quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Notável legado



Notável legado 


Carlos Rubem 


Antônio  Bugija de Sousa Brito, escritor oeirense, nasceu no dia 21 de maio de 1907. Era o primogênito do casal Raimundo de Sousa Brito, farmacêutico, e de Anna Cavalcanti Monteiro Bugyja de Sousa Britto, apelidada de Yayazinha, pianista de escol. A valsa “Yaiá Bugija”, costumeiramente executada em Oeiras, foi composta pelo maestro João Hermes  Bugyja, seu avô materno.


Em 1915, o menino Catônio, como era conhecido, foi morar em Teresina com seus pais e irmãos, onde concluiu o curso primário e ginasial. Foi comerciário. Mediante concurso, tornou-se carteiro. Aprovado no vestibular de Direito, migrou para São Luís do Maranhão. Em 1930, ingressou no Ministério da Fazenda, por certame público, tendo sido lotado no Recife. Dois anos depois, foi transferido para trabalhar na Alfândega do Rio de Janeiro, onde concluiu o seu curso superior.


Casou-se com a Dona Olivia Vasques de Queiroz em 1934. Dessa união houve duas filhas: Miridan (historiadora) e Teresina (pintora).


Como dirigente do Centro Piauiense, representação do nosso estado na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, criada pelo governador Leônidas Melo, nos anos quarentena, fez benéficas gestões administrativas em nível federal. Em particular, muito se esforçou para superar os entraves burocráticos junto ao Ministério da Educação visando a criação do Ginásio Municipal Oeirense.


Membros de diversas instituições culturais a exemplo do Instituto Histórico de Oeiras (IHO) e da Academia Piauiense de Letras (APL). Publicou vários livros a saber: MURALHAS (poesia); MIRIDAN (lendas indígenas), 1960; ZABELÊ, 1962; ITAINS ,1967; O PIAUÍ E A UNIDADE NACIONAL , 1976; NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS, 1977, QUATRO ESCORÇOS BIOGRÁFICOS, 1978; A ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS NA CADEIRA N.12 , 1981; DESAJUSTES E DESAJUSTADOS, vol I 1985; DESAJUSTES E DESAJUSTADOS, vol II  1986; TRAÇOS EM 5 BIOGRAFIAS,1987; A HISTORIA DA INGLATERRA DO PEQUENO ARTHUR (tradução), 1989; TRES ARTÍFICES DO VERSO, 1991; AS HISTORIETAS DO MENINO CATÔNIO, 1992.


Conheci-o em 1964, talvez. Veio do Rio de Janeiro dirigindo a sua Rural pelo sul do estado, pois pretendia conhecer a Lagoa de Parnaguá. Hospedou-se na Casa-de-Fazenda do Canela, com seu primo Joel Campos (1897 - 1991), meu avô materno. 


Ao se aposentar em 1978, comprou a propriedade Riacho Fundo, em São Pedro do Piauí, onde, isolado do mundo, escreveu muitas de suas obras e outras produções literárias.


Apaixonado pela terra natal, vez outra, passava temporada em Oeiras, recepcionado pelo aludido primo. Homem de fino trato, prestativo, “causeur” brilhante.


Em 1987, por cá aportou com toda sua família para comemorar os seus 80 anos de idade. Foi uma festa bonita que contou com missa gratulatória, sessão solene do IHO tendo sido saudado pelo Professor Possidônio Queiroz. Em seguida, as suas filhas editaram o livreto Ecos da comemoração de um aniversário.


Por mim convidado, ao ensejo do centenário de nascimento do poeta Nogueira Tapety, em 1990, pronunciou substanciosa palestra sobre a vida e obra do homenageado. 


Naquela oportunidade, lembro-me muito bem, no terraço da casa do vovô Joel, contando estórias do folclore local para a minha filha Laís e meus sobrinhos. Parecia uma criança!


Demonstrou em carta para mim o seu propósito de vir a Oeiras, julho de 1992. Como me disse, seria uma viagem de despedida!... Fui pegá-lo no aeroporto de Teresina. Chegou acompanhado da filha Miridan. 


Quis visitar a antiga Fábrica de Laticínios dos Campos, em Campinas do Piauí, antiga possessão oeirense. Admirou-se das linhas arquitetônicas daquele centenário prédio que ainda hoje clama pela sua restauração. Previamente articulado, fomos almoçar em Simplício Mendes na casa do Dr. Oton Lustosa, Juiz de Direito à época, hoje desembargador do TJ/PI e membro da APL.


Na véspera do seu retorno, levei-o aos Correios. Mantinha intensa atividade epistolar. Antes de descer do carro, tirou dos bolsos do paletó um tufo de dinheiro, cujo padrão monetário nem sei qual era, e me repassou. Atribuo, hoje, que seria mais de R$ 5.000,00. Pediu-me que distribuísse tal valor aos conterrâneos que tivessem dificuldades de manter seus estudos. Pactuamos que eu não iria revelar este fato, o que ora faço em louvor de sua grandeza moral. 


Interessante, há pouco meses, em meio a uma velha papelada, localizei telegramas subscritos pelo Bugija Brito ao vovô Joel notificando-o, em período natalino, da remessa de vales postais em favor de desconhecidas pessoas carentes. Muito solidário, bondoso, caritativo.


Faleceu no Rio de Janeiro no dia 04 de dezembro de 1992 vítima de complicações respiratórias. Desejava que seus despojos mortais fossem sepultados em Oeiras, o que não ocorreu.


A Academia Piauiense de Letras, em 2007, promoveu sessão solene pelo transcurso do seu centenário de nascimento. O município de Oeiras, o Instituto Histórico de Oeiras e a Fundação Nogueira Tapety se consorciaram e cumpriram vasta programação alusiva a esta efeméride, inclusive com a fixação de uma placa comemorativa na casa onde nasceu o ilustre escriba, situada na Praça das Vitórias, n° 106, coração da cidade. A viúva e familiares marcaram presença em ambos eventos.


Deixou notável legado humanístico! 

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