sábado, 9 de novembro de 2024

O SERESTEIRO

Fonte das ilustrações: Google



O SERESTEIRO

Joames 
(Joaquim Mendes Sobrinho)


Dizem que sou perdulário,
Vagabundo e aventureiro, 
Não ligo para o trabalho 
Nem dou valor ao dinheiro, 
Mas eu sou é repentista,
Cantador e seresteiro.

Só tenho por companheiro
Seguindo minhas pegadas
O violão que dedilho
As cordas bem afinadas
Fazendo as minhas serestas
Ao luar das madrugadas.

As ruas abandonadas
Não me oferecem perigo,
A solidão me acompanha,
O vento brinca comigo,
Demoro quando desejo,
Quando não desejo eu sigo.

Vivendo como mendigo
Aos olhos da raça humana,
Tem dia que como um pão,
Outro dia uma banana,
Mas quem me julga infeliz
Redondamente se engana.

Assim entra e sai semana
Sem ter preocupação, 
Meu lar de noite é a rua,
A minha cama é o chão 
De onde eu vejo as estrelas
Cintilando na amplidão. 

Dentro do meu coração 
Não existe devaneio,
Se a barriga está vazia
O meu crânio é sempre cheio
E a minha maior virtude
É não querer nada alheio.

De dia faço recreio
Na sombra dos arvoredos
Sentindo as cordas sonoras
Brincarem com os meus dedos
E à noite faço orações
Contando a Deus meus segredos.

A brisa me conta enredos 
Das mais bonitas histórias, 
Faço poemas pra lua
Olhando as estrelas flores
Gravando os dramas da vida
No pen-drive das memórias.

Eu não corro atrás de glórias
Com Aquiles e Jasão,
Não desejo ser Homero,
Alexandre ou Salomão,
Porque sei que  amanhã 
Serei pó como eles são.

Tocando em meu violão 
Pelas ruas da cidade,
Satisfeito vou cantando
As canções da liberdade 
Sem pensar em desventuras
Nem dar chance pra saudade.

Faço o que tenho vontade,
Porque só desejo o bem,
Sei que a natureza dá 
E às vezes tira também,
Por isso tendo em excesso
Vou doando a quem não tem.

Não discrimino a ninguém,
Nada me fere ou me agita,
Vou vivendo a minha vida
Sem saber o que é desdita,
Buscando a quem me procura
E evitando a quem me evita.

Tenho a viola bonita
Pra viver tocando em paz,
As ruas que me acolhem,
O rocio que a noite traz,
Pra quem não deseja nada
Já é ter coisas de mais.

Nos meus repentes finais
Convido meus companheiros
Poetas e repentistas,
Cantadores violeiros,
Afinem suas violas
E vamos ser seresteiros!

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