quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O BLOG DE ELMAR


Cunha e Silva Filho

Caro Elmar


Seu blog, O Poeta Elmar Carvalho” está caprichado. Nos move à leitura.
Li o pequeno texto “Álcool e Sangue”. À primeira vista, sapequei-lhe uma classificação: é um mini-conto. Explico as razões. O texto possui aqueles elementos básicos de uma narrativa: personagens, espaço, uma mini-trama, tema, além de narração e descrição.
O tema, se quisermos assim defini-lo, seria o da insensatez humana, aqui tipificada no vicio e nos seus males decorrentes. O motivo da desavença através do qual o narrador faz avançar sua história, é fútil: a reclamação da mulher pelo excesso de bebida alcoólica do marido. Apenas um gesto de prudência da mulher. O que para ela era cuidados com o marido, torna-se para este um ato de injúria e de indevida intromissão. Daí, a fúria dele injustificável e covarde. Não fora o irmão dele mais forte e quase um gigante, certamente teria havido uma tragédia em família.
Os personagens não apresentam nomes. Inclusive, o personagem-visita também não tem nome explícito.
O tempo da narrativa somente se indicia através da expressão “No momento”. Nada mais. Por conseguinte, a rigor, só existe o tempo do enunciado, que é, na cena descrita, de duração restrita, matematicamente indefinido.
O narrador se põe de fora como se visse tudo por uma câmera de filmagem, narrador heterodiegético, segundo a classificação narratológica de G. Genette. Na realidade, rigorosamente,só há o tempo da escrita, que comporta um único parágrafo no qual a cena transcorre.
Há outros aspectos dignos de observação e análise: o da linguagem e um outro associado à verossimilhança ficcional.
A linguagem é concisa, com sabor clássico. Haja vista, o emprego do infinito preposicionado, muito frequente na sintaxe lusa, e equivalente ao gerúndio no português do Brasil.
Quanto à verossimilhança, cumpre atentar para alguns detalhes da estrutura interna da micro-história. Vejamos: o “coquetel” preparado pelo marido da infeliz esposa leva ingredientes marinhos misturados com “aguardente”. Ora, aguardente ´é pertinente a um coquetel, mas os demais “ingredientes, não: “búzios”, “ostras”, “hipocampo’, “estrelas do mar". Essa mistura instaura uma atmosfera surreal, não-pertinente ao conceito corrente de um coquetel caseiro.
A minúscula narrativa se desloca, assim, da normalidade da ordem natural das coisas e assume essa dimensão de estranhamento, quer dizer, de provocar a sensibilidade do leitor, de desviá-lo de hábitos de leituras automáticas e superficiais. Esse fenômeno faz parte da construção poética da modernidade. A propósito, o próprio narrador menciona o vocábulo “estranho” ao referir ao coquetel utilizando-se de um oxímoro no sintagma “estranho e belo coquetel". Antes, já havia se utilizado de uma comparação, lembrando que o copo de coquetel semelhava um “aquário”, ou seja, este termo intensifica o campo semântico em torno do coquetel. Estamos em plena alusão ao espaço marinho, ao espaço das coisas líquidas no mini-texto, entrelaçadas e acrescidas de um outro componente líquido: o sangue. Este é da ordem dos seres animados, do homem, da vida.
Álcool e sangue metaforizam o sentido geral do micro-texto: aquele como índice que aponta para a possibilidade de uma tragédia, o segundo a um tempo que prefigura a vida, também serve como indicador da possibilidade de morte. No mini-texto, da morte pela arma branca.
Há que levar em conta ainda um outro fator de reforço estético-semântico deste curtíssimo texto, algumas expressões de natureza hiperbólica que reiteram o exagero da pintura da cena, dos traços dos personagens, os dois irmãos, simbolizando ambos o poder da força, da brutalidade que, no marido, age para o mal e o trágico-cômico e, no irmão que salva a cunhada, age para a prática do bem.
O cenário do mini-conto tem inegáveis características naturalistas. O texto, porém, se vivifica com o sopro da modernidade na medida em que se contamina de referências surreais.

3 comentários:

  1. Este texto foi comentado pelo escritor e crítico literário Cunha e Silva Filho, professor e doutor em Literatura Brasileira. Entretanto, a direção do blog achou de melhor alvitre publicar o comentário na própria página.

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  2. Também concordo com o escritor e crítico Cunha e Silva Filho, é um mini-conto, uma tragédia familiar por um motivo pequeno!

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  3. AMARANTINO PROCURANDO MULHER PARA CASAMENTO
    João Camilo da Rocha, o popular Jobe, amarantino nato, residente no Morro da Cruz, próximo ao ponto de fofocas “Esquina Meio Norte” – Centro de Amarante – Piauí, vem usando vários meios de comunicações para ajudá-lo encontrar uma mulher para conviver amorosamente com ele por toda sua vida. Jobe nasceu no dia 18 de novembro de 1948, no lugar Vereda, a 35 km da cidade de Amarante, onde foi proprietário rural. Atualmente encontra-se aposentado pelo INSS. Vale esclarecer que o ansioso amarantino casou-se com Cristina Mendes, separados há longos anos (divorciados em 2010). Da união quatro talentosos filhos: Cristiane, Josean, Josué e Joseilson (maiores de idade). Depois de sua separação conjugal, Jobe passou um ano (2005) morando com Teresa Barreto, falecida recentemente. Não tiveram filho. Ele diz que há mais de cinco anos anda desesperadamente a procura de uma mulher que possa lhe fazer feliz. Jobe teve várias pretendentes, mas nenhuma de seu agrado. Ele tem preferência por candidata de cor morena e bonita, na faixa de 25 a 40 anos de idade. “Vivo sozinho! Eu não agüento mais viver na solidão! Preciso morar brevemente com uma grande mulher até o final de minha vida. Sou farto, compreensivo, carinhoso e ainda com vigor sexual para muitos anos. Venha me conhecer e provar o meu grande amo!”. Assinala Jobe. Ele estar tão otimista de encontrar seu grande amor que já convidou seu amigo confidencial de Amarante, professor Antonio dos Passos, para ser padrinho do desejado casamento. Contatos: (XX 86) 94 994717.

    Obs: Elmar poste este pedido de um homem que ainda acredita na felicidade. Obrigado, Bebeto Soares, de Amarante.

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