Um dia chuvoso no sertão de mim
Por Fabrício Carvalho Amorim Leite
Dia chuvoso
no sertão.
Capim mimoso, choroso.
Os pingos, finos e certeiros, lembram o coaxar dos sapos-cururus escondidos nos
cupinzeiros.
Como podem anfíbios tão grandes sumir por oito meses na terra seca?
Os mandacarus
já sorriram verdes no meio da estiagem.
É como se soubessem.
Formigas
aladas, cupins e borboletas-azuis dançam no ar,
enquanto o sol e as nuvens acertam uma trégua breve.
Mas eu,
infelizmente, não sou sapo.
Nem mandacaru. Nem borboleta.
Sou homem — cheio de si e de silêncio —
triste, num dia escuro,
enquanto um irmão ali, tão perto,
tateia no escuro por uma partícula de luz.
Não é sequer Assum Preto,
que na música chora em forma de canto.
O que vejo…
não canta.
Não fala.
Apenas geme.
Geme comigo,
nas letras,
na caneta de tinta preta,
que um dia há de pintar essa vida
com todas as dores do arco-íris.
Quando as
nuvens negras, enfim,
combinarem com o sol o parto
do seu filho mais bonito:
o arco-íris.
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