quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO



2 de fevereiro

UM MESTRE E DOUTOR, DE FATO E DE DIREITO

Elmar Carvalho


Será lançado no próximo sábado, dia 05, às 10 horas, no auditório da Academia Piauiense de Letras, o livro As Ideias no Tempo, da autoria de Cunha e Silva Filho. Pelo subtítulo ficamos sabendo que a obra contém crônicas, artigos, resenhas e ensaios. O autor é um mestre dos gêneros literários referidos. Seu estilo é límpido, correto na gramática e fluente, como escritor que domina sua língua, seu assunto e sua linguagem. Sua erudição lhe permite fazer analogias, e trazer exemplos da história e da literatura, se necessário e oportuno. Trata das mazelas dos dias atuais, mas também versa assuntos agradáveis, bem como também escreve crônicas de caráter memorialístico, recheadas de emoção e saudade – de pessoas que já partiram para a eternidade ou de um tempo mais ameno, mais feliz, sem a brutalidade e a pressa dos dias de hoje. Na crítica, Cunha e Silva Filho foge de certos modismos, em que o crítico, para se fazer passar como profundo, constroi uns períodos herméticos, sibilinos, que ninguém entende, ou em que, para demonstrar que é atualizado, envereda pela chamada crítica estruturalista, cujo conteúdo o leitor mediano jamais poderá alcançar. Embora seja um erudito, professor universitário, mestre e doutor em Literatura Brasileira, faz uma crítica moderna, contudo de fácil entendimento, uma vez que procura contribuir para aclarar a obra analisada, tornando certos aspectos dela mais perceptíveis a um leitor menos atento ou com menos traquejo na fruição literária, em que analisa a linguagem, o estilo e o conteúdo da obra, todavia sem rechaçar, de todo, as boas lições da velha crítica impressionista, no que ela tem de eterno, de permanente. A sua dissertação de mestrado foi transformada num belo livro, talvez o mais importante, sobre a poesia de Da Costa e Silva, enquanto a sua tese de doutorado abordou a contística de João Antônio. Em ambas, se houve como o mestre e doutor que é, de fato e de direito.


Conheci Cunha e Silva Filho em sua terra natal, Amarante, em 1990,  por ocasião de um evento cultural de que participei. Estava ele num dos vetustos casarões da avenida Desembargador Amaral, quando o vi pela primeira vez. Logo notei tratar-se de uma pessoa afável, simpática e acessível; numa palavra, amigável, como dizem os jovens dos dias atuais. Imediatamente, entabulamos uma conversa sobre literatura, em que se notava a sua erudição, repassada de forma discreta, espontânea, conforme o rumo da conversa, contudo emitida sem empáfia e sem um pingo de afetação. Pode ser considerado um mestre da conversação, com sua voz agradável e de boa dicção. Contudo, não obstante todas essas qualidades, é franco em suas análises, e não contemporiza com mediocridades para se tornar simpático ou para agradar quem quer que seja. Com efeito, já o vi partir para o confronto intelectual, quando lhe quiseram atacar injustamente, sem o perfeito conhecimento de sua obra de crítica literária.

Nessa época, falei-lhe da primeira edição de A Rosa dos Ventos Gerais, através da editora da UFPI. Prometi enviar-lhe esse meu livro de poemas, quando voltasse a Teresina, o que efetivamente fiz. Fui premiado com uma excelente crítica que o Cunha escreveu, o que muito me desvaneceu e incentivou. A partir de então construímos uma sólida amizade, regada e alimentada através de cartas, de telefonemas e agora, com o avanço tecnológico, mediante e-mails e recíprocas “visitas” que nos fazemos aos nossos blogs. Posteriormente, ele me prefaciou livros e escreveu ensaios sobre textos de minha autoria, um dos quais foi enfeixado no livro que será lançado no sábado vindouro. À noite, no cais do Parnaíba, o Cunha e Silva Filho e o José Pereira Bezerra entabularam uma ferrenha (porém amistosa), e infindável discussão sobre aspectos da literatura universal. Essa discussão não nos impediu de falarmos sobre a literatura de nossa aldeia, que também é universal. E será tanto mais universal quanto mais falar de nossa aldeia, conforme entendia Tolstoi.

3 comentários:

  1. Estimado amigo Elmar Carvalho:

    Não vou me estender na apreciação do seu belo texto a meu respeito e sabe por quê? Porque a emoção de o ter lido transcende o plano físico e temporal.
    Já lhe disse que você, assim como tantos grandes poetas brasileiros, é alguém que, dizendo não fazer crítica literária, o faz admiravelmente quando analisa ou comenta algum livro que mereça atenção. E o faz com objetividade e beleza, porque a crítica é também arte, arte da imaginação e arte da construção textual. O crítico de talento não só depende da leitura da obra alheia, mas de como aboardar com instrumental teórico a obra alheia. Ao fazer isso, ele desborda para criação literária, em nível de igual grandeza dos criadores mais completos: os ficcionista, os poetas e os dramaturgos.
    Para ficar só no Brasil, dá prazer ler textos críticos de Álvaro Lins, Tristão de Athayde, Afrânio Coutinho, Agripino Grieco, Temístocles Linhares, Nelson Werneck Sodré, Antônio Houaiss, Augusto Meyer, Antônio Cândido, Davi Arrigucci Jr., Fábio Lucas, Roberto Schawrz, Massaud Moisés, Alfredo Bosi, Eduardo Portella, Fausto Cunha, Cassiano Nunes, entre tantos outros das velhas e novas gerações.
    Elmar, fizemos uma amizade que data de 1990, quando o conheci em Amarante. Foi uma simpatia mútua.Essa amizade quero preservá-la pela vida afora.
    Sempre houve na vida literária boas amizades entre críticos e poetaas , entre críticos e ficcionistas, enfim entre crítico e todas as outras artes. Isso é muito fecundo todos só têm a ganhar.
    Por isso, seu belo e formoso texto que só os poetas-críticos sabem elaborar, já que vêem o interior e o exterior da obra literária. e é difícil enganar um bom poeta tentando arrancar dele um julgamento insincero.
    Tenho certeza de que seus comentários só me dão maior estímulo a fim de manater a atividade crítico-ensaísta que venho, com duras penas, realizando.
    Muito mais gostaria de ter feito paraa valorizar grandes nomes das letras piauienses.
    Até hoje, fiz o que minhas forças permitiram, contudo o fiz com o pensamento de estar con tribuindo para o desenvolvimento de nossos valores intelectuais que não estão apenas nas áreas esstritamente literárias, mas em varias outras da inteligência piauiense.
    Sito-me honrado com o seu texto onde não pude encontrar o mínimo sinal ou traço de compadrio e de parcialidade intolerável entre dois amigos devotados à vida literária.
    Ao contrário, seu pensamento sobre a minha atividade crítica, ensaística e de outra natureza é límpido, cristalino e conduzido pelo respeito à verdade do que pensa sobre a produção de um amigo.
    No sábado, estarei na Acadmia para abraçá-lo.
    Forte abraço do am.º e admor.,

    Cunha e Silva Filho

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  2. Caro Cunha,
    Em virtude de minha mudança de casa, estou sem o meu arquivo de documentos, cartas e outros velhos papéis, de modo que me torna difícil ou impossível confirmar certas datas. Contudo, quando li seu excelente comentário, lembrei-me que o ano em que nos vimos pela primeira vez foi mesmo 1990, que é a data de um texto seu sobre a minha poesia. Aproveito para lhe desejar sucesso total no lançamento de seu livro.Seria ótimo se ele pudesse também ser lançado em Amarante, sua terra natal. Se você conversasse com o professor Marcelino Leal Barroso de Carvalho, talvez o lançamento pudesse acontecer dentro da parte cultural da Festa do Divino, oportunamente.

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  3. Elmar,
    Omuito lhe agradeçoç a suestao para um lançamento em Am arante. Entretanto, minha estadia em Teresian é meteórica, pois volto ao Rio na segunda-feira, dia dia 7.
    Ficará para uma próxima oportunidade a realização do lançamento em Amarante, minha terra querida, terra de meu pai.
    Até o dia do lançamento, amigo!
    Mais uma vez, lhe agradeço de coração.

    Abraços
    Cunha e Silva Filho

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