sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O INOVAÇÃO E A PRAÇA DA GRAÇA

Membros do Jornal Inovação, sob o cajueiro de Humberto de Campos, vendo-se, da esquerda para a direita, no 1º plano: Bartolomeu Martins, Vicente de Paula (Potência), Elmar Carvalho e Canindé Correia; 2º plano: Danilo Melo, Francisco (Neco) Carvalho, Diderot Mavignier, Franzé Ribeiro, Sólima Genuína, Bernardo Silva, Reginaldo Costa e Paulo Martins; 3º plano: Jonas Carvalho, Israel Correia, Porfírio Carvalho, Wilton Porto, Alcenor Candeira Filho e Flamarion Mesquita. Percebe-se, nesta fotografia, a felicidade dos retratados com esse reencontro, posto que vários moravam em outros estados e municípios. Hoje, a maioria já não reside em Parnaíba



O INOVAÇÃO E A PRAÇA DA GRAÇA


Elmar Carvalho


Recebi ontem, através de e-mail enviado pelo amigo e chargista Fernando Castro, várias fotografias dos escombros da Praça da Graça, destruída por ordem desastrada do prefeito João Batista Ferreira da Silva, no final dos anos 70, na intenção de construir uma nova praça. Da noite para o dia, transformou o coreto, os jardins, a pérgula, os passeios, com seus belos traçados, em ruínas.

Como eu morava na referida praça, no apartamento dos Correios e Telégrafos, em virtude de meu pai ser o chefe da agência da ECT, todos os dias eu enxergava os tapumes que escondiam os destroços. Os dias e os meses foram passando, e nada de a obra de reconstrução ser iniciada. Por esse motivo, o jornal Inovação, fundado por Reginaldo Costa e Franzé Ribeiro, que já vinha “batendo” nos equívocos e mazelas da administração municipal, começou a denunciar acirradamente mais esse erro do alcaide Batista Silva e a cobrar  o início das obras, em todas as edições.

Na época, como todos sabem, não havia internet e Parnaíba contava apenas com a rádio Educadora, a pioneira na radiodifusão estadual, com o jornal tipográfico Folha do Litoral e com o Norte do Piauí, salvo involuntária falha de minha memória. Os dois primeiros veículos de comunicação pertenciam ao grupo dos Silva e o terceiro, a Mário Meireles. O Inovação, embora na época fosse mimeografado e feito no formato apostila, vendia mais do que esses dois hebdomadários.

Era comentado, passado de mão em mão e enviado para fora. Era feito na base de duros sacrifícios e dificuldades, uma vez que os “inovadores” não tinham recursos financeiros. Não entrarei em detalhes, posto que seria uma longa história, e uma vez que já escrevi um trabalho sobre esse assunto, intitulado “Jornal Inovação – um Depoimento”, que se encontra na internet, bastando que se recorra aos sites de procura ou pesquisa.

Certa noite, quando eu saí do apartamento para a rua, vi os tapumes serem derrubados por várias pessoas. Após, foram empilhados e incendiados. Imediatamente, montei em minha motocicleta e fui chamar o Reginaldo Costa e o Bernardo Silva, que moravam na rua Vera Cruz. Eles haviam acabado de chegar de Teresina, onde mantiveram contato com o advogado Celso Barros Coelho, para se defenderem de um processo criminal que o prefeito havia ajuizado contra eles, o qual terminou sendo arquivado pelo juiz e contista Magalhães da Costa, que depois chegou a desembargador e passou a pertencer à Academia Piauiense de Letras. 

Recentemente, os membros do Inovação foram chamados por certo jornalista de “mumificados”, os quais teriam como feito mais relevante o fato de terem derrubado os tapumes e lhes terem ateado fogo. A afirmativa mereceu resposta do jornalista B. Silva, que disse nunca nenhum dos membros do Inovação ter reivindicado tal “heroísmo”. Também foi repudiada por Reginaldo Costa e Wilton Porto.

Com efeito, não fomos os “inovadores” que tocamos fogo nas tábuas que formavam o que o jornal chamava de “muro da vergonha”. Entretanto, podemos afirmar categoricamente que foi a campanha vigorosa e isolada desse pasquim, que foi contra a destruição da praça e que clamava pela sua reconstrução no modelo antigo, que achávamos muito mais belo, além de que fazia parte da memória afetiva, sentimental e histórica da velha urbe, que provocou aquele verdadeiro levante da juventude parnaibana.

No dia seguinte (31.08.1979), houve uma mistura de passeata cívica e carnaval, com carros desfilando em redor da praça, com foguetes, bombas e buzinaços estilhaçando o silêncio da manhã radiosa. O fato mereceu uma edição especial e histórica do jornal. Podemos afirmar que foi graças ao bom combate do Inovação que a reconstrução do logradouro tomou ritmo acelerado.

No entanto, o jornalista cometeu outro grave erro, porquanto as “múmias” estão mais vivas do que nunca, porque continuam escrevendo, publicando livros, colaborando com jornais, revistas, sites e blogs, exercendo seus cargos, encargos e funções; inclusive, vários “mumificados” pertencem às principais instituições culturais de Parnaíba e do Piauí. O nobre jornalista é que parece haver perdido o faro e o bonde da história. 

27 de abril de 2010                     

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