Fontes Ibiapina |
MEMÓRIA JUDICIÁRIA DO PIAUÍ
Valério Chaves Pinto
Escritor e desembargador
aposentado do TJPI
Muitas personalidades piauienses, embora tenham se projetado no cenário nacional, pelo seu valor intelectual e destacada atuação nas diversas áreas do saber, permanecem na obscuridade, sem oportunidade de serem conhecidas pelas gerações modernas.
Os mais jovens, principalmente,
desconhecem o que muitas dessas personalidades realizaram no cenário cultural,
na magistratura, na política, nas letras jurídicas e outros ramos do
conhecimento; as vezes lembradas pelo nome de uma rua ou de uma avenida de
Teresina, ou de cidades do interior do Estado.
Dentre essas figuras algumas
honraram os quadros da magistratura estadual através de sua atuação firme proferindo decisões que muito
dignificaram a vida do Judiciário Piauiense.
Sabemos que a vida dos homens
constrói-se mostrando o tempo e a sua oferenda, tecendo o fio invisível de cada
instante, assentando-se na rotina do trabalho em torno do qual se edifica o
cenário grandioso da vida.
O desembargador Cristino Couto Castelo
Branco, ex-presidente do TJPI, escrevendo sobre homens que iluminam, ressaltou que:
“na história de cada homem de fé e de talento há um rastro de luz a lhe aclarar
os caminhos. Eles brilham por si mesmos como estrelas”.
Por ocasião das solenidades de posse
de novos acadêmicos nas Academias de Letras Piauienses seria oportuno evocar a
memória e o trabalho de figuras das letras e da magistratura piauienses que honraram a inteligência do Piauí e contribuíram
para a grandeza do nosso estado, legando
as gerações que lhes sucederam exemplos de abnegada vocação para distribuição
da Justiça, exercitando a inteligência mais detidamente na arte de aplicação do
Direito.
Com efeito, a atitude de reconhecer, lembrar e homenagear é, portanto, uma atitude
de desprendimento e profunda demonstração de consideração e afeto.
Vale a pena relembrar, por
exemplo, os primeiros desembargadores que compuseram o Tribunal de Justiça do
Piauí, em 1891, e outros que o Poder Judiciário do Piauí muito se orgulha pelo
exemplo, pela cultura, competência, retidão de caráter e grandeza de qualidades
espirituais.
Helvídio Clementino de Aguiar foi
o primeiro presidente do TJ, tendo sido juiz de direito das comarcas de União,
Campo Maior e Teresina;
Os demais membros foram Polidoro
César Burlamaqui, Álvaro de Assis Osório Mendes, João Gabriel Baptista, João
Gabriel Ferreira e Augusto Collin da Silva Rios.
Poderíamos citar muitos outros
nomes que brilharam o resplandeceram na
magistratura piauiense e nas letras jurídicas, tais como: Clodoaldo Conrado de
Freitas, Álvaro de Assis Osório Mendes, Cristino Couto Castelo Branco, Edgard
Nogueira, Anísio Auto de Abreu, Cromwell Barbosa de Carvalho, Joaquim Vaz da
Costa, Esmaragdo de Freitas e Sousa, Fenelon Ferreira Castelo Branco, Fernando
Lopes e Silva Sobrinho, Gabriel Luís Ferreira, Higino Cícero da Cunha, Vicente
Ribeiro Gonçalves, Raimundo Barbosa de Carvalho Baptista, José de Arimathéa
Tito, José Coriolano de Sousa Lima, José Vidal de Freitas, Robert Wall de
Carvalho, Simplício Coelho Resende, Simplício de Sousa Mendes, Luís de Morais
Correia, João Nonon de Moura Fontes Ibiapina, e tantos outros.
Não andassem as palavras tão
vulgarizadas, e não se triviasse tanto no seu uso vicioso, a só menção desses
nomes bastaria para definir a individualidade e a indicar o que há de mais
expressivo na nobreza de suas biografias, cada qual nos processos intelectuais
e nas atividades com que firmaram suas personalidades.
Poderíamos citar ainda nomes como
João Crisóstomo da Rocha Cabral – uma das maiores autoridades em direito
eleitoral do país, autor do Código Eleitoral brasileiro instituído pelo Governo
Provisório de Getúlio Vargas em 1930; poeta e jurista, modelo de estudioso e
intérprete, e que hoje, com merecida justiça, empresta seu nome ao prédio-sede
do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.
Vale lembrar também nomes como
Elias de Oliveira e Silva que em 1919, após bacharelar-se em direito em
Fortaleza, exerceu a Promotoria Pública em Teresina onde lecionou Psicologia e
História da Filosofia, no Liceu Piauiense, na Escola Normal e na Faculdade de
Direito.
Além de magistrado, foi juiz
Distrital em Batalha e de Direito em Piracuruca, exercendo depois a advocacia e
o jornalismo.
Pertenceu à Academia Piauiense de
Letras, da qual foi sócio fundador em 1917, ocupando a cadeira nº 28 que teve
como patrona a poetisa piracuruquense Luiza Amélia de Queiroz Brandão.
É autor da arrojada tese “Criminologia
das Multidões”, com prefácio do ministro Bento de Farias e que mereceu
justificados elogios da crítica literária nacional e estrangeira.
Como se pode ver, as
personalidades aqui destacadas, durante sua existência de dedicação ao trabalho
souberam dignificar, como juízes, a magistratura, e como escritores, as letras
piauienses, além de terem legado, como chefes de família, admiráveis exemplos
de honradez e honestidade.
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