sexta-feira, 11 de maio de 2018

A BALADA DE NARAYAMA

Fonte: Google


A BALADA DE NARAYAMA

Valério Chaves
Des. inativo do TJPI



                Na vida do servidor público brasileiro que completa 75 anos de idade talvez aconteça a mesma forma como na lenda mostrada no filme “A Balada de Narayama”, do diretor japonês Shohei Imamura (Palma de Ouro 1983).  

                A história do filme é baseada numa lenda sinistra chamada Ubasuteyama, que retrata a ideia do Monte Deus Narayama, considerado pelos japoneses como curador dos envelhecidos.

                Trata-se de uma realidade dramática vivenciada no século XIX na época do Japão feudal e extremamente pobre, onde uma comunidade de aldeões de agricultores travava uma luta diária pela sobrevivência, sendo preciso dosar a disponibilidade de comida com a quantidade de pessoas a serem alimentadas.

                 Sem médicos e sem remédios, a única alternativa encontrada para a sobrevivência era a morte de quem completasse 70 anos de idade. O homem ou mulher que atingisse essa idade era carregado pelo filho em suas costas até o topo da montanha sagrada de Narayama para morrer junto de outros frágeis idosos adormecidos na neve congelante.

                Em seu ensaio sobre simbolismo (1979) o escritor romeno e cientista das religiões Mircea Eliade (1907-1986), relata que o simbolismo da montanha representava tudo o que estava além do homem na vida que precede a sua morte. É por este motivo - diz ele - que muitas montanhas são tidas como sagradas, pois se elevam verticalmente em direção aos céus e é nelas que o homem pode subir a fim de diminuir sua distância com o divino.

                Paradoxalmente, no Brasil, a partir da vigência da Lei Complementar nº 152/15, que alterou a redação do inciso II, § 1º, do art. 40 e o caput do art. 100 da Constituição Federal, servidores públicos que completam 75 anos de idade, por uma imposição constitucional e rendidos em holocausto ao tempo de vida, são sacrificados no cepo implacável da aposentadoria compulsória enquanto aguardam a morte pacífica.

                A boa nova é que do idoso de Narayama aos dias atuais, a chamada "Terceira Idade" (aqueles com 60 anos ou mais) vem se consolidando como uma nova força alternativa de trabalho para empresários e empreendedores, usufruindo do que têm de melhor e mais saudável, sem trazer desonra ou precisar de um familiar por perto para carregá-lo nas costas rumo ao sacrifício final no alto da montanha existencial.    

quinta-feira, 10 de maio de 2018

O QUE É POESIA

Fonte: Google


O  QUE  É  POESIA

Alcenor Candeira Filho
Da APL. Poeta e escritor

     O que é poesia?

     De forma simples pode-se dizer que poesia é a arte da palavra que traduz uma percepção subjetiva da realidade. É a transformação de ideias e de emoções em palavras carregadas de significado e de expressividade.

     Na ARTE RETÓRICA E ARTE POÈTICA, Aristóteles ensina  que a poesia é imitação (mimésis) pela voz e, dessa forma,  se diferencia das artes plásticas que imitam pela cor e pela forma. A mimésis, a que a expressão metafórica está intimamente ligada, é o ponto central na caracterização da natureza da poesia. Partindo dessa premissa, Aristóteles passa a estudar as diferentes espécies de poesia segundo os objetos imitados, a origem da poesia e seus gêneros.

     Se a poesia é mimésis e metáfora, conclui-se que ela representa a verdade através da mentira: “A arte é uma mentira que revela a verdade” (Picasso).

     O entendimento de que o real é a verdade fingida se encontra num dos textos mais instigantes de outro gênio do século XX:

               “O poeta é um fingidor.
               Finge tão completamente
               Que chega a fingir que é dor
               A dor que deveras sente.”
                       ( Fernando Pessoa  -  “Autopsicografia”)

     Mário Faustino se refere à poesia como aquilo que não pode ser conceituado:

                                   -  Que é poesia?
                                 -  Nenhum de nós pode pretender,
                    lucidamente, apresentar sobre isso um conceito
                    definitivo. O mais que podemos fazer é procurar
                    estabelecer, discutindo o assunto por algum tempo,
                    o que representa para nós, a esta altura, aquilo que
                    chamamos de poesia”.

     A primeira parte do livro POESIA-EXPERIÊNCIA, de Mário Faustino, são reflexões sobre o significado da poesia e sobre a posição que o poeta contemporâneo deve assumir diante dos problemas de sua época.. Para que poesia? Para ensinar, para comover, para deleitar? ... E que dizer da utilidade  social da poesia? Em que pode a poesia servir à sociedade? Qual o papel do poeta perante a sociedade no seio da qual vive? Eis aí algumas indagações a partir das quais o autor desenvolve, em forma de diálogo, ideias sobre o tema.

     Vários poetas que tentaram definir a poesia ou o fazer poético através de metapoemas, isto é, poemas sobre a própria poesia, ressaltam que a linguagem literária  -  expressão intuitiva e individual  -  é impotente para representar a realidade real ou imaginada, o que não o impede de “lutar com palavras” (...)/ mal rompe a manhã”, como diz Carlos Drummond de Andrade no poema “O Lutador”.     

       A última estrofe do poema de minha autoria  -  “Fundo e Forma”  -  encerra a mensagem de que poesia é palavra com a qual o poeta se ilude e trabalha:

               poema  -  semente fincada
               na ordem/desordem alfabéticas:
              letra  -  P  -  e outras co’as quais
             se ilude e peleja o poeta.”

     Cabe aqui a transcrição dos seguintes versos:

                    “melodiosa palavra
                    não melosa entretanto
                    palavra com ideia
                    tão livre quanto vento.

          palavra para o ouvido musical
          palavra para a imaginação visual
          palavra para o pensamento real
          código para se decodificar.

                    palavra que na síntese
                    das sínteses poundianas
                    é sinal igual a

                            melopeia
                            fanopeia
                            logopeia.

                            ( Alcenor Candeira Filho  -  “Teoria do Poema”)

     “Teoria do Poema” mostra que a poesia é um fenômeno linguístico e estético destinado a ser lido ou ouvido e decodificado pelo leitor. É expressão rítmica do belo, sendo elaborada com palavras melodiosas mas não melosas,  palavras livres como o vento, ou seja, como ensina Ezra Pound, palavras para
      - o ouvido musical (melopeia)
      - a imaginação visual (fanopeia)
      - o pensamento real (logopeia).

     Finalmente, cito mais um poema de minha autoria:

                              FINALIDADE

                “conquanto nada lhe custe
                o poema o poeta não faz
                para que à rígida norma
                d’arte pela arte se ajuste
                reduzindo tudo a
                forma e fôrma e fôrma e forma.

               conquanto nada lhe custe
               não faz o poema o poeta
               para deleite no avião,
               mas para que o deglutam
               mesmo fora do café
               qual manteiga leite e pão.

               conquanto nada lhe custe
              não faz o poema o poeta
              para embalar o que sonha
              com mil fantasmas no escuro
              como se o poema pudesse
             ser sombra insânia ou insônia.

           conquanto nada lhe custe
           trabalha o poema o poeta
           para que ele  -  como deve  - 
           seja senha som e seta.”

      Esse poema tenta  responder à pergunta  -  para que poesia?

      Embora nada lhe custe, o poeta luta com palavras na construção do poema para que ele não  seja
          -  simples objeto de perfeição formal
          -  simples objeto de diversão
          -  simples cantiga de ninar
mas sim
         -  senha: sinal/indício
         -  som: melodia/ritmo
         -  seta: direção/leitor.

     Encerro estas reflexões sobre a poesia recorrendo mais uma vez a Fernando Pessoa:  “A poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras”.    

quarta-feira, 9 de maio de 2018

BARRAS – HISTÓRIAS E SAUDADES



BARRAS – HISTÓRIAS E SAUDADES

Elmar Carvalho

            Vindo passar os dias de carnaval em Parnaíba, resolvi dar uma boa folheada no livro Barras – histórias e saudades, de Antenor Rêgo Filho, que já havia lido alguns meses atrás. O autor foi um dos fundadores da Academia de Letras do Vale do Longá, entidade a que tive ingresso com o apoio seu e do falecido Geraldo Majella de Carvalho, meu parente e amigo. Foi seu presidente em três mandatos, sendo que na sua última gestão o sodalício conseguiu adquirir a sua sede própria, a cuja solenidade de inauguração tive o prazer de estar presente.

            O livro conta a saga da comunidade barrense, desde o seu primórdio, no século 18, quando o fazendeiro e empreendedor Miguel de Carvalho e Aguiar, filho do grande Bernardo de Carvalho e Aguiar, fundador de Campo Maior e de outras comunidades, instalou a sua fazenda e currais e possibilitou a construção da capela católica, até a década de setenta. Como se sabe, as cidades piauienses, normalmente, surgiram em derredor de currais e de templos católicos, e Barras não foi uma exceção.

            A obra foi prefaciada por Ribamar Garcia e contou com os depoimentos dos escritores Carlos Nejar, Adrião Neto e Herculano Moraes. Narra os principais fatos da história política do município, citando os seus   protagonistas, mas também se refere aos costumes, folclore e cultura barrenses, em que conta episódios anedóticos e pitorescos. A urbe tem o epíteto de Terra dos Governadores, por ter dado vários governantes ao Piauí e a outras unidades federadas, mas bem poderia ser chamada, igualmente, de terra de intelectuais, uma vez que forneceu ao estado vários escritores e poetas de nomeada, entre os quais o autor da obra em comento.

            O opúsculo também é enriquecido por cópias de importantes documentos e fotografias que nos levam ao passado, quando Barras era uma cidadezinha bucólica, com belas praças, quase uma ilha, através do abraço aquático do Marataoan, e dos demais rios que desembocam no Longá, formando as barras, que originaram seu nome. Lamentavelmente, muitos dos prédios, vistos nas fotografias, foram destroçados pela desídia, insensibilidade ou ganância dos homens. Meus ancestrais paternos são barrenses, e por essa razão, na minha infância bebi dessas águas, quando lá estive a passeio, e na minha adolescência banhei e mergulhei na barragem, e contemplei, embevecido, a Ilha dos Amores.

            Por tudo isso, pude fazer o meu poema Barras das Sete Barras, cujo vídeo pode ser visto no excelente site cultural Entretextos do professor, poeta e romancista Dilson Lages, ilustre barrense, um dos grandes expoentes literários do Piauí. Do meu conhecimento, o livro de Antenor Rêgo Filho é o mais completo inventário histórico, folclórico, geográfico e cultural do município de Barras.

13 de fevereiro de 2010    

terça-feira, 8 de maio de 2018

TODOS SE DIZEM INOCENTES

Fonte: Google/Uol


TODOS SE DIZEM INOCENTES

Cunha e Silva Filho

Nenhum criminoso se declara  culpado, principalmente porque  se o fizesse seria um réu confesso e ainda passaria  por  idiota. Todos se dizem inocentes. Até mesmo quando pegos em flagrante delito ainda se consideram inocentes. Perante a lei todos  são considerados inocentes até prova em contrário. A lei em si  favorece essa atitude. Então,  nossa sociedade é formada de muita pureza, de anjos,  santos, querubins.  Todos somos inocentes, ou  melhor  dizendo,  somos todos inocentes,  que,  por sinal,  é  um titulo(bastando colocar-se na primeira palavra  o "s" inicial maiúsculo) de um  bom ficcionista   piauiense O. G. Rego de Carvalho (1930-2013). Os advogados de defesa estão aí  para  corroborarem  essas assertivas e por dever de ofício.

    Sob esta premissa,  na terra que nos vai comer vivemos  o paraíso  dos sem culpa,  dos honestos,  dos incorruptíveis,  dos ilibados,  dos homens de bem. Que beleza de paraíso  em que vivemos! Que venturosas criaturas  iluminadas  pelo dom de serem  dignas,  íntegras,  impolutas. A continuar assim,  o Brasil será, dentro em pouco,  reverenciado  como sendo a pátria  da bondade,  da lisura,  da ética. Desde os simples vereadores até ao Presidente da República de plantão ninguém comete   um pecadilho. Só falta tanta  retidão de caráter   ser  agraciada no Guiness Book. “Brazil:  the Paradise on Earth”(“Brasil: o paraíso na Terra”). Pátria amada!Salve!Salve!

      Não demorará  o dia em que  esses anjos brasileiros reunindo  indivíduos  oriundos  das grande corporações  que trabalham  para os governos federal,  estadual e municipal sejam   guindados  ao privilégio da canonização. Até o Cabral  deverá   constar da insigne  lista...

    Desde os tempos sombrios da  eclosão   do  “Escândalos do Mensalão” as investigações da Polícia Federal  denunciaram corrupção no governo do  PT  ainda no segundo mandado do  ex-Presidente Lula juntamente com  denúncias de  corrupção de outros  partidos  políticos. Foi o início de uma novela  na imprensa falada e escrita, sobretudo nos jornais Folha de São Paulo e Jornal do Brasil  que acompanhei  estarrecido e indignado, porquanto   cada edição de jornal  vinha  fornecer mais  falcatruas    do cenário  político nacional.  

    Esses escândalos financeiros, essas maracutaias  de conluio  venais entre público e privado a fim de assaltarem   o dinheiro público dos que pagam  impostos e nada em troca recebem  dos governos  prosperaram  num continuum  até hoje. Por outro lado, há que se louvar  o que vem  fazendo  a Operação Lava-Jato da Polícia Federal que,  malgrado algumas  imperfeições,  tem-se revelado um baluarte em defesa  da diminuição da  corrupção na política  brasileira.

    Políticos  indignos  e empresários desonestos  têm sido   alvos dos agentes  federais e, nesse ritmo,  é que,  a meu juízo, deve   funcionar esse órgão de segurança  e de fiscalização  em todas as instituições   da estrutura da máquina do Estado Brasileiro. Políticos trambiqueiros,  assim como os empresários   salafrários, já foram   encarcerados pela Justiça. Outros estão sendo  denunciados  e outros mais  seguramente  serão presos  dependendo  dos resultados  das investigação   que poderão levá-los a condição de réus.

     Eis  a questão:  governo  deposto por ilicitudes e  governo posto através de um Congresso  conspurcado  de ladroagem -  propina  - recebida em malas com dinheiro  vivo destinado   supostamente  a altos figurões do atual governo  Temer. O próprio Presidente da República  já foi  citado mais de uma vez   nas investigações da Lava-Jato  e poderá ainda, se comprovada  sua culpa,   virar réu ou, quem sabe,   ainda que seja após as eleições,    levado aos tribunais. O fato é que os homens do Palácio, em proporção gigantesca,  acham-se  agora  na mira da Polícia Federal, do Ministério Público e da Procuradoria  Geral da República. Parece até um filme norte-americano de terror em que  os espectadores, satisfeitos e jubilosos  de que  os monstros morreram,  de repente se  surpreendem: tudo volta ao início com os mesmos monstros renascidos das  cinzas  mefistofélicas.

      Sim, porque os rufiões  da política nacional  não mais  se  apoquentam  com o que possa lhes acontecer, dado que  permanecem  inalteráveis  afirmando desbragadamente  que  nada fizeram de errado e tudo não passa  de perseguição  ou conspiração  política. Daí haver  intitulado   este artigo como o fiz  acima. Nesse vaivém de provas e alegação de inocência (sic)   o governo  federal vai empurrando com a barriga e,  daqui a meses,  alguns de seus membros  poderão sair ilesos nus com as mãos nos bolsos do dinheiro do  contribuinte.

     A rapinagem no país  parece ser um mal perverso que assola  praticamente  a grande maioria do segmento  político brasileiro,  indo do governo federal até aos governos municipais. Parece um circo de horrores de horrores  servindo de combustível à  execração da sociedade  brasileira e  exibindo  às nações bem  governadas e civilizadas  o pior  exemplo de se fazer  política na Terra.  No passado da história  política brasileira a corrupção já existia mas não em proporções gigantescas  e pantagruélicas. 

   Agora,  estou lembrando de uma   declaração que uma senhora  de noventa anos e muita lúcida, sentada numa das cadeiras de espera  de um banco estrangeiro  estabelecido no país, fez a  quem a pudesse ouvir: ”O  Brasil já foi um país decente e respeitado, não como está  hoje, uma vergonha onde não se tem mais  respeito à bandeira nacional,  às festas cívicas. Os mais novos  não sabem nem mesmo as datas  mais   importantes   de nosso calendário cívico. Viramos lixo.”    

         A imprensa é injustamente atacada por muita gente.  Pode até ser que ela oriente os leitores ideologicamente de forma errada e tendenciosa. Todavia, sem ela  é que os  meliantes da política   estariam mais à vontade, mais   livres para fazerem  o que bem lhes desse na telha. A imprensa, chamada de  quarto poder, vale mais atuando do que  se fosse  garroteada  pelas ditaduras de todas as cores.

     Se não fosse  esse  fundamental setor da comunicação  não teríamos condições  de estar  informados. O  silêncio imposto à imprensa  equivale à morte da liberdade de expressão. Ela é como a democracia. A pior democracia  ainda é melhor do que  a imprensa proibida de exercer seu papel  de alta sentido  público. A morte da imprensa livre  equivale à derrota das ideias  e do pensamento  humano.

       Os melhores quadros  intelectuais, com raras e honrosas exceções,  da inteligência brasileira  não estão na vida pública. O que é uma pena. A maior parte deles vai para a vida acadêmica e, dessa forma,   ficamos  órfãos   de grandes  brasileiros  que  tanto poderiam   dar de si  ao desenvolvimento  ao nosso   país.

     Com o afastamento de  gente competente  e digna de  exercer   um  mandato  público de alta relevância, um possível bom quadro político   se esvazia e  com isso os oportunistas  veem não uma  uma   possibilidade  de  seguir uma  carreira política   visando ao bem-estar  da  sociedade, mas  um trampolim  para  malversar   o dinheiro do Estado  em benefício  próprio, o qual, montando em milhões  de reais ou dólares,   passa a ser  manipulado solertemente, ou seja,  pela via   da  corrupção,  peculato,   lavagem de dinheiro, locupletação ilícita e formação de quadrilha, igualando-se, assim,  suas práticas   delituosas  aos  mais  abomináveis  criminosos  do tráfico de drogas e de armas pesadas hoje  constituindo, para vergonha   de todos  nós   brasileiros,  uma das mais   execráveis mazelas  da política nacional que se  está perpetuando diante de nossos  olhos  perplexos e  indignados.    

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco



Capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco

Reginaldo Miranda (*)

Em seu tempo foi um dos cidadãos mais abastados, importante prócer político e o principal comandante militar da vila de Campo Maior, no centro-norte do Piauí. Com ele tem início a tradição da família Castelo Branco naquela vila, hoje cidade. É o patriarca de uma das mais distintas famílias do Brasil, de que descendem muitos escritores, jornalistas, professores, magistrados, profissionais liberais, políticos, inclusive barões do Império, parlamentares, presidentes de província, governadores de Estado e um presidente da República.

Porém, a história de sua família lhe precede no Nordeste do Brasil. Tem início a família Castelo Branco com seu avô materno, o nobre português Dom Francisco de Castelo Branco, mui impropriamente dito Dom Francisco da Cunha Castelo Branco, natural de Lisboa, capitão de infantaria radicado na cidade da Paraíba do Norte, em 1695 e, depois, em São Luís do Maranhão, a partir de outubro de 1700, onde veio a falecer no recuado ano de 1733. Dele herdou o nome e os foros de nobreza, vez que aquele era irmão do conde de Pombeiro e com raízes plantadas no seio das mais distintas famílias lusitanas. A avó materna, Maria Eugênia de Mesquita, não menos nobre, era também lisboeta e falecera em outubro de 1700, na baía de São Marcos, nas costas do Maranhão, quando de mudança para aquela cidade, deixando três filhas menores: Ana, Clara e Maria de Monserrate, que sobreviveram ao naufrágio.

Portanto, sua distinta família tem tradição matrilinear, tendo sido sua iniciadora dona Clara de Castelo Branco Cunha e Silva, filha daquele casal, que, depois do consórcio mudou sua residência para a fazenda Boa Esperança, hoje cidade de José Freitas, então integrante do território em que se fundaria o curato de Santo Antônio, no ano de 1711. Embora nobre, seu avô materno faleceu sem deixar cabedais. Foi seu pai, o comissário de cavalaria Manoel Carvalho de Almeida, quem construiu a fortuna da família, fundando diversas fazendas com numeroso rebanho. Era também português, filho de Belchior Gomes da Cunha e de sua esposa, dona Izabel Rodrigues Correa (o nome Carvalho de Almeida, certamente, homenageia ancestrais remotos). Tendo mudado para a colônia, casou-se com aquela nobre portuguesa e fixou-se no vale do Longá, onde iniciou carreira militar no posto de alferes de ordenança, depois passando a comissário de cavalaria. Foi o mais valoroso auxiliar do mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, na luta contra as nações indígenas daquele território, em cuja campanha ganhou notoriedade.

Manoel Carvalho de Almeida, foi um dos fundadores do curato de Santo Antônio, que deu origem à cidade de Campo Maior, em terras do mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e Aguiar. Provavelmente, esse último era seu tio materno, porém, ainda não temos prova dessa assertiva. O certo é que pouco tempo depois da fundação do curato, em 1711, Bernardo de Carvalho e Aguiar muda seu domicílio para a Aldeia Velha, no Maranhão, hoje cidade de São Bernardo. E o comissário de cavalaria Manoel Carvalho de Almeida, se firma como o principal líder da nova freguesia, depois termo e vila de Campo Maior. Esses fatos têm causado certa celeuma. No entanto, é hora de colocarmos cada fato em seu lugar. O mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, em 1695, foi fundador da fazenda Bitorocara, depois Santo Antônio, que deu origem ao curato, depois cidade de Campo Maior. Foi co-fundador e benemérito do curato e capela de Santo Antônio, em 1711. No entanto, dez anos depois abandonou essa localidade, passando a residir no Maranhão.  Embora tenha deixado um filho naquele termo, cidadão abastado, que também exerceu influência, provavelmente aliado ao primo, não se pode negar que, pela patente militar e pela abastança das fazendas, foi Manoel Carvalho de Almeida o sucessor de Aguiar no comando militar e na liderança social do novo termo de Santo Antonio dos Alongases, depois vila de Campo Maior. Embora a liderança tenha sido, a princípio, compartilhada entre esses dois líderes, mais tarde esse último se consolidaria na chefia do lugar. Não há dúvida, pois, de que foi o comissário de cavalaria Manoel Carvalho de Almeida quem criou a base econômica e projetou a família Castelo Branco, em Campo Maior e no Piauí de antanho. Construiu ele ao lado de sua residência, a capela de Nossa Senhora do Livramento, com licença do governador do Bispado, Dr. Antônio Troiano, onde mais tarde tomou sepultura, assim como também sua esposa e outros familiares.

Pois, conforme dissemos na abertura desse ensaio biográfico, foi seu sucessor na carreira militar e na liderança comunitária, o filho Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, também assinando Francisco da Cunha Silva de Castelo Branco. Nasceu ele na referida fazenda Boa Esperança, hoje cidade de José de Freitas, cerca de 1716, onde viveu sua infância e mocidade, alternando os banhos nos riachos com as correrias pela fazenda e brincadeiras típicas de sua época.

Recebeu educação apropriada para um menino de sua condição social, com futuro projetado para a carreira militar, exercício dos cargos públicos e administração de fazendas. Essa educação foi ministrada na própria fazenda, pelos genitores e depois aprimorada pelas aulas particulares do padre Manoel Ribeiro Meira, presbítero do hábito de São Pedro, que ali na fazenda, às expensas de seu pai, lhe ministrou aulas de gramática, assim como a outros familiares e amigos da família. O mais aprendeu como autodidata.

Desde cedo ingressou na carreira militar, sentando praça nos postos inferiores a ascendendo gradualmente: soldado, furriel, alferes, tenente, etc. Por esse tempo servia ao lado do pai, a quem se propunha imitar.

Com a organização das forças militares do Piauí, por ordem régia de 1760, foi ele provido no posto de capitão de cavalaria auxiliar da capitania, em cujo exercício se distinguiu e se singularizou. Passou a chefiar a companhia sediada na vila de Campo Maior.

Com a guerra na Europa, seus serviços se fizeram mais laboriosos no ano de 1762, quando foi destacado com sua companhia para o porto da vila de São João da Parnaíba, aonde se demorou oito meses, sob o comando do primo, tenente-coronel João do Rego Castelo Branco. Ali permanecerem de atalaia, alojados na praia em barracas de palha por eles construídas, comendo carne de gado sequestrado das fazendas de seu cunhado Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar, o velho, como herdeiro do irmão José de Abreu Bacelar, cuja alimentação era alternada com peixes e mariscos pescados no delta pela soldadesca ociosa. De olhos postos no mar, à espera do inimigo francês que nunca chegou, retornaram em junho de 1763, depois de receberem notícia da paz firmada entre os contendores e autorização para retornarem ao seu quartel (Arquivo Público do Piauí. Códice 146. P. 84v/86. 117).

Desde então, passou a fazer as mais diferentes diligências do real serviço, visando dar segurança ao termo de Campo Maior e adjacências. Em carta de 7 de junho de 1779, o governo interino do Piauí participa ao general do Estado, Joaquim de Melo e Póvoas (17.10.1761 – 5.11.1779), dos insultos praticados por grande quantidade de facinorosos, entre esses um celerado Antônio Félix, da família dos Mombaça, que infestavam os termos das vilas de Campo Maior e Marvão, corridos que eram das capitanias vizinhas. Então, pelo novo general Dom Antônio de Sales e Noronha(6.11.1779 – 13.2.1784) foram encarregados da arriscada diligência de captura dos mesmos, os capitães Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco e Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacelar, o moço, tio e sobrinho, ambos “sem dúvidas oficiais de muita honra e probidade, e de quem nunca houveram queixas que criminassem o seu comportamento”, diria o referido general. E marchando esses militares em cumprimento de seu dever, tiveram notícia de que aquele celerado e seus agregados se achavam arranchados num sítio denominado Romão, para onde seguiram de forma imediata, bloqueando os caminhos e cercando as rancharias. Então, enviaram um contingente para que os intimassem a render as armas e se entregarem presos em nome de Sua Majestade. Porém, aqueles criminosos resistiram, respondendo com rajadas de tiros contra a tropa, que teve de apear com rapidez e proteger-se por trás dos cavalos de montaria. Morrem alguns dos animais e ficou levemente ferido Luiz Carlos e um seu fâmulo ou escravo. A esta resistência se opôs tenazmente a tropa, respondendo com armas de fogos e com catanas, em acirrado combate com os criminosos, entre esses caindo sete mortos e fugindo outros que escaparam ao cerco. Estava cumprida a arriscada diligência, de que provaram o seu valor.

Mais tarde, em dezembro de 1780, aparecendo em São Luís do Maranhão os cabos da tropa para darem parte da missão, foram embaraçados em seu retorno e covardemente presos à ordem do general do Estado, que teve a desfaçatez de dizer que foram apenas acautelados para resguardá-los da vingança dos Mombaça. Em verdade, ficaram encarcerados por quase três anos, em segredo, sem culpa formada, de que tudo foi denunciado a el-rei. De fato, tratava-se de intrigas e desavenças, entre outras, envolvendo seu sobrinho Luiz Carlos e o ouvidor do Maranhão, Julião Francisco Xavier da Silva Sequeira Monclaro (AHU. ACL. CU 016. Cx. 14. D. 796).

Em matéria de defesa juntaram os injustiçados presos muitos documentos e declarações de autoridades do Piauí, atestando o seu bom procedimento. Entre essas a do padre Antônio Luiz Covete, mestre em Artes e presbítero secular do hábito de São Pedro, pároco e vigário da vila de Marvão do Piauhy, datada de 26 de janeiro de 1782. Atesta “debaixo do juramento dos Santos Evangelho, em Juízo se necessário for, aos que a presente atestação virem, em como o capitão Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacelar e seu tio o capitão Francisco da Cunha e Silva de Castelo Branco, em todo o tempo que sirvo de pároco nesta vila, dos ditos senhores mencionados sempre tive perfeito conhecimento de serem abastados de bens temporais, de graduação e nobreza, e a principal família desta Capitania; vivendo sempre com capricho e honras, (...) e nunca constou estes nem todos os mais irmãos e sobrinhos da Casa da Serra Negra matassem e nem espancassem a pessoa alguma e nunca (...) ultrajaram a ninguém, [sendo] muito tementes a Deus e a Justiça de Sua Majestade” (AHU. ACL. CU 016. Cx. 14. D. 796).

Portanto, depois de provarem a sua inocência e a arbitrariedade da prisão, foram, ambos, postos em liberdade e, assim, retornaram às suas respectivas casas e fazendas, bem como às suas atividades militares.

O capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, era abastado criador e senhor de fazendas no termo de Campo Maior, hoje de José de Freitas, entre as quais: Boqueirão, onde passara a residir, com duas léguas e meia de comprido e outras tanto de largo, havida por herança de seu genitor; um sítio(roça) há duas léguas de distância do corpo dessa fazenda, com área que não chegava a um quarto de légua, cujo terreno fora descoberto por um escravo de seu pai e fora por ele povoada; Mundo Novo, com três léguas de comprido e uma de largo, que lhe fora dada em sesmaria; por fim, no vale do rio Piauí, termo de Oeiras, possuía a extensa fazenda Água Verde, com sete léguas de comprimento e meia de largura, que fora povoada pelo pioneiro Martinho Soares e deste passou aos jesuítas, de quem fora sequestrada e passada à real fazenda, depois lhe sendo doada por el-rei em razão de relevantes serviços prestados à coroa.

O capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, foi um homem de prestígio em seu tempo, dominando a vila de Campo Maior, no centro-norte do Piauí. Seu sobrinho Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacelar, era também o cidadão mais abastado e o principal chefe político da vila de Valença, exatamente a municipalidade contígua entre Campo Maior e Oeiras, então capital do Piauí. Em Oeiras foi paulatinamente assumindo a liderança política do lugar, o ajudante Antônio do Rego Castelo Branco, primo dos antecedentes. Na vila de Jerumenha, vale do Gurgueia, também era grandiosa a influência de Antônio do Rego Castelo Branco, porque ali morara, era a terra de sua genitora, tinha inúmeros parentes, inclusive sendo também área de influência de seu cunhado Antônio Pereira da Silva, este com inúmera parentela no lugar. Portanto, esses três parentes representavam o âmago do poder na capitania do Piauí nos últimos decênios do século XVIII e primeiro do século seguinte, porque eram ricos, poderosos, respeitados e governavam o centro da capitania. Nas três vilas remanescentes, tínhamos Parnaíba com Simplício Dias da Silva, também rico herdeiro, boêmio, dândi revolucionário, que ficou à margem dessa engrenagem política, o mesmo acontecendo com seu primo Manuel Antônio da Silva Henriques, ambos tendo se recusado, em oportunidades diversas, a assumir o governo do Piauí,  e o mais político deles, João Paulo Diniz, que, de uma forma ou de outra, aliaram-se a esse grupo; na vila de Marvão, hoje cidade de Castelo do Piauí, nunca existiu uma grande liderança influente no Piauí, porque as famílias mais abastadas como os Guedelha Mourão e os Lima, do vale da ribeira do Crateús, foram mais ligadas comercialmente ao Ceará; ali também tinha muitas fazendas e exercia influência, Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar, o moço, Senhor de Serra Negra; o mesmo ocorria com a vila de Parnaguá, no extremo-sul, onde a oligarquia local então liderada por José da Cunha Lustosa, era mais ligada ao sertão do rio São Francisco, e, consequentemente, à Bahia. Portanto, a família Castelo Branco dominava o Piauí naquele período histórico.

Em 1787, o capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, pleiteou o hábito da ordem de Cristo, não lhe sendo deferido porque o processo estava incompleto, sem os serviços serem devidamente justificados. Mais tarde, em 1790, justificou nobreza recebendo brasão de armas em 24 de novembro, usando dos apelidos de Carvalho, Almeida, Cunha e Castelo Branco por serem dos ascendestes das nobres famílias a que os ditos apelidos pertencem. Em 2 de dezembro de 1788, recebe em sesmaria a fazenda Mundo Novo, à qual depois pede confirmação a El Rei (AHU. ACL. CU 016. Cx. 017. D. 85 e 851. PT/TT/CR/D-A/004/0026/00012. CRCN-PJN, mç. 26, doc. 12).

O capitão Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, foi casado com sua prima, dona Anna Rosa Pereira Tereza do Lago, nascida em Jacobina, na Bahia, filha de Antônio Carvalho de Almeida, português, parente distante de seu pai e de dona Maria Eugênia de Mesquita (2ª do nome), esta filha do capitão-mor João Gomes do Rego Barra e dona Anna Castelo Branco de Mesquita, irmã de sua mãe. O casal gerou seis filhos, a saber: Antônio da Cunha, Francisco Gil, Marcelino José da Cunha, Ignácia Pereira Tereza, Luiz Mariz e Anna Rosa Clara, todos Castelo Branco. Por esses varões e varoas é hoje muito numerosa e ilustrada a família desse bravo piauiense, ele com larga folha de serviços prestados ao Estado.

Foi também benemérito da Igreja Católica e da comunidade que deu origem à cidade de José de Freitas, porque na primeira metade da década que se iniciou em 1790, contratou pedreiro para fazer serviços na capela de Nossa Senhora do Livramento. Este profissional de nome Francisco Félix, veio da Bahia, enviado por seu sobrinho o cônego Antônio Borges Leal Castelo Branco, pelo preço de 162$000 (cento e sessenta e dois mil reis), de que o sobrinho adiantou 60$000 e o biografado o restante, que foi pago por seus herdeiros, em virtude de ter falecido durante as obras (CASTELO BRANCO, Miguel de Sousa Borges Leal. Apontamentos biográficos de alguns piauienses ilustres e de outras pessoas notáveis que ocuparam cargos importantes na província do Piauí. Coleção Centenário 3. 2ª Ed. Teresina: Senado Federal-APL, 2014).

Não encontramos informações do óbito desse ilustre piauiense, no entanto já não existia em 15 de agosto de 1798, quando o governador Dom João de Amorim Pereira, envia propostas para o Regimento de Milícias da Capitania, que então se criava. Faleceu já octogenário, em torno do ano de 1796, em sua fazenda Boqueirão, onde residia, hoje nos arredores da cidade de José de Freitas, deixando uma memória honrosa e grande descendência, que iria desempenhar saliente papel na vida pública piauiense.

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(*) REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Contato: reginaldomiranda2005@ig.com.br     

domingo, 6 de maio de 2018

Seleta Piauiense - Clóvis Moura

Fonte: Google/So Simpatias


Rio Seco

Clóvis Moura (1925 – 2003)

Cemitério de peixes enterrados
no areal ardente e transparente,
pedras que furam os pés dos caminhantes
marcaram a transferência dos sedentos.

Pedaços de memórias marulhantes
ainda chegam à noite nos seus ecos
e roteiros de barcos são fantasmas
na memória de luas macilentas.

Há no sol que caustica as suas curvas
um sádico desdém por suas margens
que hoje se fundem ao leito que era líquido.

As carcaças de tíbias e caveiras
de bois marcam a distância do mistério
e o suor é sua linfa derradeira.   

Fonte: Jornal de Poesia

sábado, 5 de maio de 2018

Máscaras



Máscaras

Elmar Carvalho

Era um baile de máscaras. Mas todas as máscaras eram iguais, e pelas roupas idênticas, folgadas, plissadas e talares não dava para se distinguir o sexo de quem as vestia. Apenas eu não usava nenhuma máscara, como se meu rosto fosse a minha própria máscara; ao menos era o que eu supunha. Como dono da casa, resolvi retirar todas as máscaras. Não houve oposição. Logo verifiquei que abaixo de uma havia sempre outra. Vendo que o meu esforço seria tão infindável quanto inútil, pois sempre havia uma nova (máscara) a ser retirada, encerrei esse trabalho de Tântalo.

Contudo, ao me olhar num espelho constatei que eu também usava uma máscara igual a todas as outras. Sequer tentei retirá-la. Agora já não sei se isso foi real ou se foi apenas um sonho ou pesadelo. Me restou a lição metafórica: ou todos usamos vários disfarces ou, na média, a humanidade somos todos uma só e mesma pessoa, sempre a interagirmos um com os demais, sem culpa e sem inocência; em que todos contribuem, em maior ou menor escala, para a formação de virtudes e pecados.

A máscara pode ser a nossa própria face, que, muitas vezes, é apenas um simulacro do momento.

Manaus, 04/05/2018

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Teresina não neblina mais

Fonte:Teresina Antiga/Google

Teresina não neblina mais

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Neste período de maio e junho, o Nordeste experimenta clima e paisagem primaveris. Vão-se as chuvas, deixando o verde e flores em abundância. Temperatura agradável nas manhãs e noites. Mistura-se o calor do dia às camadas frias e úmidas da noite. Raramente chove, mas, na aurora, imenso manto de neblina cobre as matas e campos por duas horas. Quem não entende o belo o fenômeno conclui que vem chova por aí. E não é. Ao contrário, um recado de que se aproxima tempo quente.

         Na minha infância, Teresina enchia-se de neblina. Eu estudava o antigo Primário no Colégio Domingos Jorge Velho. Manhãzinha, saía da Piçarra, chegava à escola com os cabelos úmidos e mãozinhas geladas, magricela, tremendo. Dona Teresinha, minha professora, passava as mão sobre os cabelos: “Olha, gente, a neblina quase me deixa molhada, quando atravesso a avenida Frei Serafim, a pé!”

         Noites de fogueira junina. Acordava-me cedo, aquecia-me em redor do que restara de fogo. Na minha modesta casa, na rua Odilon Araújo, Piçarra, dormíamos sem ventilador, e fazia frio. Éramos 6 irmãos e redes.

         Teresina, sim, era-me Cidade Verde: o Monte Castelo, e Catarina (hoje, Conjunto Emílio Falcão, Cristo Rei e adjacências) vestiam-se de floresta densa, dominada por macacos barulhentos nas palmeiras, e bichos silvestres. A garotada fartava-se de frutas silvestres e captura de pássaros. A floresta dominava a região, hoje, do Bairro São João, o Macacal antigo, devido à gritaria dos símios. Em época de defesa dos animais, que tal voltar ao Macacal, em vez de São João?

         Ao leste de Teresina (Jóquei e prolongamentos), da floresta emanava temperatura a menos de 18 graus, à noite. Sítios de abastados abundavam na região, devido ao clima. Do Aeroporto ao Encontro do Poti com o Parnaíba, quase tudo era verde e ocupado por humildes e poucas residências. Explica-se Teresina tão molhadinha ao amanhecer, como criança envolta em cueiros, mas de neblina.

         Hoje, tadinha da minha Cidade Verde, não tão verde, nem tão criança, porém morna que só adolescente menstruada e acendida de paixões. Hoje, frescor só descendo a Ladeira do Uruguai e BR-343 cobertas de neblina. Conjuntos habitacionais, porém, já começam a avançar rumo a Altos, arrastando o santuário verde.

         Imagino Teresina tentando juntar o calor que emana do asfalto, das lâmpadas acesas, dos prédios de concreto, da combustãoão dos veículos, fogões a gás, panificadoras, queimadas irresponsáveis, enfim, do inferno da modernidade. Juntando tudo, uma gigantesca fogueira subiria aos céus da capital. Só para acender a memória: há duas décadas, as escolas de Teresina, inclusive as mais ricas, só dispunham de ventiladores. Ar refrigerado somente nas salas de cursinhos.

         Desfrutemos este tempo primaveril, edênico. Talvez, em breve, tenhamos a Teresina que se despiu da neblina, para mergulhar mergulhar no caldeirão de B-R-O-BRÓ. Ano inteiro.         

quinta-feira, 3 de maio de 2018

APL lança novo site


No portal da APL você pode ver a relação dos livros publicados e como poderá adquiri-los. Também pode ter acesso a várias Revistas da Academia, publicadas digitalmente (e-book), que poderão ser lidas gratuitamente.

APL lança novo site

A Academia Piauiense de Letras lançou no sábado, 28, seu novo site. Repaginado, o sítio da instituição é mais um dos serviços oferecidos pela Casa de Lucídio Freitas em comemoração ao ano de seu Centenário. Além de consagradas iniciativas como a Coleção Centenário, que reúne mais de cem obras de reconhecido valor da literatura e de outras campos do saber, a Coleção Século XXI, que dá continuidade ao trabalho de valorização dos novos valores da pesquisa e da literatura piauiense, o sodalício aposta que o site será mais uma contribuição relevante à cultura piauiense.

 “A  Academia é dos acadêmicos, mas, em primeiro lugar, da sociedade”, diz o presidente Nelson Nery Costa. Empreendedor, o presidente, que é defensor público, historiador e autor de livros jurídicos, além de professor da Universidade Federal do Piauí, vai para o terceiro mandato à frente da APL e vem sucedaneamente realizando, a cada gestão muitas conquistas, entre elas, a reforma do prédio da agremiação. O site “além de assegurar elementos para pesquisas sobre a história da APL e de seus membros, também oferecerá condições a que se adquiram livros editados pela entidade, facilitando, assim, a distribuição  de obras editadas pela associação cultural”. A iniciativa revigora o interesse da Academia de estar em sintonia com seu tempo e a próxima da sociedade, revigorando ações como o Museu da Literatura Piauiense, recentemente inaugurado.

A solenidade de apresentação do site da APL contou também com o lançamento de livros. Lançaram-se os livros Memorial de um lutador obstinado, de William Palha Dias, pela Coleção Centenário; Tarot de Marselha, de Socorro Cabral, pela Coleção Nada em Ordem; Maria da Inglaterra em Quadrinhos, de Wilson Seraine; e Lições de Vida, de João José Bastos Lapa.

Fonte: Portal Entretextos   

quarta-feira, 2 de maio de 2018

ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO

Fonte: Google


ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO

Elmar Carvalho

Estou aqui,
querida,
feito um
pateta, contemplando em
            alienação
            voluntária
            e otária
um crepúsculo como nos
            meus bons
            tempos de
            adolescente.
            Somente
eu mudei: os crepúsculos
            continuam
            iguais =
            = iguais.
Mas faz bem a um homem
            ser
            romântico:
            por momentos
ele esquece a sua e a
            fome de
            seu povo.   

(Poema dos anos 1970)