domingo, 12 de dezembro de 2010

TRÊS POEMAS DE WILTON PORTO


POEMAS DE WILTON PORTO

CUIDE-SE
Para meu filho Hélder Porto

Cuide-se
Antes que alguém lhe cuide.
Quem nos cuida
Nem sempre tem o cuidado de nos cuidar
Sem os cifrões que as levam
À ânsia de tanto acuidade.
Quem cuida é desprendido;
Dedilha o piano nas cordas do coração
E afoga os interesses dos cinco sentidos  
No Fogo do Espírito Santo.
Nosso papel é cuidar de quem nos cuida
Porém o cuidado com quem nos cuida
Não pode ser tão descuidado
Que o cuidador(a) que pensamos que nos cuida
Cuide mais do se cuidar
Que não vale a pena dele(a) cuidarmos.
Quem cuida precisa de ter olhos na fronte
Quem é cuidado, de olhos na nuca.
Assim há um recíproco cuidar-se
E nenhum nadará no mar das desilusões.
Encontrei no par
Que hoje me cuida
Um cuidado de tanto cuidar-me
Que mais do que ser cuidado
Sou desejado, sou mais que amado
É a mulher que por mim amada.

MOIÇOLA
De Wilton Porto p/Eliana Porto (esposa)

Num balde carcomido pelo tempo,
Encostado da casa, num canto,
Joguei os sacrifícios, o pranto,
E o que havia da vida em contratempo.

Enterrado está casório primeiro.
Cupido rodeia, me olha, namora.
A vida que é vida me enlaça agora.
Pressinto a flecha na mão do arqueiro.

Moiçola que olha embebida em desejo,
Arranca-me suspiros de noite e de dia.
Breve – eu sei – o abraço, o beijo,

A voz soando-me tal qual melodia.
Meu coração saltitando, o cônscio ensejo:
De ser o seu fulcro, o seu Sol, sua poesia.

O DESENCARNE DA CACHORRA PRISCILA

Passam os dias
Mas o dia não passa.
No repasse de cada dia
Sente-se que o dia que passou
Por mais que queira passar
A todo instante repassa
E no repassar de cada dia
Faz com que nunca ele passe.

Se o dia em que ela passou
Pudesse ter só passado
Em nós cada passo dado
Não teria essa máxima dor.

No entanto por mais que o tempo passe
Por mais que não queiramos repassar o passado
Mais presente é o passado
Em cada passo que é dado.

Se pudéssemos arrancar
O passado que mais presente
Talvez a dor que latente
Por ela estar ausente
Fosse um descontente contente
Pois dor já ela não sente.

Porém a todo momento
Pela casa ela presente
E por mais que a gente tente
Eliminar o sofrimento
Mais sofrimento se sente
Já que é no ausente
Que ela está presente.

Priscila era cachorra
Mais agia como gente.
Nuca vi entre os viventes
Alguém tão inteligente.
E se falarmos de amor
Aonde quer que a gente vá
Não se encontrará superior.

Por isso já de antemão
Aos críticos desavisados
Antes que usem da mão
Pra arremate zonzeado
Eu digo que os animais
No tocante ao Amor
Eles são insuperáveis.
Sem falar-se de outros valores
Como o da fidelidade.

Assim lágrimas sofrimento
Desmedido sentimento
Por uma simples cachorra.
É normal justificável
Para os que vivem do Amor.
O Sol brilha para todos
Para todos a chuva cai
Se o amor é parcial
Se facilmente se esvai
Acredite não é Amor
É fumaça ao léu
Que só o bobo atrai.

          Priscila desencarnou em 19/06/2010
                          Viveu nove anos.
  

Um comentário:

  1. Prezado vate,

    Tudo é arte, tudo é poesia
    Até da morte pode se extrair o belo
    Porto fez isso com maestria

    Se Priscila, gente fosse
    E viva estivesse
    Certamente aplaudiria

    Nelson Rios

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