domingo, 1 de agosto de 2010

DECÁLOGO

Escritores Herculano Moraes, Virgílio Queiroz e Francisco da Cunha e Silva Filho

CUNHA E SILVA FILHO

Estas mesmas dez perguntas serão formuladas a diferentes escritores e publicadas com as respectivas respostas em vários sites e blogs da grande rede. Esclareço que nada pretendo demonstrar ou provar com este questionário.

1 – Como e quando foi o seu início como leitor de literatura?

Tentarei alcançar o fio da memória que me leve com certa precisão aos onze anos de idade, tempo em que era aluno do “Domício,” nome carinhoso pelo qual chamávamos, em Teresina, o Ginásio “Des. Antônio Costa”. Isso era nos idos de 1954 para 55 do século passado. Não se pense que eu seja tão velho, sou de dezembro de 1945. Mas, é que o século 20 (à maneira de Antonio Candido) só terminou há dez anos, o que nos faz ainda muito ligados a ele, não é? Presumo que o meu contato inicial com o exercício da escrita se deu justamente com o Prof. Domício Melo Magalhães, pessoa encantadora, bonachão, contador de piadas. Era ele quem cuidava da parte de português no curso de Exame de Admissão ao ginásio. Me recordo que costumava pendurar, no quadro-negro (era negro mesmo naquele tempo, hoje é verde, tudo muda!) uma gravura de papel grosso e liso, que desenrolava de um canudo onde havia várias situações contextualizando temas para descrições. Não me lembro que incluísse o gênero narrativo. Isso, contudo, foi o primeiro ponto de referência que me chamava a atenção para a visualidade dos objetos, pessoas, plantas, animais, cores, dimensões, formas e movimentos “congelados” como nas fotografias e na pintura clássica, afora pormenores, perspectivas e, sobretudo, o aspecto pictórico das paisagens e das situações humanas que se mostravam ao olhar do aluno.
Quanto ao meu início como leitor, acredito que vou localizá-lo já como aluno da primeira série ginasial, período em que tomo contato com os livros didáticos de José Cretella Júnior, de Enéas Martins de Barros. Devo imensamente aos livros didáticos, com seus textos antológicos que me ensinaram sobre a vida e os homens, sobre o que entendo por sensibilidade poética. Os livros didáticos foram o meu grande passo em direção às obras literárias. Infelizmente, como outras crianças, não fui iniciado na chamada literatura infantil de Monteiro Lobato, pois no acervo só havia uma obra dele, Urupês. Sinto inveja de quem leu Lobato ainda criança Na biblioteca de meu pai só havia o Lobato para adultos, . Não tenho dúvida de que neles me despertei para o luminoso e mágico universo literário, tanto na poesia quanto na ficção. Um professor de português que tive no Domício nos pedia que memorizássemos poemas. A mim coube um soneto de Bilac, “A pátria,” que não mais sei de memória.

2 – Como e quando começou a sua atividade literária?

É preciso fazer aqui uma distinção. Confesso, sem falsa modéstia, que primeiro me senti pronto a escrever pra mim mesmo. Quando morava na casa da Rua Arlindo Nogueira, zona sul, esquina com a Rua São Pedro, bem pertinho onde morava o meu coetâneo Herculano Moraes, iniciei os meus primeiros passos na arte da escrita. Comprei um caderno de algumas páginas, não muitas, e fiz um planejamento de temas para desenvolver como exercício de redação: a pátria, o estudante, o amor, a paz, a vida, os livros, os estudos, a felicidade e assim por diante . Não é que me desincumbi deles todos. Só tinha um leitor: eu mesmo. Nem mostrei a ninguém. Tampouco sei do destino do caderno.
No entanto, a minha atividade literária impressa, pública, se deu em jornais, conduzido que fui pela mão de me pai, jornalista político de muito talento e homem profundamente amante da literatura. Assim, minha “estréia” se deu com a publicação em jornal com um artigo sobre o Dia do Estudante. Foi grande a minha alegria em vê-lo estampado em jornal. Meu pai gostou do artigo e me corrigiu apenas dois erros de gramática, erros, aliás, não muito sérios. Daí em diante – eu estava com apenas uns quinze ou dezesseis anos – escrevi mais alguns artigos, uns contos(?) depois, umas duas ou três traduções do inglês e francês. Só me lembro de que posteriormente, já no científico, a maior parte dos meus artigos versavam sobre literatura brasileira. Naturalmente eram “exercícios ” ou tentativas de fazer “apreciações” sobre movimentos literários, sobre autores e livros. Outras tentativas de fazer ficção. Porém, gostava mesmo era desses artigos sobre livros e temas literários. Acho que aí nasceu o meu interesse sério pela atividade crítica. Papai , de vez em quão, me informava que colegas dele, intelectuais de peso, gostavam de meus artigos, com A. Tito Filho, Darcy Fontenele, Simplício Mendes, mais tarde, Wilson Brandão. Isso só me reforçou o desejo de continuar escrevendo.

3 – Teve influências literárias? Se teve, quais foram essas influências?

Li autores diversos, brasileiros, portugueses e estrangeiros em traduções. Aliás, li tudo que me chamava atenção. Até gibis, fotonovelas, a revista O Cruzeiro. Não lia muito jornal na íntegra. Lia só o que me interessava. Ao mesmo tempo, me preparava , praticamente sozinho, a golpes de dicionários (como diria José de Alencar) e manuais da biblioteca de papai em línguas, francês, inglês e espanhol, um pouco de latim. Queria me preparar pra a atividade de crítica literária. Sentia que o meu caminho e onde m e achava mais confortável intelectualmente. Papai me incentiva. Sempre ate a morte, em 1990.
Acredito que tudo que li, principalmente de autores brasileiros, desde Rui Barbosa, José de Alencar, Humberto de Campos, Coelho Neto, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Machado de Assis e tantos e tantos outros autores, mais em ficção do que em poesia, pois me aproximei da leitura , de forma cerrada, só mais tarde, na universidade.
Só sei que sempre me preparei para a atividade crítica e ensaística. E nunca parei. E, por falar em crítica, acredito que a leitura dos grandes críticos brasileiros, do passado e do presente, Ronald de Carvalho, José Veríssimo, Sílvio Romero, Afrânio Peixoto, Agripino Grieco, Álvaro Lins, Afrânio Coutinho, José Maria Bello, Brito Broca, Tristão de Athayde, e, depois, Antonio Candido, Fábio Lucas, Robert Schwarz, Eduardo Portella, Olívio Montenegro, Temístocles Linhares, Davi Arrigucci, sem falar nos estrangeiros, como os formalistas russos, nos críticos do “New criticism”, e de outras correntes contemporâneas . Um parêntese: esta lista de críticos sai assim de improviso. . .

4 – Qual o fato mais marcante de sua carreira literária?

Foi quando, em 1966, lancei meu primeiro livro, Da Costa e Silva: uma leitura da saudade, na Academia Piauiense de Letras..

5 – Como conseguiu editar seus livros?

Não temo como negar: foi graças ao apoio que recebi do Embaixador Alberto da Costa e Silva que, com a colaboração de alguns membros da APL, conseguiram editar meu ensaio num convênio de APL com a UFPI.

6 – Qual o principal livro e qual o principal texto (conto, crônica, poema, ensaio etc.) de sua autoria?

É uma pergunta inteligente mas difícil de ser respondida por um autor. Eu tenho um carinho geral por tudo que escrevo, já que o faço pensando em contribuir de alguma forma para este fluir da história literária. Penso ainda que escrevo em defesa do Homem e da Natureza. Por isso, me exponho, não me importando com repercussão que tenha, positiva ou negativamente. Não tenho medo das minhas limitações no campo das letras. De uma coisa esteja certo, escrever já faz parte da minha vida, da minha índole, da minhas constituição psicológica e principalmente do meu intelecto. O resto é silêncio, conforme diz belamente aquele livro de Érico Veríssimo.


7 – Os órgãos oficiais de cultura do Piauí tem cumprido sua finalidade, no tocante à literatura? Comente.

Em parte, sim. Devo, entretanto, dizer que há muitas falhas no que respeita a eleições de obras que são publicadas, aí mesmo no Piauí. Persistem certas igrejinhas camufladas, e isso me desagrada profundamente.

8 – Em relação ao Brasil, que diria da Literatura Piauiense?

Em meus artigos e ensaios, tenho provado que literatura que se faz atualmente no Piauí merece aplausos. Há um florescimento de muitos autores, nos diversos gêneros jovens e brilhantes, que não voou citar porque não quero cometer o erro crasso das omissões dos etcs. de Raquel de Queiroz.. Também me cabe declarar que ainda não se fez um amplo estudo crítico ou historiográfico que faça justiça não só aos bons autores do passado quanto aos da contemporaneidade. A historiografia piauiense é escassa em número de cultores. Faço votos que essa realidade mude em médio prazo, de vez que o tempo urge e a vida é breve e os autores, conquanto jovens, também são mortais.

9 – Que importância atribui à internet na divulgação literária?

A Internet veio pra ficar. Tem defeitos, é claro. Sabendo usá-la pro bem, é um instrumento valiosíssimo dos tempos atuais Foi , depois, da Imprensa, a maior revelação dos meios de comunicação. Graças à Internet, todos ficaram mais conhecidos e divulgados. É um auxiliar ímpar do escritor e do pesquisador. Louvemos esse prodígio da pós-modernidade.

10 – Como e por que se fez literato?

Me perdoe, mas não gosto muito do termo” literato” Me parece algo antigo. Prefiro, à falta de melhor termo, simplesmente a designação de “escritor”.
Suponho que me tornei escritor, ou melhor, crítico, ensaísta ou cronista, por gosto, por prazer, por inclinação, componentes que muito foram estimulados pelo ambiente lá na casa de meus pais, junto de meus irmãos, alguns do quais também muito chegados à área das letras, do amor aos livros, à cultura, ao conhecimento das áreas humanas, da vida artística. Respirava-se livro por toda a parte e com constância. Tenho um irmão que é um escultor de muito talento, o Winston. A minha irmã Sônia foi muito ligada, tempos atrás, ao cinema. O meu irmão Evandro , à poesia e ficção, o meu irmão Emílio, já falecido, à pintura e poesia. Meu pai ele próprio, fez poesia e, bissextamente, ficção e apreciação crítica.. Pena é que meus irmãos não quiseram dar continuidade a essa tendência familiar para as letras, que vem do lado de meu pai. Da minha mãe, que tinha talento para o desenho, veio a herança plástica, o vigor pictórico, as mãos hábeis, inclusive para os bordados.

5 comentários:

  1. Cunha e Silva,eu também estudei no "Domício" em 1954/55. Acredito tenhamos sido colegas. É pena que a minha memória não tenha guardado o nome dos colegas de aula. Foi uma época de muita repressão da família em torno da minha amizade com a turma do sexo oposto. Eu também estou ligada à Literatura. Sou graduada em Letras, pela UFPI e já lancei três livros, romances (ficção). Abraços, Rita de Cássia.

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  2. Que agradávelsaber que possamos ter sido colegas e talvez da mesma turma. Bons tempos ! Pura inocência! Fico contente que tenha se tornado escritora e já publicado livros. Cordilmente,
    Francisco da Cunha ae Silva Filho

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  3. Sói afirmar que, como novel literato, ainda hei de percorrer caminhos... O caminho do risco é o sucesso, o caminho do acaso é a sorte!!! Mesmo assim, não abrirei mão de expor o que sinto, como decidir fazÊ-lo.. InfluÊncias tenho, senão soaria tão vago quanto um barco sem remos. Abraços. Poeta Raphael Barbosa, codinome Alejandro

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  4. http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdeamor/2418436

    LEIA , SE PUDER!!! GRATO

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  5. Me regozijo com a sua determinação de escolher seu caminho poético, assim como com a sua compreens~çao de que não caminhamos nunca sós. O artista une a sua subjetiivadade e a de outros com os quais se sentiu afindo. É da influências que vem a originalidade. Mas, o artista, sejas em qual gênero ou gêneros atue, tem a obrigação e o compromisso de procurar o seu próprio estilo, a sua difrenença, ainda que, na sua trajetória, vá criando novas formas de expressão poética. Desta maneira, a poesia avança e alarga o campo de sua atuação, cujo limite é a liberdade comunicativa original e sempre renovada.
    Cunha e Silva Filho

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