sábado, 22 de janeiro de 2011

REGRESSANDO AO SEMINÁRIO

JOSÉ MARIA VASCONCELOS


Estou partindo para encontrão em Fortaleza e Quixadá, remoendo velha canção, “Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rollings Stones...” Nessa época, eu me encontrava internado no Seminário Capuchinho de Messejana, nas beiradas de Fortaleza. Tinha apenas 12 anos, quando meus pais me internaram. A moda eram internatos. Famílias orgulhavam-se de confinar filhos em seminários católicos ou escolas fechadas. Ou só pra homens, ou só pra mulheres. Hoje, festejam filhos atletas ou modelos bem pagos desfilando em passarelas e revistas famosas. Naquela época, buscava-se a formação ética; hoje, o faturamento da fama.
Em Fortaleza, encontrar-me-ei com antigos colegas de seminário, sem banquetes de sucessos corporais, mas de espíritos amadurecidos, cultos, a maioria empinada na política, judiciário e prestação de serviços profissionais. De Fortaleza, partiremos, de ônibus, a Quixadá, para dois dias de flash back e eventos.
Meu seminário perdeu quase todos os vocacionados ao sacerdócio. Não é fácil ser padre ou freira com antiquadas exigências do Vaticano. A diáspora, todavia, resultou em sionismo de importantes leigos na sociedade, e eu me envaideço de inserir-me no grupo. Quem enfrenta alguns anos de seminário ou formação militar dificilmente engendra por caminhos tortuosos de caráter na profissão e família.
No meu seminário, convivi com o cantor Belchior, inteligentíssimo, com quem passei um dia em sua residência. Frei Hermínio de Crateús, único padre da minha turma, psicólogo, vários diplomas em escolas europeias, professor de Teologia em Teresina, atualmente residindo em Roma, na tarefa de traduzir documentos, honra-me com frequentes emails. Juiz João Batista Rios, de Parnaíba, excelente colega até hoje. Médico e militar Antônio de Pádua, que reside em Teresina. Quem não se lembra do Saraiva, de Fortaleza, ex-gerente do Banorte de Teresina? Ex-empresário farmacêutico, Simeão, doçura de companheiro nos meios rotários de Teresina. Coronel Iran, chefe militar do Karnac, gestão do governador Alberto Silva. Ex-delegado Pedro Silva, que percorreu veredas não aprendidas no seminário. Tantos e tantos.
Não me arrependo dos longos oito anos entre clausuras e muros. Nem de entrar, nem de sair. Subi a Serra de Baturité, bati dois anos em Guaramiranga, onde as nuvens me invadiam o quarto e tilintava de frio, dormindo cedo para as orações coletivas de meia-noite. Depois, mais dois anos em Parnaíba, quando, já garotão, não me consolava só de contemplar belas garotas na igreja de S.Sebastião, nas missas dominicais. “Peguei o saco,” como se dizia, jocosamente, entre nós, quando se abandonava o seminário. Despedi-me, no início de Filosofia, faltando cinco anos para unção sacerdotal. Carreguei comigo o hábito escravo e construtivo de devorar livros e revistas, segredo para se escrever e falar bem. Mania de acordar cedo, enfrentar faxina em casa, plantar, cultivar quintal. Agradeço a cultura disciplinar dos antigos italianos, que me ensinaram até extrair borra preta das fossas, para adubo e floração de fruteiras e vinhas. Em Fortaleza e Quixadá, certamente, vou degustar esses frutos e videiras transformados em homens de bem. Tintim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário