Pádua Santos
Carlos Drummond de Andrade, em sua última entrevista, declarou que nenhum poema seu tornou-se popular. No entanto, a expressão “E agora, José?”, como sabemos, passou a ser do domínio público. Isto aconteceu porque, quando as palavras penetram no sentimento comum, o povo as adota como se suas fossem. E tem mais: tal expressão, que é parte do seu poema José, tornou-se popular e conhecida no país inteiro a partir do momento em que a poesia foi musicada, na década de 70, pelo cantor e compositor pernambucano Paulo Diniz.
Hoje, quando perdemos um grande José, cidadão também popular porque bastante conhecido em quase todo o Norte do Piauí, é de se aproveitar o gancho do poeta itabirense para fazer algumas perguntas que sem dúvida encontram-se recolhidas nas gargantas daqueles que choram com sua despedida:
E agora, José? Para onde seguirão teus amigos, aqueles que à moda “Raimundo Lucas” e “Zé Baleco” sempre te esperavam para que num final de tarde, olhando o sereno vôo da asa branca, pudessem te contar pitorescas aventuras que tanto gostavas de ouvir e transmitir?
E agora, José? Para onde irão os políticos, aqueles homens atormentados pelas constantes súplicas dos seus eleitores? Aqueles que muitas vezes procuravam o teu convívio bom e honesto para desanuviar o espírito prenhe de súplicas impossíveis?
E agora, José? Quem receberá o grande bando de marrecas viúvas (veja a foto acima) - aquelas que trazem na cabeça o mesmo branco dos teus cabelos? Aquelas que, sagazes e barulhentas, enfrentam os dias e as noites de perigosos vôos, em busca da Mangabeira como lugar seguro para o merecido repouso depois de tanto viajar?
E agora, José Maria? Quem receberá o pequeno, mas ainda existente bando elegante das marrecas verdadeiras? Aquelas de corpos bronzeados, de bicos e pernas vermelhas; esbeltas e de requebro safado, sereno e disfarçado, como que imitando as dengosas morenas que amastes nos saudosos tempos de saúde e boemia?
E agora, José Maria Borges, ciente de que cada vez que eu percorra aquelas várzeas inundáveis, cheias de inscrições rupestres e de outros segredos, aquelas paragens que tantas vezes percorremos juntos, haverei de lutar para também não inundar os meus olhos em lágrimas ao imaginar que o teu espírito continuará ali, a vagar, à toa, por aquelas ribeiras; vigiando os bichos e reparando as coisas. E então, consternado, concientizo-me de que devo finalizar esta breve e fúnebre crônica lembrando outro grande nome da literatura brasileira. Não um José, mas um João - João Guimarães Rosa, por coincidência também mineiro como o poeta aqui citado, aquele que um dia disse, meu saudoso primo: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”.
Pádua Santos, 30-03-2010
Carlos Drummond de Andrade, em sua última entrevista, declarou que nenhum poema seu tornou-se popular. No entanto, a expressão “E agora, José?”, como sabemos, passou a ser do domínio público. Isto aconteceu porque, quando as palavras penetram no sentimento comum, o povo as adota como se suas fossem. E tem mais: tal expressão, que é parte do seu poema José, tornou-se popular e conhecida no país inteiro a partir do momento em que a poesia foi musicada, na década de 70, pelo cantor e compositor pernambucano Paulo Diniz.
Hoje, quando perdemos um grande José, cidadão também popular porque bastante conhecido em quase todo o Norte do Piauí, é de se aproveitar o gancho do poeta itabirense para fazer algumas perguntas que sem dúvida encontram-se recolhidas nas gargantas daqueles que choram com sua despedida:
E agora, José? Para onde seguirão teus amigos, aqueles que à moda “Raimundo Lucas” e “Zé Baleco” sempre te esperavam para que num final de tarde, olhando o sereno vôo da asa branca, pudessem te contar pitorescas aventuras que tanto gostavas de ouvir e transmitir?
E agora, José? Para onde irão os políticos, aqueles homens atormentados pelas constantes súplicas dos seus eleitores? Aqueles que muitas vezes procuravam o teu convívio bom e honesto para desanuviar o espírito prenhe de súplicas impossíveis?
E agora, José? Quem receberá o grande bando de marrecas viúvas (veja a foto acima) - aquelas que trazem na cabeça o mesmo branco dos teus cabelos? Aquelas que, sagazes e barulhentas, enfrentam os dias e as noites de perigosos vôos, em busca da Mangabeira como lugar seguro para o merecido repouso depois de tanto viajar?
E agora, José Maria? Quem receberá o pequeno, mas ainda existente bando elegante das marrecas verdadeiras? Aquelas de corpos bronzeados, de bicos e pernas vermelhas; esbeltas e de requebro safado, sereno e disfarçado, como que imitando as dengosas morenas que amastes nos saudosos tempos de saúde e boemia?
E agora, José Maria Borges, ciente de que cada vez que eu percorra aquelas várzeas inundáveis, cheias de inscrições rupestres e de outros segredos, aquelas paragens que tantas vezes percorremos juntos, haverei de lutar para também não inundar os meus olhos em lágrimas ao imaginar que o teu espírito continuará ali, a vagar, à toa, por aquelas ribeiras; vigiando os bichos e reparando as coisas. E então, consternado, concientizo-me de que devo finalizar esta breve e fúnebre crônica lembrando outro grande nome da literatura brasileira. Não um José, mas um João - João Guimarães Rosa, por coincidência também mineiro como o poeta aqui citado, aquele que um dia disse, meu saudoso primo: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”.
Pádua Santos, 30-03-2010
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