Foto meramente ilustrativa Fonte: Google |
7 DE SETEMBRO (*)
I ATO
Na parada de 7 de setembro
de 1981
os patriopanças
ladrões da finança pública
com suas estufadas panças
discursam sobre heroísmo,
patriotismo e civismo.
Na parada de 7 de setembro
de 1981
criancinhas pobres
cheias de vermes
e vazias de esperanças
desfilam famintas
sob a ironia de um
Sol escaldante e
indiferente
de- cam-
sem- ba-
fi- le-
lam
an-
tes
de cansaço
de sede
e de fome.
O sorriso
é lindo
mas o olhar é triste.
E os pequenos infantes
sem reinado
sem rei nada
nada sabem
do heroísmo
do patriotismo
do civismo
dos patriopanças
de panças cheias
de tripas corruptas.
E a criança
sob o sol causticante
de nossa pátria tropical,
com os dentes cariados
e a barriga faminta
cheia de vermes,
carregando faixas sobre
SAÚDE –
EDUCAÇÃO – ALIMENTAÇÃO
fica triste e chora
e não sabe o que
faz ali.
II
ATO
Mas na parada de 7 de setembro
de 1981
trabalhadores não convidados
pelos donos do poder
desfilaram armados
de picaretas, foices,
machados, enxadas e
reticências.
Era um mar
era um Marte
era um martelo
os trabalhadores
conscientes
da força de seu trabalho
da força de seu cutelo.
Não precisavam
de cartazes:
os instrumentos falavam
que eles construíam
no dia a dia
a Independência do Brasil!
Mas os carrascos
os
ascos
da repressão
dispersaram os
manifestantes
alegando subversão.
Ai! Guernica. Ai! Picasso
Ai! Grito explodindo
em forma de cogumelo
de uma grande dor
atômica
atônita
agônica
e sem
sentido.
(*) Este poema foi publicado no jornal Inovação, em solidariedade ao padre Ladislau João da Silva, que havia sofrido, se não estou enganado, um espancamento por parte de um latifundiário, por causa de uma manifestação que ele havia organizado, com a participação de trabalhadores rurais de Esperantina.
Lembro muito dessas faixas: Saúde, Educação, Alimentação.
ResponderExcluir