NO SÍTIO CARAJÁS
Elmar Carvalho
Resolvemos fazer uma parada
estratégica no bar do Lira, para não chegarmos cedo ao sítio Carajás, onde
haveria uma comemoração festiva do professor Neto Chuíba e seus familiares, e
também para que ficássemos a contemplar a pequenina serra grande de Santo
Antônio do Surubim.
Ficamos a conversar eu, meu irmão
César e o Zé Francisco Marques, quando este recebeu uma ligação telefônica, que
lhe chateou no início, uma vez que o telefonema apresentava defeitos técnicos,
e, além do mais, era em inglês, não
obstante ser ele um mestre nesse idioma. No início o Zé Francisco achou que
poderia ser uma espécie de trote, mas quando a ligação melhorou e ele pôde
ouvir bem as palavras, passou a também responder em inglês, até porque leciona
essa disciplina.
Na verdade, era o professor Neto
avisando que já estava na hora de a gente comparecer ao seu evento. Ao
seguirmos pela estrada de piçarra, que liga Campo Maior a Alto Longá, o Zé Lira
nos ultrapassou em sua motocicleta, em alta velocidade; mais parecia um foguete
ou um Flash Gordon motorizado. Levava uma caixa de cerveja na garupa do
veículo. Logo, constatamos que o destinatário era o sítio Carajás.
Na casa ampla estavam hospedados
vários parentes do Neto, inclusive irmãos, tios e sobrinhos. Estavam presentes
o sr. Celso da Costa Araújo e a esposa Nevinha. Ele é funcionário aposentado da
usina da barragem de Sobradinho. Contudo, por sua dedicação e eficiência, foi
recontratado pela empresa. Na saída, o simpático casal nos convidou para
passarmos uns dias em Sobradinho, em seu sítio. Prometemos ir. Várias e
coloridas redes estavam armadas ao longo da varanda, em franco convite à
preguiça, que ninguém é de ferro.
Quando o professor Neto pôde nos
fazer companhia, o assunto do telefonema em inglês veio à tona. Para atiçar os
brios do Zé Francisco, eu disse que o Neto lhe dera uma surra de língua ao
telefone, e que ele mal conseguira rastejar no idioma de Shakespeare. Porém o
Zé Francisco insistiu na “tese” de que sua dificuldade fora mesmo por causa da
ligação que não estava boa. Foi uma boa justificativa e demos o caso por
encerrado.
Do sítio, temos uma bela visão da
serra e dos tabuleiros campomaiorenses, que nessa época estão verdes e repletos
de babugens; mais pareciam um jardim. Ao lado da cerca, havia vários mandacarus
e xique-xiques. Por isso, quando dediquei o meu livro Noturno de Oeiras e
Outras Evocações ao dono da casa, escrevi que com tantos xique-xiques o sítio
Carajás não poderia deixar de ser mesmo chique.
O nosso anfitrião na verdade se
chama Antônio José Araújo Silva. O nome Neto Chuíba, pelo qual é conhecido, é
uma homenagem ao seu avô, legendário vaqueiro, patriarca do clã, que tinha essa
alcunha, praticamente incorporada como nome de
família. Com a morte de seu pai, o Neto, ainda bem jovem, transformou-se
num esteio da família, e foi quase uma espécie de pai para os seus irmãos
Osmar, João e Vinícius, contribuindo decisivamente para a criação deles, ao
lado de sua mãe, dona Socorro, que,
embora viúva, não perdeu o ânimo e guardou a Fé.
Os três irmãos foram para
Carajás, e hoje desfrutam de boa situação econômica, como empregados da
Companhia Vale (do Rio Doce). Anualmente, durante as férias, visitam a terra
natal. Como uma gratidão ao local que lhes acolheu e lhes deu condição de sobrevivência
digna, batizaram o sítio de Carajás. O Neto é hoje um dos mais respeitados
professores de Inglês, e certamente poderia ser aplicado a ele o que se
atribuiu a Rui Barbosa: capacidade de ensinar inglês aos ingleses.
Coroando esta crônica, afirmo que
a libação foi na medida certa e as iguarias, fartas e variadas. Sem dúvida, foi
um inesquecível dia de domingo.
28 de dezembro de 2010
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