Fonte: Gloogle |
O PATO E O FAZ-TUDO
Elmar Carvalho
Após o término da audiência, o
senhor Valdemiro Sousa confessou-me ser uma espécie de faz-tudo, pois é
cabeleireiro, encanador, marceneiro, pedreiro, lavrador, e talvez mais alguma coisa
que eu possa haver esquecido. Disse-lhe que ele era um polivalente, e lhe
perguntei se poderia contar a anedota do pato. Demonstrei-lhe que um pato faz
muitas coisas, como andar, nadar e voar, mas que nenhuma dessas atividades ele
faz com eficiência.
Tem chouto lento, pois tem as
pernas curtas, os pés em forma de palmas ou pás e o corpo pesado e um tanto
parecido com o casco de um barco, o que lhe faz ser algo desengonçado; o voo é
curto e rasteiro, o que não lhe dá muita vantagem no caso de uma fuga; o seu
nado, embora gracioso, é lerdo, o que lhe torna uma presa fácil de um predador
como um jacaré, por exemplo.
Sousa, entendendo o meu recado
brincalhão, não lhe passou recibo e nem se deu por achado, e imediatamente
respondeu, bem-humorado, que fazia bem-feito as coisas que fazia. É claro que
temos o chamado homem de sete instrumentos, que geralmente não é exímio em
nenhum deles ou, na melhor das hipóteses, só domina um ou dois, mas
dificilmente vindo a ser virtuose ou mestre.
Elevado ao paroxismo, o
especialista é aquele que sabe tudo de nada, e o generalista é o que sabe nada
de tudo. Ora necessitamos das profundidades abissais e quase obscuras de um
especialista, ora precisamos da visão rasa, mas ampla e geral de um mestre das
superficialidades. O mundo é composto e plural, e assim o devemos aceitar.
28 de abril de 2010
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