propriamente a
métrica, procuro e, às vezes, alcanço polimetrias em certas composições, bem
como não dispenso o ritmo das palavras ajustadas e rejuntadas.
Gostei das postagens subsequentes
dos confrades. Assim, peço licença a todos para fazer um alinhavado de montagens
e compor um texto a várias mãos, que publicarei aqui e em outros sítios
internéticos. Obrigado a todos os amigos e confrades!”
Espero tenha saído esse texto uma
aconchegante colcha de retalhos, embora sem a beleza das confeccionadas pelas
artesãs, já que este costureiro não lhes tem a habilidade e perícia; e tampouco
seja um monstro de Frankenstein, por falta de preparo e perícia deste
cirurgião.
P.s.: após ter enviado o texto
acima para os meus contatos, recebi, por WhatsApp, o seguinte comentário do
poeta Walter Lima:
“Pesadas de valor e levíssimas
palavras no reconhecimento do teu valor de poeta; (A)Note-se Poeta e dos bons
da galeria de tantos Vates piauienses.
Nada foge, nada deve, na produção, na qualidade, no esmero com a
Palavra, aos outros confrades da
finíssima arte do poetar....
Parabéns pela riqueza que já tem
produzido e também pelo muito que ainda tem a produzir, não no sentido
quantitativo, mas sim, no sentido da qualidade.
Muito comparo um poeta a abelha
que no silêncio faz seu trabalho tão importante, não precisa do alarde como das
hienas, que só vivem de risos histéricos e o apropriar-se da caça alheia.
Avoé Poeta El-Mar!”
Recebi também a seguinte mensagem do Irm.: Fernando Rocha:
"Pela primeira vez, ouso opor minha opinião à sua. O trabalho traçado por suas palavras, de certo modo, trouxe à minha mente a figura do ponto Paris - utilizado pelas exímias bordadeira da Parnaíba para unir peças da arte do bordado alinhavadas em tecidos avulsos, revelando a beleza do conjunto sem, contudo, desmerecer a beleza individual de cada parte agora unida por este enlace - uniu a singeleza de cada comentário, transformando-os em um único corpo, porém, mantendo-se fiel ao estilo individual de cada pena que os escreveu. Fantástico!
Com um fraterno abraço,
Fernando Rocha
Cadeira 32 da AMALPI
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