O cajueiro
Carlos Rubem
Ainda no meu curso primário no Grupo Escolar Costa Alvarenga, em Oeiras, no final dos anos sessenta, li num compêndio um resumo da sensível crônica “Um amigo da infância”, a qual é mais conhecida por “Meu cajueiro”, de autoria do escritor Humberto de Campos, o que me deixou enternecido.
Este maranhense de Miritiba (25.10.1885), cidade que hoje leva o seu nome, foi um grande polígrafo. Ocupou a Cadeira n° 20 da Academia Brasileira de Letras. Passou parte de sua infância e adolescência em Parnaíba. Faleceu no Rio de Janeiro no di 05 de dezembro de 1934, aos 48 anos de idade.
Quando conclui o ginásio no Colégio Estadual de Oeiras, hoje, Farmacêutico João Carvalho, em 1974, a minha turma empreendeu um passeio ao litoral piauiense. Dentre os pontos turísticos, visitamos aquela árvore chantada por Humberto de Campos, em criança.
Na meninice dos meus filhos, toda ver que ia a Parnaíba, invariavelmente, os levava para conhecer o aludido cajueiro. Fazia registros fotográficos.
Neste mês de julho que se esvai (2022), a minha filha Laís e o Rodolfo, marido dela, foram veranear em Luís Correia, cidade marítima do Piauí, vizinha a Parnaíba. Viajaram com suas gêmeas Helena e Olívia, 04 anos.
Ao retornarem, indaguei a mãe das minhas queridas netas se estiveram no reportado cajueiro, conforme recomendei.
— Pai, foi tão corrido que não tivemos tempo nem de ver árvore penteada. Hummm, resmunguei!
No dia 23 último, à noite, houve a instalação da Academia Piauiense de Cultura, agremiação da qual ocupou a Cadeira n° 11, sendo Possidônio Nunes de Queiroz (1904 - 1996), oeirense, o Patrono da mesma.
Com alguns confrades e confreiras, naquela manhã, fizemos um “city tour”. Estivemos na Lagoa do Bebedouro, o túmulo da poetisa Luíza Amélia, centro histórico, o famoso cajueiro de Humberto Campos, inclusive. Colhemos muitas imagens digitais.
Abaixo, transcrevo um excerto daquela crônica que me deixa sempre embevecido quando a leio:
“Aos treze anos de idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraço-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta do ramo mais alto abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas, como pequeninas unhas de criança com frio.
— Adeus, meu cajueiro. Até a volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde, agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho duro e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: "Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças".”
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