quarta-feira, 18 de agosto de 2021

À MINHA AMIGA TERESA CRISTINA (*)

Foto antiga  Fonte: Google/Cidade Verde


À MINHA AMIGA TERESA CRISTINA (*)

                           

Francisco Carlos Araújo


I

Minha amiga Imperatriz,

te vi pela vez primeira

pelo ano sessenta e hum,

fui assim, que de maneira

acanhada, apresentado,

e um tanto desconfiado

como um “sem eira e nem beira”.

 

II

Eu ainda não completara

os meus nove anos de idade,

e nós, ambos bem meninos,

selamos boa amizade

que perdura por sessenta

anos, que muito se alenta;

sou grato pela bondade.

 

III

Sou da roça, e tu princesa

tinhas tudo a oferecer,

mesmo sendo eu um plebeu

deu-me chances pra viver

tal como uma boa escola

e comprar uma viola

 com poema agradecer.

 

IV

Nesse torrão de Saraiva,

entre tais rios Parnaíba

e Poti, de Norte a Sul;

rua abaixo, rua arriba

no seu encalço eu estava,

ao seu lado eu caminhava

seguro. E quem me “derriba”?

 

V

Seis décadas se passaram.

Hoje, sou bastante grato

a essa minha boa amiga,

pois o que tenho, de fato,

devo a essa jovem Senhora

que aniversaria agora

com as honras e aparato.

 

VI

No dia dezesseis de agosto,

essa minha fortaleza

completa cento e sessenta

e oito anos de tão acesa

vida, com prosperidade

e muita fraternidade,

e com bastante beleza.

 

 

 

VII

O seu nome de batismo

seria Teresa Cristina,

 mas o bom pai, Conselheiro

Saraiva, de Teresina

a chamou em homenagem

à Imperatriz; linhagem

de nobreza, com a sina

 

VIII

de ser grande realeza

pelas mãos do construtor

João Isidoro França

com um modernizador

plano, em traçado xadrez,

dando estética e altivez

da esposa do Imperador. 

 

(*) Uma homenagem a Teresina

terça-feira, 17 de agosto de 2021

JÁ LÁ SE VÃO CENTO E SESSENTA E NOVE ANOS TERESINA

Fonte: Google

 

JÁ LÁ SE VÃO CENTO E SESSENTA E NOVE ANOS TERESINA


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

Por que isso? Repiques, som, luz, cores; algazarra e tambores? É que estamos em festa. Como pano de fundo, um amor profundo. Inteiro em nosso peito cabe o mundo: o tempo, a hora, o minuto, o segundo. Não mais janelas abertas ou moçoilas pudicas criando arestas, espreitando pelas frestas. Infelizmente, já não mais estão lá as belas. Boates, pubs, shoppings: neles, elas esperam por eles, ou, eles por elas. Cento e sessenta e nove anos de história, de glórias; às vezes, inglórias.

            Ah! Saudosa memória: o Rio Parnaíba, silente, a passear; a caminho do mar; solto, livre, como uma criança a nadar. Agora, Velho Monge a se arrastar, pesadamente, parece lhe faltar o ar. Encanecido e sem forças, mal sai do lugar. Outrora, torrentes, enchentes; estraçalhava tudo em correntes; subia em margens e cais, fingindo-se de inocente; depois, vagava contente, feliz, renitente, desobediente. O irmão menor correndo ao lado, animado, calado, ensimesmado. Esperando, com enfado, a vez de ser convidado a se juntar ao mano, para o passeio desejado. Ainda lembras? Quão bom era vê-los, bonitos, fortes, audaciosos, levados. Admito: dói remexer no passado.

Mas, quem disse que cabe o choro, o desdouro? Resta-nos colher os louros. Do solo, os prédios saindo, aos borbotões, subindo ao céu, sem fim. Magros, parrudos ou esguios; belos, modernos; rostos pintados ou com frontes de mármores frios. O progresso, é certo que entendes, não é o contraste, faz parte: é resultado de engenho, labor e arte. Deves te orgulhar: tens um povo hospitaleiro, altaneiro, sobranceiro; ligeiro no bom trato, alegre, afável, fagueiro. Lembranças: naquele, certamente, quente dia dezesseis de agosto, de mil, oitocentos e cinquenta e dois tu nasceste.  Estás aniversariando: é este o motivo de tanta festança. Talvez nem ribombem foguetes, fogos queimem ou crepitam, mas as estrelas luzem. Tudo isso traduz nossa esperança de um futuro sem mistério, realizador, do qual cada um de nós deve se tornar senhor.

Certo é que, por mais que haja do que reclamar, mais há para comemorar. O que passou ou mudou, não tem jeito, e o que Deus fez perfeito ninguém, nenhuma pessoa destruirá: está feito.

            Parabéns, adorável Teresina. Ser feliz é tua sina.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

REFLEXÕES SOBRE A POESIA

Fonte: Google


REFLEXÕES SOBRE A POESIA


Paulo de Tarso Mendes de Souza

Escritor, professor e advogado


De todas as artes, a mais bela e abissal, a mais expressiva e difícil é, sem dúvidas, a poesia. Isto porque se dirige ao coração, para comover -

 "da ampla Igreja relembro a majestade/ das novenas de maio a suavidade .../tem trinta anos a dor que em mim se expande!";


à imaginação, para exaltar - 

Te vejo sob os Arcos da Lapa/e elevo-me no pecado do adultério/do desejo que da alma desata/nos sonhos que estou a te ungir/semanalmente ressonhados sob mistérios/sem corrigir-me do vício de ti;


e à razão, para persuadir -

 "não venhas me dizer/que o amor é verde ou azul/Quem disse que o amor tem cor?/Deixa de ser besta, Maria/e verás que a fantasia/só vai te fazer chorar/Desperta-te, abre os olhos/cai na real, Maria". Sejamos, sempre, homens feitos de poesia.


Quando digo poesia, penso não só na poesia escrita, mas também na poesia das coisas, dos dias, da vida. A poesia da amizade que construímos diuturnamente. A poesia que considera o tempo. A poesia que canta a transcendência. A poesia dos que se atrevem - "a aeromoça/abre os braços/e mostra as saídas de emergência .../e eu a sonhar//que ela abrisse/as pernas e mostrasse/as entradas de quintessência". 


Como disse o poeta Manoel de Barros, "me agradam mais aqueles que se atrevem do que aqueles que se atêm(...)". É por isso que sempre rogo a Nossa Senhora da Escuridão, que me perdoe por gostar dos deseróis, amém!


Poesia é tema amplo, tão antigo quanto a história, talvez até mais antigo que esta, sendo a forma primal e primária das línguas, embora só discretamente presente na vida da maioria. Como disse Ben Jonhson, a poesia "fala um pouco acima de uma boca mortal"`. É que o homem vive em eterna tensão por saber-se transitório. Daí a necessidade de libertar-se do momento presente, que se esgota em si mesmo. Quando fracassamos nesse esforço, é como se perdêssemos nossas raízes, porque em nossa condição humana, impossível durarmos sem elas. Fundamental, assim, a sabedoria de transformar o agir de ontem em algo que se fazendo visível hoje, assegure, também, sua permanência no amanhã. Ao fazermos dessa forma, nos colocamos um pouco acima da mortalidade.


Eis o sonho que deve seguir em frente. E quão belo é um sonho quando adquire vida própria, rompendo as amarras da incredulidade, para tornar-se, enfim, realidade. Mas o que é um sonho liberto de seus sonhadores? Eu vos digo - torna-se poesia que ecoa pelos cantos nebulosos da mente, clamando pelo carinho da mulher vista diariamente sob os Arcos, para transformar-se em vida, sentimentos, amores.


Que os atos de hoje, do agora, possam definir e bendizer o porvir. Que bela palavra - porvir. É ele o impulso que agiganta todos nós, personagens do espetáculo da existência. Nossa convicção é a de que o amanhã não é senão a estreia de uma grande peça - trágica ou cômica - para a qual estamos e sempre estaremos ensaiando.

domingo, 15 de agosto de 2021

PASSEIO PELA CIDADE



PASSEIO PELA CIDADE


Alcione Pessoa Lima


Um passeio pelas ruas da cidade...

Após a chuva, raios e enxurrada...

Não existe mais a melancolia das tardes...

Somente mariposas sobre a jitirana do lixão colorido.

Um véu cinzento de monóxido de carbono...

E tantos zumbis a vagarem, sem asas. 


As buzinas e ruínas perturbando a sensatez...

E os becos empilhados de pessoas...

São rostos desconhecidos...

Uma cidade que se desconhece...

Até por mim, que entre rios fui gerado. 


Percebo uma divisão...

Entre arranha-céus e guetos...

A acomodação de um apartheid...

Um contraste entre os sonhos que se aglomeram...

E ao cruzar a praça da cultura...

Arde em mim um silêncio que perturba.


Onde está a liberdade de à sobra do oitizeiro poder amainar o ardor do sol...?

Talvez na velocidade da transformação...

A esconder um horizonte que ainda resiste...

E no encontro dos rios fétidos...

Um anzol traz apenas um arrastão esquecido...

E a natureza morta (aguapés) descendo pela correnteza...


Vejo-te, assim, cidade cosmopolita...

Em teu céu cruzarem pássaros de aço...

E sem saúde, amontoados de pedintes, em uma única fila...

Um olhar lacrimejante: o meu lamento.

E sobre uma serpente de concreto, arrastar-se o trem...

Que transporta a minha saudade...

E surfistas equilibrando a vida, até cruzarem a linha do destino...

Mas, ainda posso ver flores em teu caminho...

A se sobreporem aos espinhos da tua dor.   

sábado, 14 de agosto de 2021

Parnaíba na pele e na alma

 


Parnaíba na pele e na alma

Elmar Carvalho

Sempre repito que nasci pela segunda vez em junho de 1975, quando, juntamente com minha família, passei a morar em Parnaíba, a maior parte do tempo na Praça da Graça, onde eu via as imperiais palmeiras acenando ao sabor do vento, sob o toldo azul do céu. Dr. Lauro Correia gostava de dizer que eu sou um parnaibano de Campo Maior. Quando fui morar, em agosto de 1982, em Teresina, as pessoas pensavam que eu fosse parnaibano. E parnaibano o sou, por vocação, devoção, coração e Título de Cidadania, que me foi concedido por iniciativa do vereador Batista Veras.

Em Parnaíba, no ardor de minha juventude feliz, sobre minha motocicleta uivante, os meus cabelos, então vastos e bastos, farfalhavam ao vento, ao vento que afagava minha pele bronzeada. Nessa amada Princesa do Igaraçu fiz inúmeros poemas que lhe cantaram a deslumbrante beleza arquitetônica e paisagística. Fiz minhas mais queridas amizades, entre as quais a do saudoso e dileto amigo Francisco de Canindé Correia. Parafraseando alguém, diria que carrego Parnaíba tatuada a fogo em minha alma.  

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Live sobre Alcenor Candeira Filho

 


Live ocorrida no dia 09 de agosto de 2021, promovida pelo Clube dos Poetas Mortais (do líder e criador Paulo Couto) e em homenagem ao escritor Alcenor Candeira Filho.

O evento virtual, que teve a participação de vários sócios do Clube e convidados, teve a mediação do diretor de eventos Francisco Carlos Pontes e uma palestra do poeta Elmar Carvalho. A parte técnica, como também a edição do vídeo ficou por conta do escritor e editor Claucio Ciarlini. 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

UM RATO DE BIBLIOTECA


 

UM RATO DE BIBLIOTECA

 

Marcelino Barroso de Carvalho

 

No dia 17 de maio do corrente ano, num dos diálogos que costumo entabular com o poeta Elmar Carvalho (sobre uma crônica por ele dedicada à sua irmã Josélia), de repente, ele me envia um áudio e diz que escolheu essa forma para comunicar o falecimento de um grande amigo seu, na cidade de Parnaíba. Quando comecei a ouvir o áudio, minha mente foi “direto” à pessoa de Jorge da Costa Carvalho, a quem conheci em 1978, logo que cheguei a Recife para o mestrado. Elmar confirma minha suspeita e eu passo a fazer algumas considerações sobre o amigo falecido, as quais ele pediu que eu transformasse em uma crônica ou depoimento em sua homenagem. Desafio aceito, por tratar-se de alguém que, por sua excepcional inteligência, sempre esteve presente em minha memória, mesmo estando afastado de mim há muitos anos, por circunstâncias naturais da vida, inclusive a distância geográfica.

Jorge Carvalho vivia nos corredores da velha Faculdade de Direito do Recife (UFPE), pois era o tempo de efervescência das manifestações comandadas, no meio universitário, por Marcos Freire, e, no meio rural, por Dom Hélder Câmara, em face do ambiente político que apontava certo enfraquecimento do regime militar de 1964. Era irrequieto, como seria de esperar-se dos jovens engajados de sua geração. Aqui no Piauí, já nos anos 1980, ainda voltamos a nos ver, mas, depois, perdemos contato. Com a notícia de seu falecimento, supus que estava em intenso sofrimento, para afrontar um dos mais rigorosos preceitos do espiritismo, de que era praticante. Uma perda desse jaez e nessa circunstância destroça a vida de familiares e amigos. Disse, na ocasião, a Elmar: “Não lhe desejo uma reencarnação incerta, mas a vida eterna, na paz do Senhor Deus e do seu Espírito Consolador”.

No final de maio, um grupo de intelectuais parnaibanos se junta ao poeta Elmar e promove a live “Tributo ao Poeta Jorge Carvalho”, uma justa e bela homenagem! Nessa ocasião, pude aquilatar a profundeza dos conhecimentos do homenageado e a fertilidade de sua verve. Nada me causou estranheza, porque Jorge era um autêntico rato-de-biblioteca, ou – o que dá no mesmo – rato-de-livraria. Eu ia à biblioteca da Faculdade praticamente todo dia e às livrarias, várias vezes por semana. Onipresente, Jorge estava sempre numa e noutras. De quando em vez, incursionava pelo Sebo do Brandão (um dos pioneiros do Brasil, no gênero), ao lado da Matriz da Boavista, e lá encontrava o Jorge. Acho que ele me perseguia, pois não me dava trégua. Só nunca o encontrei na Igreja da Conceição, nem na Capela do Colégio Salesiano, onde eu assistia às missas de domingo. Afinal, ele não morava perto de mim.

Na biblioteca da Faculdade, todos os funcionários o conheciam e sabiam que ele tinha fome de livros. Os bibliotecários – Marta, Ângela, Naide e Edmilson – sempre me davam notícia dele: “Jorge esteve/está aqui”. Não sei como um sujeito que andava e falava tão apressado conseguia conquistar tanta gente. Na Livro 7 (Rua 7 de Setembro, Recife), que, do início dos anos 1970 ao final dos 1990, foi a maior livraria do Brasil, era a mesma coisa: todos o conheciam. A genialidade do Tarcísio Pereira, seu proprietário, criou um novo conceito de livraria, a livraria-biblioteca, onde se podia ler os livros sem obrigação de comprar. Para efetividade desse conceito, havia vários espaços de leitura, de conversa e até para uma cervejinha, com um grande acervo de discos, que você podia ouvir e até comprar. Jorge dividia seu tempo entre a Faculdade de Direito do Recife e a Livro 7, onde se reunia a nata da intelectualidade recifense. A grandiosidade dessa livraria foi reconhecida em várias edições do Guiness Book. Depois de fechá-la, por causa da desumanização do centro do Recife, Tarcísio se tornou editor de livros, mas a Covid-19 ceifou sua vida, em janeiro deste ano, aos 73 anos de idade.

Volto ao Jorge Carvalho. Rato-de-biblioteca (ou de livraria), ele, literalmente, comia livros, mas não os comia sozinho; solidário, partilhava-os com os amigos, como testemunha o poeta Elmar Carvalho, destinatário de remessas sucessivas de impressos que ele adquiria com sofreguidão. A fome por livros é fome de conhecimento; é uma fome que torna a pessoa irrequieta, ansiosa. Nunca vi saciedade no Jorge Carvalho e pensei, sinceramente, que ele morreria de fome, fome de livros, fome de conhecimento, fome de saber. Talvez tenha sido isso mesmo, porque o silencio dos sábios é, não raro, sintoma de um vazio que somente se preenche com mais-saber. Se eu fosse um poeta, teceria uns versos em sua memória. Desprovido, porém, de estro, socorro-me de Elmar Carvalho, evocando a Recife que Jorge tanto amava: “seus lampadários / multicores / ilusórios e utópicos / como os primeiros amores / cheios de mágoas: / caleidoscópios / aquários” (Rosa dos ventos gerais, p. 135).   

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Feliz idade



Feliz idade 


Sousa Filho


Antes de iniciar esse escrito

Ele já torna meus olhos mares revoltosos

Tornando-os rubras cachoeiras: 

Por isso, devo perguntar:

Sou fúnebre? Sou feliz? Não sei.

Hoje, data funeliz, deveria eu  ser fúnebre?

Hoje data funeliz, deveria eu ser feliz?

Hoje, data funeliz, devo chorar?

Hoje data funeliz, devo sorrir?

Hoje, data funeliz,  o que faço?

Minha alegria é triste...

Minha parcial tristeza, insiste

Em refrescar minha memória

Do quão sou funeliz.

Por quê? Por quê?

Não sei; não há resposta pronta.

Talvez, sequer haja resposta.

Quem sabe alguém me rotule de aglutinante...

Quem sabeaAV, alguém me rotule  de neologístico.

Talvez não me rotulem...

Talvez... Não importa!

Ser fúnebre...

Ser feliz...

Ser funeliz...

O que importa?

Se,  na verdade, essa data independe

De conceitos formulados à revelia

Hoje é teu aniversário, irmão.

Embora morto, vives em meu coração

E na minha memória, 

Não lembrarei (apenas) de meus oito anos 

(Sem alusão a Casemiro),

Mas, inerente à nossa irmandade, 

Só te vejo vivo, vivendo.

A teu ver...

O que devo ser hoje, data do teu aniversário?

Fúnebre?

Feliz?

Funeliz?

O que me dizes, visto que estás vivo em meu coração e em memória?

Independente de qualquer coisa

Receba meus parabéns com felicidade

Nessa feliz idade.

Esse é o singelo presente de aniversário que  funelizmente , te ofereço.

Parabéns, irmão!


Praia da Pedra do sal , em Parnaíba, Piauí;

08/08/2021 - Poema em homenagem ao meu amado  irmão Edmar Ferreira de Sousa (in memórian). 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Live ALCENOR: O HOMEM, O MITO E O POETA


 

O Clube dos Poetas Mortais está convidando você para uma reunião Zoom agendada.


Tópico: Live - ALCENOR: O HOMEM, O MITO E O POETA

Dia 09 de agosto de 2021, às 20:00

Haverá uma palestra, debate e leitura de poemas.


Entrar na reunião Zoom

https://us04web.zoom.us/j/75345231075?pwd=MkhOVlhxeVBIWG5MSkZZSGFYU2VDdz09


ID da reunião: 753 4523 1075

Senha de acesso: 550LTJ   

sábado, 7 de agosto de 2021

NOTÍCIAS SOBRE JOÃO VINVIM E JOÃO ESTER


 

NOTÍCIAS SOBRE JOÃO VINVIM E JOÃO ESTER


Ivanildo di Deus Souto

(professor e escritor)

 

A ficção, seja ela científica ou literária, transgride e transcende a ordem predestinadamente lógica do establishment construído.  E é e se projeta além dos fatos imperceptíveis ao olho comum do cidadão intranscendente (aquele que foi vitimado pela violência dos açoites  do sistema capitalista internacional e nacional em nome do lucro) em narrativas criativas e vanguardistas.

João Pinto em “AS PEDRAS DOENTES DA RUA DO FIO” faz um relato exponencial das suas origens nascedouras dentro de um mundo distante e  impossibilitado de ser visto e construído de forma política e ideologicamente diferentes dos determinismos colonialistas, oligárquicos e patriarcalistas da sociedade local, pátria mãe da sua ou das suas construções literárias.

 João Vinvim e João Ester navegam e devaneiam num mundo simbiótico de mestiçagens reais e imaginárias construindo um baú desmemoriado de linguagens perdidas no desencanto da vida de um professor sonhador em busca de um recanto acalentador para se encastelar sem enriquecimentos. Um trajeto inglorioso em busca da pseudo felicidade inexistente da vida terrena. Há um baú, achado, perdido e acintosamente buscado no meio das vidas paralelas dos Joões, o Vinvim e o Ester, que se debruçam na lógica inimaginável das perdições inconsequentes das mazelas da mente humana.

João Vinvim e João Ester constroem sua narrativa vanguardista, difusa, misturada e descomplexada em meio à estapafúrdias realidade socioeconômica em que vivem e onde padecem os seus personagens coadjuvantes e sofredores. Se os professores, tanto João Vinvim quanto João Ester, buscando um baú à quase “Caixa de Pandora”, supostamente “menosprezam” as mulheres que encontraram em seus caminhos e que fizeram suas felicidades circunstanciais para espantarem suas dilaceradoras solidões, constroem, ao mesmo tempo, mesmo que nas entrelinhas, o papel exponencial das mulheres em suas vidas. Mulheres onipresentes e imprescindivelmente importantes à construção do HOMEM FEMINISTA.

Em “As Pedras Doentes da Rua do Fio” há a simbiose antropofágica de duas paisagens distintas que se construíram ao longo da história planetária no Brasil Latino-Americano- e transicionistas: uma semi amazônica e quase caatingueira e a outra totalmente Amazônica. Aí é quando João Vinvim e João Ester se debruçam sobre os escombros do corolário da estupidez do Capitalismo: modo de produção nefasto, predatório e esterilizador da fraternidade e da justiça social.

AS PEDRAS DOENTES DA RUA DO FIO transbordam as narrativas das vidas de João Vinvim e João Ester nas cidadezinhas pacatas de Luzilândia, no Piauí, São Bernardo, no Maranhão, e Manicoré, no Amazonas. São cenários bucólicos d’um tempo de outrora perdidos e encontrados na solidez da linguagem criativa de um contista renomado que faz-se agora em romancista exacerbado percorrendo caminhos literários mais avantajados e redimensionados.

A narrativa de AS PEDRAS DOENTES DA RUA DO FIO também é detalhista nos cenários e no modus vivendi dos seus personagens. Rebusca, também, aspectos históricos perdidos num tempo sem registros de memória e traz elementos informativos cruciais ao entendimento da história local de agora. Luzilândia, São Bernardo e Manicoré eternizam-se na Literatura robusta de João Pinto. 

Em dados momentos aparece um motoqueiro que leva João Vinvim de Luzilândia, no Piauí, aos Currais d’outrora e d’agora no interior do município de São Bernardo, no Maranhão. Um motoqueiro que aparece como uma pedra no meio do caminho de João Vinvim e de João Ester tempos distantes da infância e da juventude deles. Um motoqueiro que assombra e dilacera suas próprias vivências. Um motoqueiro que instiga João Vinvim e João Ester a desafiarem os caminhos percorridos por eles em suas vivências universitárias: LÁ ONDE O SOL NASCE PRIMEIRO! LÁ NA PARAÍBA!

AS PEDRAS DOENTES DA RUA DO FIO é um baú desmemoriado de reminiscências, de dores e de queixas onde o Alzheimer é o pano de fundo da narrativa de João Pinto. Se O.G. Rego de Carvalho consagrou seu trabalho literário tratando sobre a loucura em “Rio Subterrâneo”, João Pinto tende a seguir o mesmo com a paternidade do seu primeiro romance.   

Live em homenagem a Alcenor Candeira Filho

 


Gregório Neto Pires de Carvalho está convidando você para uma reunião Zoom agendada.

ALCENOR O HOMEM, O MITO E O O POETA
Data e horário: 9 de agosto de 2021 - 20:00 horas

Haverá palestra e declamações

Entrar na reunião Zoom
https://us04web.zoom.us/j/73973043827?pwd=NThHczBWM2xLSjB5TFFYcEtkRzkxQT09

ID da reunião: 739 7304 3827
Senha de acesso: ssHFe5  

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A cadeia velha



A cadeia velha 


Carlos Rubem


Em criança, mil vezes espiei uma fotografia esmaecida guardada numa pequena gaveta da velha cômoda existente no quarto do vovô Joel. Estampa o colonial prédio da Cadeia Pública construída pelo Visconde da Parnaíba, em 1839, quando Oeiras sediava a Província do Piauí. Projeto arquitetônico do engenheiro alemão Pedro Cronemberg, patriarca dessa família espalhada em diversas cidades do Piauí.


A imagem deste equipamento público figura na capa da 3ª edição da Revista do Instituto Histórico de Oeiras, publicada em 1980. Iniciativa do escritor Dagoberto Carvalho Jr.


Na juventude, tomei conhecimento de um outro instantâneo apanhado no dia 07.09.1937 quando das festividades da inauguração da luz elétrica pelo prefeito Rocha Neto, no qual vê-se apenas o oitão direito da cadeia velha e a Igreja de N. Sra. da Vitória, levantada em 1733, primeiro templo regular em terras mafrensinas.


Há pouco tempo, o primo Inamorato Reis localizou nos trens de sua tia Otília Ribeiro Gonçalves uma terceira fotografia panorâmica colhida nos anos vinte do século XX, certamente, em que registra aludida edificação já em ruinaria, o teto havia desmoronado.


Com a mudança da capital para Teresina, Oeiras entrou em declínio. Dos nefastos efeitos que a cidade sofreu foi a transferência do Liceu Piauiense e o abandono de diversos prédios, a exemplo o da Cadeia Velha, aludida na obra literária do grande conterrâneo O. G. Rêgo de Carvalho.


No seu lugar foi erigido, nos anos quarenta, pelo prefeito Coronel Orlando Carvalho, charmoso espaço cultural compreendido pela Praça da Bandeira, o Passeio Leônidas Melo e os edifícios do Cine Teatro, Associação Comercial e o Café Oeiras, todos de estilo “art déco”. 


A partir deste último retrato em apreço, pedi ao meu amigo Sóter Carreiro, arquiteto radicado em João Pessoa, que pintasse uma aquarela. 


Este artista plástico é amigo de Oeiras. Em 2017, ao ensejo das comemorações do tricentenário da cidade, por cá esteve. Produziu várias telas com cenários oeirenses que serviram de ilustração para o livro “Crônica dos Enigmas de Oeiras”, com texto do Rogério Newton, sob a chancela editorial da Fundação Nogueira Tapety - FNT. Um vistoso roteiro sentimental da cidade.


A encomenda saiu melhor do que o esperado. Sóter plasmou até a carnaubeira centenária nascida no claustro daquela penitenciária e que ainda hoje embeleza, de forma solitária, a nossa urbe.


Ao recompor, através de sua arte, a paisagem da Primeira Capital, Sóter dá um contributo inestimável à memória urbana da antiga Vila do Mocha. 


Representa uma denúncia à incúria administrativa a que Oeiras foi submetida no passado e um forte chamamento à atual e futura geração para o acautelamento da nossa identidade sertaneja.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

TRIBUTO A CANINDÉ CORREIA


 

TRIBUTO A CANINDÉ CORREIA

 

Antonio Gallas

Jornalista, contista e cronista

 

Tive o privilégio e a satisfação de ler,  em primeira mão, o livro "Tributo a Canindé Correia" editado sob a coordenação do escritor e jornalista Reginaldo Costa, conhecido por muitos como "o Reginaldo do Inovação".

 

        Referido  livro, primeiro volume  da série intitulada Encontros com o Inovação traz depoimentos dos amigos mais próximos de Canindé Correia, à época (anos 1970) jovens idealistas, poetas na sua maioria, que preocupados com o futuro da cidade e do país, resolveram fundar um "jornal alternativo" com propósito de denunciar  as atrocidades impostas por um governo militar que disseminava a miséria econômica trazendo consequências graves para as classe sociais mais baixas.

 

        Canindé Correia inseriu-se a esse grupo e foi tratado por todos com respeito,  admiração e acima de tudo, com carinho e amizade. Era considerado o "guru" e tratado por "chefe".

 

        Fazem parte deste primeiro livro acadêmicos como Alcenor Candeira, Pádua Santos,  Elmar Carvalho, Israel Correia, Wilton Porto, além de  outros intelectuais da terra como Vicente "Potência" de Paulo, Inaldo Pereira de Sousa, Maria de Lourdes Oliveira Sousa, dra. Maria  Eleuzis Mendes Teles de Souza e o próprio Reginaldo Costa responsável pela obra.

 

        Todos que participaram do livro, em seus depoimentos foram unânimes em enaltecer a grandeza de um homem que mesmo pertencendo a uma família rica, ilustre, nunca carregou consigo o orgulho, a prepotência, mas sim a humildade,  a solidariedade e a preocupação com as injustiças sociais em nosso país.

 

        Um livro muito bem escrito. Fazer  a leitura e a revisão de algumas falhas ortográficas, porventura existentes, para mim foi motivo de prazer, de alegria,  pois só assim fiquei conhecendo mais um pouco da personalidade do bom amigo, do bom pai de família, do amante do belo e das coisas certas, enfim, do cidadão chamado Canindé Correia.

 

        Neste domingo, 24 de janeiro de 2021 está fazendo um ano que Canindé Correia  foi morar com Deus. Aqui na terra, apesar da saudade, sentimo-nos confortados em saber que por tudo de bom e de bem que ele fez nesta vida terrena  valeu como crédito para sua vida eterna ao lado dos bons e dos justos.

 

NOTA DO EDITOR: o texto acima foi postado neste blog em 23 de janeiro do corrente ano quando o livro ainda se encontrava em fase de editoração. Agora pronto, exemplares poderão ser adquiridos na Banca do Louro e na Livraria Zabelê localizada no Parnaíba Shopping.

Fonte: Blog do Professor Gallas

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Singela homenagem ao Clube dos poetas mortais



Singela homenagem ao Clube dos poetas mortais


Sousa Filho


Oh, imortal Clube dos poetas mortais!

Vós, que tão bem me acolhestes em teu seio

Deixaste-me germinar em teu fértil meio

Sobrepujando egoísmos, abrindo portais

Sei que não duvido nunca, nunca , jamais

O quão és sólida rocha, fincado à rocha

E por mais que que tua solidez, que desabrocha

Tens uma base robusta, bem imponente

Que embora receba tanta, tanta gente

Não és sinônimo de quantidade, verdade

Isso independe de idade, raça , cor , credo ou  pensamento és sim, qualidade

Tudo és claro, límpido, transparente

Tuas asas protetoras, não cerceiam, 

Fomentam crescimentos poéticos , 

És latente,  imparcial, bélico, se preciso,

Tuas ações motivam e enriquecem

Àqueles para os quais abres tuas portas

E pra ti, o que nada, nada importa

Além do fomento à cultura, 

É saber que em vida ou no jazigo

A todos trata como amigos

Eu sou grato, pelo abrigo que me deste

E, embora eu sofra qualquer peste

Saberei reconhecer o teu valor

Pois se tratas todos como iguais

Só me resta te prestar uma homenagem

Pra falar de ti é preciso ter coragem, 

Imortal Clube dos poetas mortais.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Tributo a Canindé Correia já nas bancas de revista

 


Já se encontra à venda nas bancas de revista e na livraria Zabelê (no Parnaíba Shopping), o livro Tributo a Canindé Correia, economista, ilustre parnaibano, cidadão exemplar, sobretudo pelo zelo e dignidade com que exerceu os seus cargos públicos. Sua característica marcante foi a probidade e o interesse público. Exerceu a superintendência do SESI e foi secretário da Educação do Município de Parnaíba, na primeira gestão do prefeito José Hamilton.

Um paraíso

Fonte: Google

 

UM PARAÍSO


Alcione Pessoa Lima

Poeta e escritor


A gente vive à procura de um acolhimento sincero, da simplicidade, da honestidade dos gestos, de um carinho gratuito, sem a pressa da vida, mas, sentindo a vida correr, lentamente, como água de ribeirão, como nuvens sem propósito, como um rio que desse em seu leito sem a preocupação de que um dia suas águas chegarão ao mar.

Uma busca latente, um desejo profundo de conhecer suas raízes, de saudar os caminhos, os olhares, a vegetação, por vezes seca, em outras, sentido a verdejante natureza que renasce, que provém a colheita; um cheiro de mato, que a vida campesina é capaz de oferecer. 

E seguindo a trilha do desejo, em busca de abraços, de sentir um colo acolhedor de entes divinos, capazes da superação diária ou de anos, desde que fincados em seu chão, sejam felizes.

É desse manancial que precisamos, e, se muitas vezes distante, o tornamos remoto, impossível de alcançá-lo, ficamos em nossos casulos a resmungar a solidão dos dias. 

Mas, quando tudo está escrito, perseguimos na busca desse paraíso, como se o corpo e espírito necessitassem dessa dose cavalar de um amor verdadeiro, sem limites, a nos abraçar como se fôssemos a peça faltante, que o destino tão precocemente subtraiu.

A trilha sagrada, o beco que leva ao rancho, ladeado por cercas, sob olhares da vacada ou galinhas caipiras, d’angolas, satisfeitas em seu terreiro, sem qualquer moção por voar.

E ao aproximar-se daquela casa amarela, sob olhares de seus protetores, latidos e espreitas anunciam a chegada do antes estranho. Não sabiam eles que o tempo levou como o vento a uma folha sementes que germinaram em outro chão, mas o cordão umbilical ainda se encontra cravado no coração dos que ficaram.

E lá estão, de braços abertos, a oferecerem um aconchego terno, uma alegria contagiante, como a reconhecer os aromas de sangue, misturados aos da vegetação (velame, fedegoso, muçambê), abrindo caminho sob tapete de flores de um ipê. 

A beleza de um encontro e posteriores reencontros, pois, segundo Exupérry, somos eternamente responsáveis pelo o que cativamos, é que fortalece um laço, o abraço fraterno solidificando um elo perdido, porém, nunca esquecido. O ciclo se fecha. 

domingo, 1 de agosto de 2021

QUEM DISSE QUE PARA SER BOM PRECISA SER HONESTO?

 

Fonte: Google

QUEM DISSE QUE PARA SER BOM PRECISA SER HONESTO?

 

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

              Há quem diga que ser justo e bom, é ser perfeito. A princípio, entendi que ele parecia criticá-lo quando dizia que, desde que assumira seu emprego, no mesmo local e da mesma forma que o dele, por indicação política em atendimento a pedido de apadrinhado, jamais o vira apresentar-se em seu posto de trabalho. Por outro lado, complementava, sempre que ameaçavam atrasar ou deixar de pagar-lhe o salário, independentemente do motivo alegado, valia-se, antes, do telefone fixo, depois e-mail, celular, senão de amigos, parceiros ou cupinchas, para cobrar justiça, questionar ou exigir explicação do responsável pela elaboração da folha de pagamentos acerca da atitude, no mínimo, desrespeitosa que estivera prestes a ser cometida contra ele: deixá-lo sem a santa sinecura; aproveitava-se, não raro, nessas ocasiões, para examinar, informar-se ou confirmar se conversas ou buchichos relacionados a possíveis reajustes em seus vencimentos teriam fundamento.

                Sabiam, pelo menos, gente de sua repartição – então, eu também -, que o sujeito seria um bem-sucedido empresário do ramo de entretenimento e da gastronomia, um homem da noite, dono de casas de eventos, pubs, bares. Ou seja, seu vultoso salário naquela repartição pública à qual nunca comparecia, sequer para visitar os que, por lá, davam sua cota de suor e “sacrifício”, prebenda percebida por conta de gratificação referente a cargo de confiança que não exercia, mas que, só para não variar, era bancado pelo contribuinte. A despeito de perceber um ordenado ao qual não fazia jus, pelos já explicitados motivos, aos olhos de pseudotoleirões, indivíduos, do mesmo modo tão canalhas quanto ele, o moço posava de bom sujeito e gozava de alto conceito: era tido como religioso convicto, um inveterado carola, um beato de igreja, nas quais, a depender do evento de que participasse, ou ficava nas filas de bancos próximos às portas de entrada dos fiéis, a fim de ser mais visto ou reconhecido, ou dividia cadeiras com as “autoridades”, durante as diversas eucaristias a que acompanhava.

                Percebi, depois, que não era crítica o que aquele companheiro fazia a seu colega fantasma: na verdade, demonstrava uma espécie de admiração explícita, uma homenagem à esperteza e sagacidade do indivíduo, coisa que, talvez ele não tivesse. Quisera fosse ironia dele admitir tal salafrário como bom sujeito. Que é isso? Não saberia dizer, para quem ousasse querer ver ações como essas defensáveis, em que momento o pulha estaria sendo mais desonesto: se em sua hipocrisia religiosa, ou em continuar recebendo recursos públicos, desviado na forma de vencimentos, por uma função que não desempenhava. Possivelmente, o gostinho por estar passando para trás que não tinha costas largas, tanto quanto sua contribuição na dilapidação da grana do estado, levassem-no à obtenção de um prazer quase orgástico.

                Não, propriamente em defesa do irresponsável e falso servidor público, mas na forma de velada crítica à maneira como encaro esse tipo de patifaria, já me disseram que eu, provavelmente, estaria sendo demagogo, haja vista, certamente, saber que tantos fazem a mesma coisa. Será que não quereria parecer honesto demais? Cutucam-me. Não apenas ante essa ocorrência, em tantas outras ocasiões tenho perdido a paciência com tão compreensíveis cidadãos para com os malfeitos de esses coitadinhos. Irritado, repetidas vezes, chego a dizer-lhes estar me transformando naquele tipo de sujeito, irascível, para quem as pessoas ou são honestas ou desonestas; parecer uma coisa ou outra, significa ser a pior delas; e, especificamente, em relação ao elemento em comento, nenhuma eiva de honestidade se lhe permeava, pelo contrário, quem age como a figura, dando-se ao luxo de exigir benefício ou vantagem que não merece, o mínimo que lhe poderia acontecer seria ter que devolver até o último centavo tudo que solapou do erário por conta de serviços não prestados, trabalhos não realizados. Atribuir algum tipo de proporcionalidade entre essas condições dualistas – honestidade e desonestidade -, vejo como inaceitável do ponto de vista moral e ético; tampouco teria qualquer relevância impor pesos diferentes visando diferenciar situações mais, ou menos graves. Aqueles que, de modo recorrente, contumaz, incorrem na prática de atitudes desonestas, quando, vez ou outra, metem-se a praticar atos honestos, dificilmente, quem os conhece não vá perceber segundas ou escusas intenções nestas beatitudes; a não ser os que admitem como algo banal e desprezível criticar ou condenar alguém por um crime, contravenção ou infração - negados por eles como tal -, postos à disposição de quem quer que fosse/seja para cometê-los ou os praticar.  

MULHER NA LAGOA DO PORTINHO

Fonte: Google/Morais Brito



MULHER NA LAGOA DO PORTINHO


Elmar Carvalho

 

Na tarde antiga

de sol e bruma

de luz e penumbra

as dunas mudaram

de cores e formas.

 

Os belos olhos esplendentes –

pálidas cálidas opalas ou

esmeradas esmeriladas esmeraldas –

da mulher bonita

de sinuosas dunas e viagens

furta-cores furtaram

outros tons e sobretons.

 

Ainda guardo a memória viva

daquela tarde morna e morta

e ainda vejo aqueles olhos vivos

furtando furtivos cores e atenção.

 

E os olhos e as formas curvilíneas

permanecem intactos no tempo

que em mim não passou.

 

E a mulher, acaso passou,

nos escombros das formas

transitórias da beleza?...    

quinta-feira, 29 de julho de 2021

As moças velhas


 

As moças velhas


Pádua Marques

Contista, cronista e romancista


Dos Tucuns até o Cantagalo subindo pra o Macacal no rumo do Catanduvas, podia era procurar de luz acesa. Toda a Parnaíba sabia e não guardava segredo e não via com bons olhos aquela vida da filha mais nova do finado seu Doca Mariano Batista, a Nicinha, já moça velha e amigada com um rapaz mais novo. Este, vindo do João Peres no Maranhão pra ajudar no que fazer dentro de casa e agora tirando dela e da outra irmã, Branca, o pouco deixado pelo velho comerciante antes de bater as capelas dos olhos.

Se bem que Benício Potassa, o agora rapaz feito chegou em casa de seu Raimundo Mariano Batista, o Doca Mariano, ainda nem mudando a voz naqueles dias de 1928. Mas era afilhado da dona da casa, dona Dadinha, tendo vindo do João Peres, no Maranhão, sua terra. Veio ser criado, pra fazer serviços que as duas meninas mulheres não tinham como fazer por serem serviços de homem. Puxar água no poço, ir correndo num pé e voltar noutro no centro fazer alguma compra ou dar recados. Essas coisas.

Benício Potassa ainda menino e em casa de seu Doca Mariano e de dona Dadinha, quando não estava fazendo alguma coisa pra casa largava a sair caçando calangos pelos quintais alheios e nas cercas das casas nos Tucuns. Depois vinha mostrar pra Nicinha e a outra, Branca, essa mais recatada, de pouco meter a cara na porta, sempre agarrada com a mãe pra cima e pra baixo. Os calangos mortos e enfileirados metiam medo nela. Depois os pobres bichos eram rebolados no mato. Branca dizia que Benício era menino perverso, que quando morresse iria ser engolido por tudo quanto era calango.

Quando a situação de Doca Mariano Batista com a fortuna de dinheiro trocando de mãos e tudo foi ficando difícil com os alugueis de casas e de pontos de quitandas nos Tucuns, com as filhas já moças e sem vontade e pretendentes de casamento, o agora rapazinho vendia mangas nas proximidades do Hotel Carneiro e do Mercado Central. Mas era dito pra ele Benício Potassa que o apurado era pra comprar alguma muda de roupa, um calçado e de vez em quando dar um passeio na Guarita ou na Coroa.

Doca Mariano, que era rico, morreu pobre. Diziam que o motivo de sua miséria no fim da vida foi o pagamento dos pecados por ter abusado de muita gente que lhe devia aluguel dos pontos de comércio na Guarita, nos Tucuns e até no Alto do Cemitério. Donas de cabarés na Parnaíba sofriam mais que sovaco de aleijado. Estas sofriam muito com seus modos de cobrança. Outros diziam que ele mesmo, isso era coisa sabida por todo mundo, foi muitas e muitas vezes ao Maranhão à procura de mocinhas novas pra jogar no meretrício.

Morto ele e a mulher dona Dadinha, perto um do outro, as duas moças já beirando os trinta anos viviam se sustentando dentro de casa com o pouco que deu pra ficar. Aluguéis de uns cinco pontos de comércio no Mercado Central e de duas casas na Guarita. E Benício Potassa, o criado, tinha a vida dele, vivendo num quarto nos fundos do quintal e vendendo no mercado suas mangas, suas goiabas, pitombas, cajás. Com o apurado comprava uma roupinha aqui, um calçado mais na frente e mandava de vez em quando algum trocado pra uma irmã no João Peres.

De uns tempos pra cá a vida de Benício Potassa estava melhorando. Já podia entrar dentro de casa, beber e comer até na mesa com as patroas, dar palpite em conversas, ia cobrar os aluguéis dos pontos de venda e das casas da Guarita. Já não era mais o tratador, o botador de água nos potes, o rachador de lenha pra cozinha e o menino que antes cuidava dos canários de seu Doca Mariano. Quem o conhecia agora se admirava da mudança. E a conversa de dentro das igrejas e de porta de rua na Parnaíba era de que Nicinha Batista estava amigada com o criado de seu falecido pai. E era verdade.

Branca era uma santa. Só ofendia o que comia. Vivia dentro de casa, pouco ia à igreja de Nossa Senhora da Graça, alguma festa de família, um batizado ou aniversário de um filho de conhecido, a compra de um pano no seu Antonio Tomaz em frente ao Mercado. Era de andar sempre com um chapéu de sol, mesmo que fosse dia nublado pra chover. A outra, Nicinha, essa sempre foi mais saída pra lado de homem. Mas as duas nunca casaram. Talvez porque Doca Batista era muito ruim pra elas filhas e dona Dadinha. Dentro de casa e tendo a vida e o tipo de negócios que tinha, ficava com medo delas levarem pra genro dele um camarada esperto demais.

Mas a conversa de ponta de rua e de encontros de escada de igreja e saída de quermesses, das fuxiqueiras da rua Conde D’Eu, era da vida de Nicinha, a filha mais nova de Doca Batista, já chegada na idade e vivendo amancebada com um caboclinho sem origem vindo do Maranhão. Caboclinho que não escondia os costumes. A ponto de viver vendendo mangas numa esquina do Mercado Central na praça Coronel Jonas e jogando apostado. Era um rapaz até de boa feição. De boa altura, de pele clara, meio fogoió.

Numa dessas idas de dona Nicinha Batista pra igreja de Nossa Senhora da Graça, o criado e agora marido achou de ir junto. Branca ficou em casa tratando de fazer uns doces. Vinham e a igreja já estava cheia de gente. Mas de longe, ainda quando atravessavam o largo foram vistos chegando. Ela caminhando na frente e ele Benício mais atrás, dando distância e mostrando humildade de condição de criado da casa. Foi o bastante pra que na saída toda a Parnaíba ficasse fuxicando.

Nicinha não deu importância ao que ficaram olhando e dizendo as mulheres de gente importante de Parnaíba quando padre Roberto acabou a missa. Mas Benício tomou vergonha. Vergonha talvez não fosse. Mas a patroa pegou na sua mão e os dois saíram no rumo de casa. Umas conhecidas vieram se fingindo perguntar como estava a vida, perguntaram por Branca, a irmã, enquanto ficavam de olho grelado, de cima a baixo no homem de boa aparência ao seu lado.

Dias passados e Benício foi ficando esquisito, de pouca conversa com dona Nicinha e com Branca. Era de chegar em casa e pouco procurar as patroas. Cumpria o mandado e pouco dava na vista. Largou a beber. Na semana seguinte chegou de noite do mercado cheirando a aguardente e a fumo. Foi pra o quarto e arrumou as roupas e os poucos pertences. Pela manhã, na hora de costume de encher os potes, ele não apareceu. No meio do dia vieram avisar que um corpo de homem foi encontrado no Igaraçu e que podia ser o dele. E era.

Demorou a ser retirado da água. Alguns homens dali dos Tucuns e até da Ilha Grande se atreveram a mergulhar no rodeio das canoas e das lanchas. Agulha, Zé Filinto, Domingo Cabeção, seu Onofre, Peido de Ovo, seu Bagre. O porto ficou coalhado de gente de tudo quanto foi lugar naquele de manhã. Mas Benício Potassa foi achado. Estava com os pés amarrados, vestido como se fosse viajar ou ir pra missa. No bolso da calça foi encontrado dinheiro. Muito dinheiro. Um terço e um escapulário de São Bento. Tudo aquilo muito esquisito.

As irmãs Nicinha e Branca foram chamadas em casa pra verem o corpo de Benício Potassa e providenciarem o enterro. Os mergulhadores continuaram as buscas por mais alguma coisa, talvez uma mala. E foi o que encontraram. Uma mala ruim feita de madeira, que quando aberta, dentro estavam umas mudas de roupas, duas pedras grandes, um par de sapatos caros e um cinturão. Tudo como fosse vestuário de um homem importante da Parnaíba.

Quando o corpo de Benício Potassa foi retirado da água e colocado na areia fofa da beira do rio nos Tucuns, uma multidão se formou em volta. Uns lembrando o sujeito bom, prestativo, trabalhador na casa de seu Doca Mariano e de dona Dadinha. Outros lembrando o vendedor de mangas, cajus e pitombas e todo tipo de frutas no Mercado Central. E mais outros, homens e mulheres, meio afastados, falavam da vida do rapaz sonso e vindo de João Peres, agora afogado e que vivia amigado com a filha do padrinho.    

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Surpresas (boas) da literatura

Obras coletivas de que faço parte

Nesta quarta-feira, fui deixar minha bicicleta numa oficina, pois ela estava com o pedal escacholado. Em seguida, fui à Banca do Louro, para deixar uns livros de minha autoria para o Paulo Couto, que se encontra passando uns dias em Coqueiro, e só volta na segunda-feira, quando eu talvez já tenha retornado a Teresina. Em seguida, por WhatsApp, tive a grata surpresa de receber a seguinte postagem do amigo Claucio Ciarlini:

"Foi com muita alegria que ganhei do meu amigo e Poeta Elmar Carvalho mais quatro obras de sua autoria. Trata- se das raras: 1° e 2° edições do livro A Rosa dos Ventos Gerais, O Pé e a Bola e A Poesia Parnaibana, que estão na primeira imagem. Na sequência, as quatro obras ao lado das que eu já tinha dele na coleção. Muito obrigado, meu amigo, por me premiar com suas ricas e inspiradas criações, mas obrigado principalmente por sua amizade e carinho."


Só me resta agradecer ao poeta Claucio pela generosidade de suas palavras.