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“A Academia Piauiense de Letras está
desenvolvendo, ao longo deste mês de julho, a série “O que é ser imortal para
mim”, uma proposta jornalística, publicada em forma de matérias reflexivas no
site oficial da APL.
A série reúne breves depoimentos e
impressões pessoais dos membros da Casa em torno de uma pergunta essencial:
Qual é o verdadeiro sentido de
pertencer a uma instituição fundada em 1917 para preservar, cultivar e
eternizar a palavra?”
Em virtude da solicitação acima,
resolvi escrever o depoimento abaixo, para publicação em meu blog e em futuro
livro. O texto serviu para que a jornalista Vanize Lemos produzisse uma bela
matéria jornalística.
Da Imortalidade Acadêmica
Elmar Carvalho
Velhos alquimistas buscavam transformar enxofre em ouro. Até
hoje essa fórmula não foi encontrada, apesar do imenso avanço da química.
Entretanto, o sonho da imortalidade é mais antigo, e, segundo
a Bíblia, a perdemos com a queda de Adão.
Remonta, portanto, aos tempos de Gênesis e à antiguidade
mitológica greco-romana.
A Sibila de Cuma pediu a Apolo que lhe concedesse tantos anos
de vida quantos fossem os grãos de areia que cabiam em sua mão cheia.
O deus, como o gênio perverso da lenda árabe, distorcendo o
seu pedido, deu-lhe a eternidade, mas não lhe deu o eterno frescor da
juventude.
E a Sibila de Cuma, ao perder o vigor e a beleza, apenas
desejava morrer.
E o elixir da longa vida jamais foi encontrado ou fabricado.
O valente império persa de dez mil homens ganhou a legenda de
imortais, porque, logo que um soldado morria ou se tornava inválido, era
imediatamente substituído por outro homem.
Assim, dizem os doutos e eruditos, os acadêmicos se tornam
imortais de modo semelhante, porque, logo que um “silencia”, é substituído por
um outro intelectual, permanecendo sempre o mesmo o número de acadêmicos.
Mas não seria essa a imortalidade acadêmica desejável. O que
se almeja é que a obra artística do membro do sodalício permanecesse sendo lida
pelos pósteros, o que nem sempre acontece.
Ataulfo de Paiva, que não tinha obra de valor, cortejou os
“imortais” e conseguiu entrar na Academia Brasileira de Letras.
Mário Quintana, ao contrário, um dos maiores poetas do
Brasil, bateu três vezes à porta da ABL, mas as suas portas douradas não se
abriram. Quintana, no Poeminho do Contra, escreveu estes versos imortais:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
No meu discurso de posse, nas minhas primeiras palavras,
disse sobre o meu antigo desejo de pertencer à nossa Academia Piauiense de
Letras:
“Desde o início de minha adolescência, ao ler revista desta
Academia, nutri o desejo de pertencer a este silogeu. No exemplar, além de
várias matérias, havia discursos de posse e crítica literária. Jovem,
interiorano e humilde, achei um desiderato de difícil realização. Prossegui em
meus estudos e em minha labuta literária, dando tempo ao tempo, na espera das
oportunidades que pudessem surgir. Não fiz desse desejo um cavalo de batalha
nem uma obsessão. Trabalhei e perseverei, sem forçar barras e sem cometer
insolências e rebeldias sem causa, e também sem histéricas e inconsequentes
iconoclastias. Agora, os senhores abriram os portais da Academia para mim, e eu
lhes sou muito grato por isso, e saberei ter a gratidão da amizade
desinteressada e do sadio e assíduo companheirismo.”
Ingressei no dia 21 de novembro de 2008, recebido por um
magnífico discurso de Celso Barros Coelho, um dos maiores oradores e eruditos
do Piauí.
Antes de tomar posse, um amigo escreveu que eu já podia
morrer em paz, porquanto já me havia tornado “imortal”.
A esse amigo direi: não, amigo, pelo simples fato de ter me
tornado membro da APL não me tornei imortal. Gostaria de me tornar lembrado
pelos textos em prosa e poemas que já escrevi.
Mas, em verdade, seria uma imortalidade precária.
Parafraseando Fernando Pessoa, diria que, com o passar dos anos, o meu nome
desapareceria da tabuleta; depois, desapareceria a própria tabuleta. E,
finalmente, será extinto este Planeta, esta “aldeola do espaço”, onde estas
coisas aconteceram.
Gostaria de me tornar imortal “na mão de Deus, na sua mão
direita”, como disse o excelso poeta Antero Tarquínio de Quental.
Excelente. Um tema extraordinário com agradável exposição.
ResponderExcluirMuito obrigado, caro amigo.
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