quarta-feira, 2 de novembro de 2022
terça-feira, 1 de novembro de 2022
A SORTE ESTÁ LANÇADA
A SORTE ESTÁ LANÇADA
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Em dois
mil e dezoito, condenado pelas cortes superiores da justiça brasileira, e
preso, em consequência de crimes apurados pela Operação Lava Jato, após
aguardar muito tempo por algum tipo de beneplácito judicial que lhe pudesse
permitir concorrer em eleição presidencial, benesse que não veio, seu partido,
quase no fechamento de prazo para registro de candidaturas, indicou, ou melhor,
efetivou o candidato substituto, que não era um novo poste, como titular; como
já se mostrava tardia essa opção, o nome indicado não deslanchou; mas não só
por isso: paralelamente, fato de grande repercussão política, uma tentativa de
assassinato ao principal adversário, influenciaria bastante na condução e
execução da campanha desse; aliado à
situação constrangedora do ex-adversário – alijado do processo eleitoral pelo
poder judiciário - , tal fato, contribuiria para que o candidato-vítima se
sagrasse o novo presidente eleito da república federativa do Brasil.
Ano seguinte,
dois mil e dezenove, a mesma Justiça que havia impedido o ex-presidente,
condenado e preso, de concorrer na última eleição, reexaminando os processos
decorrentes da Operação Lava Jato – reitere-se, os mesmos cujos crimes neles elencados, previstos e
inscritos, uma vez julgados, condenariam o ex-presidente - , revendo seus
conceitos, dessa feita, considerou ditos processos, no que tangia a seu rito,
mas não no tocante aos delitos cometidos, que foram mantidos, formalmente,
inválidos, anuláveis e canceláveis; portanto, insuficientes para mantê-lo preso
e cassada a intenção do ex-presidente de concorrer em novo pleito eleitoral.
Com os
direitos políticos restaurados e devolvidos pela suprema corte do poder
judiciário, lançar-se-ia o ex-presidente, ex-condenado, desde então, em missão
política visando recuperar o cargo em relação ao qual lhe fora negada a
possibilidade de disputar na eleição anterior: presidente da república.
Graças,
em grande parte, às ações de intransigente teimosia, irascibilidade e desinteligência,
enquanto ocupante do cargo, infelizmente, arregimentou o presidente, para seu
governo, não há como negar, uma sucessão de fatos que prejudicariam,
gravemente, o desempenho de sua gestão. As más decisões em relação à pandemia
pelo coronavírus, as espúrias coligações político-partidárias engendradas, o
abandono das promessas de campanha, principalmente, daquelas em que se
comprometia fazer um governo sem os
ranços do passado, preferencialmente, sem se submeter à velha política, o que,
certamente, de fato, lhe fariam diferente de muitos de seus antecessores,
obliteraram algumas das razoáveis atitudes governamentais tomadas e o colocaram
no rol dos comuns; disso se aproveitaria o principal opositor. Consequência
desse acumulado de ingerências: uma grande rejeição popular – à qual o maior
adversário também esteve sujeito, registre-se -, que não conseguiu anular nem
diminuir, e levaria sua intenção de reeleger-se a não ser aceita pela maioria
dos eleitores; a tal ponto essa rejeição, claro que aliada a outras
idiossincrasias e dicotomias, lhe prejudicaria eleitoralmente, que, para
muitos, não soaria estranho se ele fosse vencido pelo ex-presidente já no
primeiro turno, o que não aconteceu.
Enfim,
é possível que a história política do país passe a registrar os seguintes
fatos: ainda que estivesse de posse das chaves do erário - e das quais, obviamente, faria uso sem
moderação -, com grandes e poderosos nomes da câmara e senado federal à sua
disposição, mesmo assim, não evitaria a pecha de ser considerado o primeiro
presidente, após a criação do malsinado instituto da reeleição, a não conseguir
ser reeleito; e algo mais iria para os anais da história contemporânea
tupiniquim: que quem o teria derrotado, na primeira eleição em que,
pessoalmente, estiveram frente a frente concorrendo, seria o primeiro a
conseguir um terceiro mandato presidencial, até então. Se isso tem alguma
importância, já é outra história.
O que
assistiremos a partir de janeiro de dois mil e vinte e três, tomara não seja um
péssimo filme reprisado; quanto ao que veremos até final de dois mil e vinte e
dois, dificilmente, nos eximirá daquela sensação de déjà vu.
Alea jacta est e, a menos que cataclismos de diversas ordens e potências transformem esse interregno histórico, com caráter de irreversibilidade.
domingo, 30 de outubro de 2022
Seleta Piauiense - Alcenor Candeira Filho
Fonte: Google |
MOMENTOS DE ANGÚSTIA
(fragmento)
Alcenor Candeira
Filho (1947)
Estou ouvindo o relógio que dá pancadas;
no entanto, não sei se é dia ou se é noite.
Lá fora, o velho vento volúvel vibra,
vagaroso, qual se fosse um manso açoite.
E enquanto esse barulho funéreo se mistura
com o da chuva que dos céus torrencialmente cai,
minha alma, barco sem vela, vai vagando em grandes trevas
onde cada latejo do meu coração é um ai.
sábado, 29 de outubro de 2022
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
DISCO VOADOR PAIRA SOBRE PARNAÍBA
Fonte: Google |
DISCO VOADOR PAIRA SOBRE PARNAÍBA
Elmar Carvalho
Na conversa a que me referi no
texto anterior, o poeta Jorge Carvalho contou-nos um fato deveras interessante
sobre OVNI (objeto voador não identificado). Antes, porém, devo repetir que o
conheço faz mais de trinta anos, desde que ele cursava a Faculdade de Direito
do Recife, a mesma em que estudaram, sem concluir o curso, os grandes poetas
Castro Alves e Fagundes Varela.
Quando ele vinha de férias (no
final dos anos 70 ou começo dos 80), trazia-me revistas literárias da
autoproclamada vanguarda, que me deixavam atualizado com o que se fazia em
outros Estados, e entre elas a Gandaia. O vate, que é também fiscal do
Ministério do Trabalho, contou-nos que, na década de 1950 (salvo engano de
minha parte), quando ele ainda era menino, um disco voador foi visto pairado
sobre o mercado central de Parnaíba, a grande altura.
Vários feirantes e consumidores
teriam visto o objeto voador, o que causou certo burburinho na feira. O Jorge o
observou de um lugar privilegiado, verdadeiro mirante, a área aberta do belo e
velho edifício Leão, pertencente a seu avô, o comerciante Antônio Thomaz. De
seu “observatório”, viu quando o disco voador se deslocou em direção ao Delta
do Parnaíba, em grande velocidade e notável capacidade de aceleração, ao tempo
em que baixava de altitude.
Pela sua forma de disco, pelo
fato de ter ficado imóvel no ar, pela velocidade e desempenho na aceleração,
não poderia ser avião, helicóptero ou balão. Como o suposto OVNI foi visto
simultaneamente por várias pessoas, no mercado público da cidade, em plena luz
do dia, o que parece ser incomum nos relatos desse tipo de evento, é certo que
não se tratava de alucinação, já que as condições e circunstâncias do momento e
do local não predispunham a isso, de modo que os estudiosos do fenômeno teriam
grande proveito se conversassem com o Jorge e com outras pessoas
contemporâneas, que tenham presenciado esse episódio.
Para os céticos, invocando Shakespeare, Cristo e um humorista, relembro: há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia; na casa de Deus há muitas moradas e no céu há mais coisas do que apenas os aviões de carreira. Não fora isso o bastante, os cientistas, sobretudo os físicos, cada vez mais descobrem novos e fascinantes mistérios, como a possibilidade de existirem universos paralelos e “várias e inefáveis dimensões”, como eu disse num de meus poemas.
23 de abril de 2010
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
A CHUVA
Fonte: Google |
A CHUVA
Cícero Veras
A noite cai negra e sombria
E no terreiro prepara uma fogueira
A viola num canto parada o dia inteiro
Agora se lança em cantoria
Um rasgo no céu clareia o mundo
É as primeiras gotas de esperança
Ninguém se importa se a fogueira apaga
Com a saraivada d’água fria
Ou se o sapo coaxa na estrebaria
Pois quando a chuva chega,
E o chão rachado encharca,
Nada pode conter tanta alegria!
O relâmpago anuncia o que viria
Nem se cogita parar a brincadeira
Cá dentro a luz de lamparina ou candeeiro
A viola dispara em sinfonia
O som das águas se ouve ao fundo
Um motivo a mais para a festança
Os dedos ágeis ao instrumento afaga
Corre solta a noite em alquimia
O sertanejo bravo festeja sua alforria
Pois quando a chuva chega,
E o chão rachado encharca,
Nada pode conter tanta alegria!
Aí quem me dera voltar um dia
Como quem canta a marcha derradeira
Diz o sertanejo saudoso no sul forasteiro
Rasgando seu peito em agonia
Sonhando voltar àquele que é seu mundo
Nos dias de grande abastança
Dançar ao som dos pingos que se traga
Como se fosse uma grande fantasia
Descerrando o céu de uma noite fria
Pois quando a chuva chega,
E o chão rachado encharca,
Nada pode conter tanta alegria!
São Luis - 27/10/2022
terça-feira, 25 de outubro de 2022
PARA ONDE IRIAM OS BURROS?
Fonte: Google |
PARA ONDE IRIAM OS BURROS?
Antônio Francisco Sousa –
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Será
que terão mais sorte do que seus irmãos tortos, os jumentos? Estes, há muito
vêm sendo desprezados pelos donos, que preferiram substituí-los por
motocicletas, rápidas e mais possantes, que vão aonde eles iam e sujam menos.
Ao tempo da ideia original deste
texto, lá em dois mil e dezesseis, já se ventilava que os coitados dos jegues
estariam a um passo de virar manjar na China. Diziam que a terra dos mandarins
teria potencial para importar até um milhão deles por ano, para transformá-los
em fina iguaria; como uma pandemia abalou o mundo, nesse ínterim, isso pode ter
mudado.
Desde
lá, nos perguntávamos: e os burros, para onde iriam? É que, naquela época,
durante campanha eleitoral, reiteradamente, um candidato a prefeito municipal –
teria, acaso, querido ser irônico como um ex-governador que, no curso de seu
mandato, levou-os e a seus donos para pastarem e visitarem o palácio de onde
despachava ordens e decisões governamentais?
Ou um tanto pitoresco, ou melhor, quixotesco, como aqueloutro,
trabalhador incansável e sonhador quimérico com barca do sal, asfalto branco,
praia artificial e que tais? Parece que sim, pois a loa permaneceu tão somente
no mundo das péssimas ideias -, comprometia-se, segundo ele, visando pôr fim no
maltrato aos animais domésticos, inclusive, os que atuavam como força motriz ou
instrumento de trabalho, a despeito do que a respeito daquilo pensassem eleitores,
críticos e adversários, uma vez eleito – como o foi, mas não cumpriu a promessa
-, a retirá-los da frente das carroças, que passariam a ser motorizadas. Fato é
que, nem o burro ficou desempregado, nem o carroceiro sem ganha-pão, ainda bem.
O assunto voltou a público,
recentemente, mas sob outra autoria. Como dantes, antes que a especulação possa
integrar o teor de norma legal e se tornar fato, com status de peremptoriedade,
o legislador - claro que o fará, na hipótese de, dessa feita, o caso ser levado
a sério (mas, por que não, já ir antecipando as discussões a respeito do
tema?), - precisaria informar o que faria para que os donos das carroças, no
mais das vezes, indivíduos que apenas sobrevivem com pequenos fretes ou
carretos, que conseguem graças a seus burros, arranjassem dinheiro a fim de
adquirir, modificar, aparelhar, equipar as máquinas que substituiriam seus
animais. O combustível não seria problema: hoje, o motor, ou melhor, o burro,
alimenta-se de milho e de algum outro tipo de ração vegetal; com a mudança da
tração animal para motorizada, utilizaria álcool, gasolina, diesel, mais em
conta; quem sabe o danado já pudesse vir em uma versão híbrida (elétrica e a
combustão).
Será
que a discussão de como se daria o financiamento do veículo e demais
equipamentos necessários à motorização da ex-carroça de tração animal; quais as
condições; quem produziria os novos equipamentos, quem os instalaria, ocorreria
após a aprovação e sanção da específica norma legal, ou seria matéria-prima de
novas querelas políticas? Enquanto a lei
não saísse ou não se tivesse conhecimento mais abalizado sobre o assunto,
far-se-ia urgente aos mentores do projeto legislativo, se ainda não o houvesse
feito, meter-se a lucubrar, pensar, especular acerca do que seria feito, para
onde mandar o preterido e superado ex-motor, o velho e bom burro, desde que não
obrigassem seus donos a mantê-los como ociosos animais de estimação, também não
fosse transformado em alimento para animais dos zoológicos, abandonado para
morrer à míngua ou vagar pelas estradas e rodovias, correndo e causando riscos
à própria vida e a de muita gente; é que, algumas dessas alternativas seriam,
certamente, muito mais violentas e humilhantes do que conduzir carroças.
Como
fizemos lá em dois mil e dezesseis, pediríamos um pouco da atenção dos
senhores, carroceiros: não vão com muita sede ao pote; não vendam, não troquem,
nem façam qualquer negócio com seus burros até que a lei que determinaria sua
substituição por modernos equipamentos de tração mecânica e/ou elétrica entre
em vigor e “pegue”, sejam garantidos os financiamentos para adquiri-los, todas
as regras estabelecidas e postas à mesa, à disposição dos interessados. Vai
que, no entremeio dessa história, surge ou aparece um novo candidato a
legislador que considere essa ideia de motorização das carroças demagógica, uma
quizila quixotesca, e se esforce para derrogar a legislação que a teria
autorizado? Alguém duvida?
Jornal O Piaguí completa 15 anos e encerra suas atividades
Claucio Ciarlini |
Jornal
O Piaguí completa 15 anos e encerra suas atividades
O
Piaguí, jornal cultural surgido no ano de 2007 e distribuído gratuitamente
todos os meses em Parnaíba e região, acaba de encerrar suas atividades. A
edição de outubro, de número 173, é a última do impresso democrático, histórico
e literário que, durante os 15 anos de existência, contou com mais de 500
colaboradores, dentre poetas, contistas, cronistas, desenhistas e também
pesquisadores científicos.
Editado
por Claucio Ciarlini e diagramado por Fábio Bezerra (fundadores), O Piaguí teve
como missões durante sua trajetória a divulgação e a valorização da cultura, da
literatura e da história do Piauí, mas não se limitando a apenas o estado. O
incentivo aos novos talentos da escrita e do desenho também foram suas metas,
mas mantendo uma abertura de igual tamanho, portanto, democrática, para os mais
experientes e renomados. Durante suas várias edições, principalmente as que
foram publicadas nos últimos seis anos, a promoção do diálogo entre escritores
e artistas de diferentes gerações que atuaram no impresso foi intensificada.
Claucio Ciarlini, no editorial
deste último número, comentou que assim como a vida é feita de ciclos, com
início, meio e fim, o Piaguí não poderia fugir à regra. O editor agradeceu a
todos os apoiadores, colaboradores leitores ao longo do tempo, que nas palavras
dele, foram o precioso combustível para que o jornal pudesse sair de 2007 a
2022. Ciarlini também comentou sobre a consciência de que o jornal buscou fazer
o máximo pela cultura da região e que a sensação ao final, guardadas as imperfeições,
é a de dever cumprido. A edição especial contou também com várias mensagens de
despedida e homenagens vindas de escritores e artistas, muitos deles que
tiveram suas estreias nas páginas piaguienses.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
domingo, 23 de outubro de 2022
Seleta Piauiense - Jamerson Lemos
Fonte: Google |
o espelho
Jamerson Lemos (1945 – 2008)
o que seria de nós se não fosse o espelho?
dentro do espelho está o acordar.
está
o livro relido muitas vezes. Até a água
que deverei tomar banho está no espelho.
além estão:
azulejos suados pela manhã
cortina de cisnes e flores
o azul de pratos na pia.
o sabonete mora no espelho
a banheira dorme no espelho
o cabide vê-se no espelho.
o que seria de nós se não fosse o espelho?
Fonte: Sábado Árido (1985)
sábado, 22 de outubro de 2022
Fragmentos da Memória (bônus): Museu do Trem
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
Discurso do Professor Carlos Evandro Martins Eulálio
Arlindo Leão, dona Rita de Cássia, professor Carlos Evandro, prefeito Mão Santa e poeta Diego Mendes Sousa |
Discurso do Professor Carlos
Evandro Martins Eulálio, da Academia Piauiense de Letras, ao receber a Medalha
e o Diploma do Mérito Municipal de Parnaíba do prefeito Mão Santa, na
Solenidade alusiva aos 200 anos da adesão de Parnaíba à Independência do Piauí,
em 19/10/2022.
Excelentíssimo Senhor Prefeito,
de Parnaíba, Francisco de Assis Moraes Sousa (Mão Santa), Excelentíssimo Senhor
Superintendente de Cultura de Parnaíba, Arlindo Ferreira Gomes Neto (Arlindo
Leão), Poeta e advogado Diego Mendes Sousa e demais autoridades presentes a
esta solenidade.
Muito me honra receber esta
homenagem, porque ela representa uma das mais significativas formas de reconhecimento,
fora de minha cidade natal, como professor e leitor especializado na análise do
discurso Literário. É com humildade que a recebo e, por esse motivo, quero
partilhá-la com todas as pessoas que contribuíram para que eu a merecesse: os
organizadores deste evento, os meus antigos professores, os meus alunos, os
meus filhos e netos e, em especial, minha mulher Rita de Cássia, aqui presente
nesta solenidade.
Os meus vínculos com Parnaíba
devem-se ao mar e à literatura. O primeiro, como sonho de todo piauiense,
nascido na Chapada do Corisco: conhecer mar e seu encantamento. O segundo, como
leitor das obras de Assis Brasil, Alcenor Candeira, Diego Mendes Sousa, Elmar
Carvalho, Everaldo Moreira Veras, Ovídio Saraiva, Renato Castello Branco, e de
tantos outros notáveis desta terra que se destacaram e se destacam como grandes
nomes da literatura brasileira.
O educador Rubem Alves, na obra
Concerto para o corpo e alma, diz que, “na vida, cada momento de beleza vivido
e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à
eternidade”. Esta tarde, em que recebo tão elevada homenagem, ficará gravada
eternamente em minha memória. Agradeço mais uma vez a esta cidade amiga e
acolhedora, aos amigos que aqui residem, ao nosso estimado prefeito Mão Santa,
e a todos que me proporcionaram este momento de alegria inesquecível. Encerro
minhas breves palavras com estes versos de Drummond*:
“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.”
Muito obrigado a todos.
*ANDRADE, Carlos Drummond de.
Memória. In Claro Enigma Record, 1991.
quarta-feira, 19 de outubro de 2022
A primeira professora a gente nunca esquece
A primeira professora a gente nunca esquece
Carlos Rubem
No dia em que cheguei à casa do vovô Joel retornando do meu primeiro dia de aula do curso primário, em 1965, a minha tia Rita Campos, educadora que era, fez-me uma festa. Falei das minhas impressões da escola. Ela indagou-me qual era a mais bonita professora do “Costa Alvarenga”. Com toda sinceridade infantil, disse-lhe que não sabia dizer, mas a mais feia era Carolina Raposo! Este fato é sempre lembrado no seio familiar.
A minha primeira professora foi a tia Cocota, Maria Reis Freitas, irmã do meu pai, Ditinho.
Sentava, em dupla, bem na frente numa carteira pesada, larga. Ao meu lado, ficava o Aécio Nordman Lopes Cavalcante, meu compadre, poeta. Nunca me esqueci o significado de “Pindorama” por ela ensinado: “É palavra indígena que quer dizer terra, lugar das palmeiras, nome como era inicialmente conhecido o Brasil”.
Gostava de bater com uma régua de madeira sobre a mesa pedindo silêncio e na minha cabeça, vez outra, por causa das minhas travessuras. Ai, como ainda dói...
Nas datas cívicas, com o dinheirinho da "caixa escolar", distribuía para os alunos, em fila indiana, um pãozinho com recheio de goiabada. Uma vez, porque sobrou uma única guloseima, quis comê-la. Tia Cocota ralhou-me: — Não, este aqui é de um aluno que está doente, vou mandar levar na casa dele!
Foi minha mestra do 1º ano “A” até o 2º, em 1967, época em que se aposentou. No final do ano, a Diretora do educandário público, Dona Sinhá Torres, e demais professoras, chegaram de surpresa no último dia de aula e, numa simples e tocante solenidade, prestaram-lhe uma homenagem. Houve cânticos. Tomei a iniciativa e pronunciei o meu primeiro discurso. E acho que me desincumbi bem desta tarefa, apresentei, em nome dos meus coleguinhas, meus agradecimentos, etc e tal. Fui ovacionado!
A partir do ano seguinte, 1968, quem assumiu a turma foi a professora Rosário Nunes Brandão.
Na conclusão do curso primário, fiz questão de ter como madrinha de formatura a tia Cocota. Ela ficou radiante com meu gesto...
Hoje (15/10), dia consagrado aos Mestres, gostaria de expressar meu regozijo pelo transcurso desta data a todos os professores avocando, como ora avoco, a memória da tia Cocota.
Parabéns, minha primeira professora!
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
domingo, 16 de outubro de 2022
Seleta Piauiense - Herculano Moraes
Fonte: Google |
Cantigas de Minha Terra
Herculano Moraes (1945 - 2018)
Um dia nós exportamos
Milhares de marruás
O gado manso tangido pelos
sertões
De vastos carnaubais
No lombilho do jumento
Ou sobre os trilhos de aço
A cera de carnaúba
Desenvolvia o progresso
Bendito tempo de glória...
Dentro dos sacos de açúcar
O coco de babaçu teve parte na
história...
Ciclo bendito da riqueza
brasileira
velho tempo de fartura contado
por meus avós
— Pra nossos netos, Socorro,
Que lembrança teremos nós?
Fonte: Jornal de Poesia
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
LIVRO E DISCOS VOADORES
LIVRO E DISCOS VOADORES
Elmar Carvalho
Anteontem aconteceu o lançamento
de “Seleta em Verso e Prosa” de Alcenor Candeira Filho, meu amigo há mais de
trinta anos. Nutrimos uma admiração e respeito recíprocos. Já há algum tempo
lhe “cobrava” uma antologia que contemplasse também seus textos mais antigos, que sempre admirei, e
que achava importantes pela “parnaibanicidade” de que estavam impregnados.
O Antônio de Pádua Ribeiro dos
Santos, excelentemente, apresentou a obra, através de texto em formato de
crônica. O Alcenor fez algumas contextualizações e esclarecimentos necessários.
Em suma, foi uma grande festa, de cultura e de congraçamento, em que pude rever
caros amigos. Estou me refestelando com os belos textos enfeixados na
antologia. No decorrer do farto coquetel, conversei com o amigo e poeta Jorge
Carvalho, e admirei, mais uma vez, a sua memória prodigiosa.
Disse-me que, entre os guardados
de sua mãe, descobriu um pequeno convite para a missa de sétimo dia de minha
irmã Josélia, tragicamente morta no esplendor de seus quinze anos, em desastre
automobilístico, em 2 de julho de 1978. Em determinado ponto, falamos em almas
ou espíritos, já que o Jorge é espírita convicto e praticante. Das almas
derivamos para discos voadores.
A escritora Dilma Pontes nos
instigou a contarmos algum caso sobre esses objetos voadores. O Jorge, que é
meu amigo faz mais de trinta anos, desde quando ele ainda era estudante
universitário no Recife, e me dava o prazer de visitar-me nos Correios de
Parnaíba, quando vinha de férias, lembrou-se de que eu tinha uma antiga
experiência a esse respeito. Narrei o fato que me aconteceu.
Eu fora com o Reginaldo Costa, do
jornal Inovação, levar um recado do sociólogo Antônio José Medeiros a uma
pessoa que morava perto de Chaval (CE). Fomos em minha motocicleta. Quando
voltamos, em certo ponto da estrada, já noite fechada, vimos umas luzes, arredondadas,
mais ou menos da altura do teto de uma casa, no meio do breu total da noite.
Parei a moto. Eu e o Reginaldo olhamos essas luzes sem nenhum receio.
As luzes pareciam suspensas sobre
uma grande árvore, como bolas natalinas, porém maiores que estas. Logo
descartei todas as possibilidades “lógicas”: não eram fagulhas de fio elétrico
encostado em folhas, porque elas caem, são avermelhadas, pequenas, efêmeras e
não são redondas; não podiam ser folhas, flores ou brotos fosforescentes,
porque estes são de baixa luminosidade e também não têm forma arredondada
definida, e por estas mesmas razões não poderiam ser fogos-fátuos, que, além do
mais, oscilam ao sabor do vento.
Achei prudente prosseguir em
direção a Parnaíba. Chegando ao povoado Olho d'Água, resolvi parar em um boteco
que havia na beira da estrada, que achei simpático por imitar um carroção
antigo, todo de madeira. Tomamos umas três doses de pinga, pagamos algumas para
umas pessoas presentes, e contamos o caso. Dissemos a que distância ocorrera.
Os nativos nos informaram que no
local indicado aconteciam alguns fatos misteriosos, e que ali já apareceram
alguns animais mortos, inclusive jumentos, como se tivessem sido sugados ou
drenados; não apresentavam uma gota de sangue. Com efeito, o imaginário popular
fala em certos “chupa-cabras”, uma espécie de vampiros vindos do espaço
sideral.
Não conversei mais sobre este
assunto com o Reginaldo. Parecia termos feito um pacto de silêncio. Contudo,
uma única vez, muitos anos depois, puxamos esse caso. A lembrança que eu tinha
era a mesma que ele conservava, o que parece dar credibilidade à história, que
asseguro ser verídica. Não tenho explicação para o acontecido, mas os mistérios
são mesmo sem explicação. Caso contrário, não seriam mistérios.
22 de abril de 2010
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Amor proibido
Fonte: Google |
Amor proibido
(Àqueles belos olhos verdes)
Sousa Filho
Sei que nunca vais me amar
Amo--te em segredo, sim.
Às vezes, me sinto como se eu...
... fosse o próprio "José
Matias".
És um pássaro preso numa gaiola,
És feliz, assim...
Sou pássaro livre...
... preso a esse amor
platônico...
... por ti.
Sequer imaginas que nutro
Esse sentimento por ti.
Amo-te em silêncio
Se existe o pecado...
... peco diuturnamente por te
amar
Peço diuturnamente uma chance ...
... para te amar.
Teus olhos seduziram-me
Estou enfeitiçado pela beleza
deles
És um pássaro preso numa
gaiola...
... sou pássaro livre.
Vem voar comigo!
domingo, 9 de outubro de 2022
Seleta Piauiense - Cineas Santos
sábado, 8 de outubro de 2022
VIDAL FREITAS - A TOGA E A CÁTEDRA
Fonte: Google |
VIDAL FREITAS - A TOGA E A
CÁTEDRA
Elmar Carvalho
Nesta quarta-feira, conheci a
Dra. Myrtes Freitas, irmã de meu colega e amigo Vidal Freitas Filho,
corregedora da Defensoria Pública do Estado do Piauí, que fora inspecionar o
polo sediado na Comarca de Regeneração, cujo titular é o defensor público
Ivanovick Pinheiro, que também exerce o magistério superior, com muita
proficiência. É uma pessoa simpática, de agradável conversação e interessada em
assuntos culturais.
Instigada por mim, falou-me de
seu pai, o honrado e saudoso magistrado Vidal Freitas. Colho no livro Sua
Excelência o Egrégio, da autoria do professor A. Tito Filho, a informação de
que ele nasceu em Oeiras em 1901, e de que fundou e orientou jornais, em que
escrevia sobre diversos assuntos. Foi professor de português, latim, inglês e
história. Fundador e diretor de colégios. Bacharelou-se na Faculdade de Direito
do Recife. Exerceu a magistratura em diversas cidades do estado.
Segundo a referida fonte,
dominava o francês, o inglês, o alemão, o italiano e o espanhol, além de
conhecer profundamente o latim. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico
Piauiense e à Academia Piauiense de Letras. Em 1971, aposentou-se como
desembargador. Perguntei à Dra. Myrtes se era verdade certo caso interessante e
um tanto anedótico de que ele fora protagonista. Contou-me o episódio. O
desembargador Vidal era um homem sério e honrado, e bom e justo.
Quando era professor da velha
Faculdade de Direito, havia um aluno que trabalhava na então toda poderosa Casa
Inglesa, que era rígida com relação ao cumprimento de horário. Por isso, esse
aluno, forçosamente, chegava quase sempre um pouco atrasado às aulas. O diretor
da faculdade, por alguma razão que desconheço, passou a fiscalizar a frequência
dos discípulos. E certo dia foi inspecionar a frequência dos alunos do
desembargador.
Disse haver notado que na lista
de presença não constava a falta desse aluno, que ainda não chegara. Vidal
Freitas respondeu que ele viria, que já estava chegando. De fato, naquele
instante o aluno entrou na sala, e a sua presença ficou mantida. Esse aluno
galgou importante cargo público e conservou pelo mestre Vidal uma amizade e
gratidão, que perdurou até depois de sua morte.
Sua gratidão era tanta, que um
dia comentou para familiares de Vidal Freitas, quando ele já havia falecido,
mesmo sabendo que ele fora batista praticante, assim como sua família, de que
havia sonhado com o velho professor, e de que este lhe pedira a celebração de
uma missa.
A família, claro, sabia que as
suas convicções religiosas jamais lhe permitiriam fazer esse tipo de
solicitação, mas entendeu que a realização desse culto católico era uma maneira
de esse homem demonstrar a sua mais profunda gratidão pelo desembargador Vidal
Freitas, por quem nutria nobres e perenes sentimentos de reconhecimento e
amizade pelos benefícios recebidos. E a
missa foi celebrada, com a presença da Dra. Myrtes Freitas.
18 de abril de 2010