sábado, 9 de setembro de 2023

PRAÇA BAIXA DA ÉGUA

 

Fonte: Google

PRAÇA BAIXA DA ÉGUA


Valério Chaves

Des. Aposentado do TJPI

 

Pouca gente sabe que muitas ruas e avenidas bastantes conhecidas de Teresina já tiveram nomes engraçados ou curiosos e que ao longo do tempo sofreram modificação em sua nomenclatura por atos administrativos municipais.

A atual Praça Landri Sales (praça do Liceu) por exemplo, era chamada até 1939 de Praça Baixa da Égua, isto porque o local era ponto de ótima pastagem para animais. O professor e pesquisador barrense Arimathéia Tito Filho conta no seu livro MEMORIAL DA CIDADE VERDE, editado pela COMEPI (Companhia Editora do Piaui) em 1978, que tal denominação surgiu de um episódio envolvendo dois personagens: um negro e uma égua.

 É que no local - diz o citado autor - existia muito pasto para animais, e os donos desses animais (jumentos, cavalos e éguas) peavam com amarras nos pés, ou seja, com peias. Com o passar do tempo, começaram a aparecer ladrões de peias, até que um certo dia “apareceu morto, com o crânio partido, um negro, e perto dele uma bonita égua cardã, que tinha a alça da peia desamarrada e o casco do pé direito manchado de sangue.

 A partir de então o campo de pastagens ganhou o nome popular de BAIXA DA ÉGUA. Depois se chamou Largo do Poço da Nação (abertura de um poço na praça). Seguidamente, praça 15 de novembro e, finalmente, praça do Liceu (batismo popular)”.

A propósito, a praça Landri Sales ou praça do Liceu, foi palco no passado, de outro episódio curioso envolvendo não mais uma égua, mas um vigia noturno da Prefeitura Municipal de Teresina, apelidado de “João Mago”. Do livro “Casos de Justiça e Outras Histórias que a Vida Conta” (pág. 105), editado em 2015 pela Gráfica O Povo, extrai-se o seguinte episódio ocorrido em meados do século passado na praça do Liceu ou como queiram Baixa da Égua:

“Passava da meia noite. A iluminação pública vinda da Usina Santa Luzia, na Piçarra, já havia se apagado, e não se ouvia a voz de um só cristão. A praça parecia cemitério na escuridão.

“Neste cenário melancólico, João Mago fazia as vezes de vigia noturno... o que lhe custava virar as noites sem pregar os olhos. De repente, apareceu-lhe  o vulto de uma mulher a poucos metros de distância, sem nenhuma roupa no corpo, do jeito que nasceu, sorrindo e insinuando-se com o corpo nu. João Mago sentiu um arrepio no corpo supondo que era alguma assombração do outro mundo ou talvez a alma da “Não se Pode” (personagem em forma de mulher alta, vestida de branco, criada pela imaginação popular de Teresina de outrora levando medo e terror a quem se aventurasse sair tarde da noite pelas ruas).

Porém, tudo não passou de um susto. Sem muito esforço percebeu que se tratava de “Maria Pé Largo” – uma doida que toda vez que fugia do asilo, saia à toa pelas ruas e praças da cidade, completamente nua à procura de que lhe desse comida ou de algum irresponsável aproveitador para lhe fazer o mal, inclusive sexo de graça.

“João Mago não pôde resistir à tentação, mesmo sabendo que se tratava de uma doida. Não vou perder esta chance rara – teria dito ouvindo sua própria respiração e, acrescentado: você vai ver quanto custa aparecer nua aqui à esta hora da noite.

“Tudo ia muito bem encaminhado para os “finalmente” quando de repente a doida, num gesto de alucinação, entrançou as pernas na cintura do guarda, e começou a gritar a plenas pulmões: empurra o (p...) fio duma égua...empurra.. De nada adiantava pedir para a doida parar de gritar. Na manhã seguinte dirigiu-se à Prefeitura para pedir desculpas ao prefeito. Não adiantou. A demissão foi inevitável.

 (Episódio baseado em história contada ao autor pelo enfermeiro Pedro Margarida, in memoriam).

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