sábado, 21 de janeiro de 2012

MANAUS, A CAPITAL DO SUJO


JOÃO PINTO

Amigo internauta, um texto para se pensar a capital do
Amazonas, que pode ser também a sua onde mora.
JP

É assim a visão quase romântica que se tem dela. Mas, por trás dessa sujeira,
sai o rosto dócil do manauara, que me parece perdeu a essência de ver sua cidade
ao transitar entre caixas de papelões, sacos de lixo, bosta de cães, o óleo
de odor insuportável que vem das batatas ou bananas, ou dos jaraquis. Que
traz a febre cancerígena oculta. Ou entre os vendedores nas calçadas, os donos
com o alvará do gestor.

Se você anda pelo centro ou, na periferia dela, o camelô te sufoca com
os espaços, com os badulaques da China. Quem mora num espaço, que
aceita a sujeira, acaba perdendo a capacidade de indignar-se.
O manauara não só aceita a condição como contribui como agente que suja.
Perdão apenas para os que não sujam.

E parece que esse lado porco da cidade se acentua mais no inverno. O
gestor nunca aparece com os garis. Com o inverno o casario de Manaus
fica mais doentio com as paredes enegrecidas e os telhados cheio de lodo
e poeira causado pela umidade. Os esgotos, meu Deus, que a gente tenha
sorte de não atolar o pé neles. Quem anda de carro, fecha os vidros, pouco
tem interesse pela paisagem. Os ônibus desceram do céu com a carga gé-
tica lotada de passageiros invisíveis, aqui também há sujeira e demora, ou
raiva.  

Estou farto de ser manauara adotado. Já moro mais 20 anos no Manoa. Ao
lado de casa tem um beco que, de manhã espio do meu muro o matagal que
oscila o pigmento das folhas com a maior paciência e muito lixo que os próprios
moradores desovam sem piedade.

Mas, continuo a dizer, quem convive com o lixo um dia pode acordar
e protestar. Deixar de sujar e culpar quem suja. Voltar a artilharia contra
o mal gestor que nunca anda pelas bibocas da sua cidade. Só para enganar
os tolos.

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