sexta-feira, 14 de maio de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Elmar Carvalho


14 de maio

OS BONS COMBATES DE LADISLAU

Quando eu caminhava pelas calçadas da Frei Serafim, perto do HGV, deparei-me com o padre Ladislau João da Silva, meu conhecido há várias décadas. Assisti à sua ordenação, na vetusta catedral de N. S. das Graças. Foi ainda no tempo de Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório, que foi professor do Colégio Diocesano, em Teresina, no tempo em que meu pai ali estudou, nos idos de 1940. Dom Paulo, com a sua mitra e seu báculo, dirigiu a ordenação. Lembro-me do momento em que padre Ladislau se prostrou e se estendeu no solo, como ordena o ritual católico. Pouco depois, no final de 1979 ou em 1980, foi ser o vigário de Esperantina, onde desenvolveu um grande trabalho de cunho social, de conscientização política e de estímulo à cidadania, o que terminou desagradando os poderosos e políticos conservadores do lugar. Talvez nos últimos meses do primeiro semestre de 1981, o referido sacerdote foi espancado por um latifundiário de Esperantina (ou por pessoa a mando deste). O proprietário se sentia, pelo visto, incomodado com as pregações e com as campanhas de conscientização política do padre, que inclusive organizara, por ocasião das comemorações do 7 de Setembro, uma passeata com trabalhadores a carregar seus instrumentos de trabalho, como foices, enxadas, machados, etc. Suponho que o latifundiário e outros graúdos de Esperantina se sentiram irracionalmente ameaçados, daí por que o vigário sofreu a agressão física, fato que obteve alguma repercussão na mídia estadual, embora não tanto como merecia. Por essa razão, embora o Jornal Inovação não dispusesse de estrutura, eu e o Reginaldo Costa resolvemos ir a Esperantina, bem distante de Parnaíba, para entrevistá-lo. No auge de nossa juventude e de nossa saudável boêmia e “irresponsabilidade”, seguimos pela manhã, em minha motocicleta, parando em quase todos os botecos de beira de estrada para tomarmos uma “calibrina” e batermos um papo. Chegando à cidade de Batalha, já nas proximidades de nosso destino, nos demoramos um pouco, em um bar, e entramos numa inconseqüente discussão sobre quem era maior: se Chico Buarque ou se Ivan Lins. Eu defendia o primeiro, ele, o segundo. Alguns anos atrás, o Reginaldo terminou me confessando haver revisto a sua opinião musical. Fizemos uma longa e bela entrevista, publicada com todo destaque na edição de nº 37, junho/julho de 1981, do Inovação, inclusive como Suplemento Especial, com direito a capa ilustrada e tudo mais. A viagem em si e a conversa com o entrevistado me renderam o poema “7 de Setembro”, que lhe dediquei; foi publicado na mesma edição da entrevista. Muitos anos depois, aproximadamente na virada do milênio, encontrei esse sacerdote como superintendente do INCRA no Piauí, quando estive nessa repartição para fazer uma consulta sobre questão fundiária. Hoje, padre Ladislau é o coordenador institucional do Programa Brasil Alfabetizado e EJA-PI.

Um comentário:

  1. Boas recordações né meu caro Elmar, esse homem é um guerreiro sem dúvidas nenhuma, quanto ao embate músical, eu sou Chico Buarque incontesti.
    Gostei do seu blog e voltarei mais vezes. Já sou teu seguidor. Abraços! Me visite, eu gostaria de ler um comentário seu em um texto meu. Até mais...

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