segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Carta de um Navegante (*)


CARLOS BRANDÃO

Amigos, presente! Foi! Não foi! Pois vamos!

Bom demais. Nesses dias, sob raios que tocam a fronte de nossa juventude, passamos um tempo distante(s) de relógios. A brisa da felicidade abrandou docemente as vagas do viver, inspirando uma vontade danada de correr mundos.

Na ocasião, ainda sob manhã do agora, aproveitamos a luz dos primeiros sinais para colher os bons ventos da sorte. Conseguimos levantar o apressado das horas da cidade, que, como âncora, nos atracava aos portos da mesmice, por onde transitam aflições da solidão. Livres, espichamos ao sol a gramática do tempo, salgamos as conversas, destravamos as palavras, desfizemos as amarras das narrativas. De bom grado e prumo nas idéias, içamos velas ao benfazejo sopro dos sonhos.

Partimos (navegando) ao acaso indeterminado de navegar, guardando a fé de vencer ilusões. Logo estávamos deslizando ao cimo de uma vista que alcançava a enseada do gerúndio: convivendo em amizades, ironizando a ironia, enfeitando aventuras cheias de encantos. Ao longe, o horizonte dos acontecimentos refletia o infinito das encostas do além.

No entreaberto dos instantes, o olhar do coração reparou que uma vida bem vivida há de desvendar as terras dos gerúndios, particípios ou infinitivos. Mas sempre haverá de saltar dos domínios para festejar novas partidas, louvando e honrando outras imaginações no extenso oceano do tempo. De par com a liberdade, a boa vida caminha sobranceira avançando sobre águas do destino, traduzindo esperanças ao todo do tempo, sem os pesos adverbiais dos ressentimentos. Uma riqueza!

Ah! Nada de cansaços de futuro ou de presente em nosso roteiro. Não, isso não! De presente mesmo, só a ação de estar entre amigos e irmãos, de não contar o tempo em moedas, porque entretidos em enredos mais sublimes. Rumando no sentido do viver, seguimos no balanço das águas de bons mistérios, deixando o indomável do tempo segredar conceitos e assuntos, sem encrespar os fios da vida na crista da idade.

De carona, veio a noite. As estrelas brilharam oferendas ao céu. Aliviado do cotidiano, o espírito brincou a dormir. Madrugou. A natureza cantou um novo dia. Regendo a alvorada, o sol se alongou iluminando a prosa de acordar uma conversa animada. Viajamos sem pressa pela imensidão do tempo, na suavidade de quem vive sem se importar com o entardecer da noite. Singramos sem conferir lembranças do agora e do amanhã.

Foi maravilhoso. Mágico. Em mar aberto da fortuna, não houve enquantos ou outras esquinas do tempo. Apurando felicidades, navegamos livres, em ventos que sopram o destino, na fé de viver o que virá. Pois que venha!

(*) Carlos Augusto Pires Brandão
Juiz Federal e Professor da Universidade Federal do Piauí
Mestre em Filosofia e Teoria do Direito pela UFPE
Doutorando em Sociologia Jurídica e Instituições Políticas pela Universidad de Zaragoza (Espanha)

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