domingo, 21 de março de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Casarões da Praça Bona Primo, em Campo Maior, terra natal do teatrólogo Francisco Pereira da Silva
As serras azuis, que o poeta Da Costa e Silva contemplava de sua bela e bucólica Amarante

Reunião ordinária da APL

21 de março

A BARRAGEM DE CASTELHANO E A BELA AMARANTE

Foi muito concorrida e participativa a reunião da APL, de ontem. O acadêmico Paulo Nunes levantou grave questão. Disse que há fortes suspeitas de que a barragem de Castelhano, a ser construída a jusante da cidade de Palmeirais, poderá inundar parte dessa cidade e das cidades de Amarante e São Francisco – MA, e que isso poderia trazer graves consequências ao patrimônio arquitetônico da terra de Da Costa e Silva, que é um dos mais ricos do Piauí. Na sua opinião, a terra dacostiana é uma das mais bonitas cidades do mundo. Entre outras edificações, seriam atingidas a Casa de Odilon Nunes e a Casa dos Azulejos. A primeira, além do seu valor histórico e arquitetônico, abriga o Museu Odilon Nunes, cujo patrono foi um dos maiores historiadores do Piauí. A segunda, de beleza ímpar, situada na Avenida Desembargador Amaral, tem a sua fachada externa toda revestida de azulejos importados da Europa, salvo engano de Portugal. Propôs que a Academia realizasse uma audiência pública. Evidentemente, o assunto foi debatido e, por fim, aprovado por unanimidade. O acadêmico Manfredi Cerqueira, com a sua conhecida verve, lembrou o temor que causou a construção da barragem do rio Piracuruca, e disse que esses tipos de obras sempre “algo dão”, e lembrou o recente episódio da barragem de Algodões, que até hoje traumatiza a população ribeirinha dos municípios de Cocal e Buriti dos Lopes. O acadêmico Jônathas Nunes explicou que barragem pode trazer problema tanto a montante, com as possíveis inundações, como a jusante, com o fantasma do rompimento da parede, que pode ocasionar catástrofe, como a lembrada tragédia de Algodões. Aduziu que a construção de Central Nuclear poderia ser uma alternativa, mas o acadêmico Nelson Nery não achou esta uma boa opção, por causa de possível vazamento radioativo. A confreira Fides Angélica lembrou outras matrizes energéticas, como a eólica e a solar. O professor Jônathas informou que, com relação à eólica, os ventos somente são suficientemente fortes no litoral e em região do município de Paulistana, e que, quanto à solar, o espaço deverá ser muito grande para uma produção muito pequena de energia. De qualquer sorte, ficou decidido que a Academia Piauiense de Letras promoverá um grande debate em torno do assunto, sobretudo por causa da possibilidade de inundação de parte da antiga e velha arquitetura da bucólica e bela Amarante.

O MEMORIAL DE CHICO PEREIRA

Nessa sessão, exibindo um impresso extraído do Blog do Zan, disse que não desejava explanar nenhum assunto, mas apenas fazer uma pergunta, dirigida ao presidente da APL, Reginaldo Miranda, e ao presidente do Conselho Estadual de Cultura, professor Paulo Nunes. Inicialmente, li o seguinte trecho, extraído do aludido blog: “Sábado passado, na residência do deputado Paulo Martins, conversamos eu [Zeferino Alves Neto, o Zan], o médico Domingos José e o gerente do BnB, Gilberto Alves, com a presidente da Fundação Cultural, Sônia Terra, sobre o andamento da concretização da instalação do Memorial [Francisco Pereira da Silva] em Campo Maior, criado pela lei 5.445, de 25 de maio de 2005. Sônia Terra disse que isso está no momento, na dependência das entidades que indicariam os membros que comporiam o Conselho Administrativo. Até o momento, apenas três entidades indicaram seus representantes”. Isto posto, perguntei ao presidente da APL e ao do Conselho de Cultura se haviam recebido pedido de indicação de representante, tendo ambos respondido que não tinham conhecimento de tal solicitação. O ex-presidente da APL, que passou quatro anos no cargo, também disse não se recordar de tal pedido. Ficou assentado que pedido dessa natureza não tem nenhuma dificuldade em ser deferido. Algumas observações desejo fazer. A lei já está com cinco anos, e nenhuma providência concreta foi tomada. Mesmo que a solicitação tivesse sido feita, poderia ter sido renovada, e acredito que o Conselho de Cultura e a Academia não iriam ter nenhuma dificuldade em indicar um representante, pois isso não demanda nem tempo, nem dinheiro e nem esforço. Além do mais, salvo melhor juízo, a obra poderia ser tocada sem a necessidade de criação desse Conselho, que segundo a referida lei, tem caráter deliberativo e consultivo, e, por isso mesmo, só seria efetivamente necessário após a criação do Memorial, uma vez que foi previsto para administrá-lo, e não para construí-lo. Obras muito maiores e mais caras o governo faz sem precisar de conselho nenhum, mas tão somente de sua vontade política e de recurso financeiro. Mas, se a dificuldade é mesmo essa, que se crie logo esse bendito conselho, sem mais delongas. De qualquer sorte, existe um ditado que diz que, quando se quer emperrar alguma coisa, basta que se criem comitês, ou conselhos, o que dá no mesmo.

6 comentários:

  1. A nossa intenção, meu caro Elmar, é fazer com que as coisas aconteçam sem grandes traumas. Esta semana iremos procurar na Fundac, saber quando estas solicitações teriam sido feitas e, se for o caso, que sejam feitas, se não tiverem sido. Feitas essas indicações cobraremos da Fundac, o que têm sido segundo a presidente Sônia Terra, o impeditivo para a construção do Memorial, que as providências necessárias sejam tomadas.

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  2. Estimado Elmar,
    Sou muito grato a você pela oportunidade que me proporciona em apreciar tão rico acervo na internet. Saiba que seu blog é o que de melhor apareceu por estas bandas de tantas coisas escritas (muitíssimo mal escritas, diga-se de passagem). Sempre que surge material como este, de sua lavra, devemos agradecer.
    Um grande e fraternal abraço do seu amigo e admirador,

    TONI RODRIGUES
    tonirodrigues39@hotmail.com

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  3. Não deixem esta chama se apagar, Campo Maior precisa conhecer a importância deste homem.

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  4. Amigo Toni Rodrigues,
    sem querer entrar numa troca de confetes, até porque o carnaval já passou, mas devo lhe dizer que a recíproca é verdadeira e na mesma intensidade; tenho-lhe grande admiração e apreço.

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  5. Fiz esta travessia rumo a São Francisco diversas vezes, lembro bem da primeira, carro novo, o rio bem cheio, a balsa se aproximando e no alto da embarcação o temido nome: Titanic.Olhei para o barqueiro, respirei fundo e entrei,numa prece pedi socorro e no caminho de repente eu relaxei ao olhar esta serra tão linda,meu coração se rendeu.

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  6. Ah, que bendita endemia, esta da internet! Fico imaginando quantas boas ideias e propostas se perderam no tempo, quando a opinião pública era refém de uma imprensa cujas pautas eram impostas pelos donos dos microfones e das Linotypos. Projeto com cinco anos de idade já está pronto pra ir para o Arquivo Público, ser objeto de pesquisas de gerações futuras.

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