quarta-feira, 7 de março de 2012

DIÁRIO INCONTÍNUO

Viçosa do Ceará
Tianguá

7 de março

PASSEIO A TIANGUÁ E VIÇOSA DO CEARÁ


Elmar Carvalho

No domingo cedo, seguimos com destino a Tianguá, eu, a Fátima, meu irmão Antônio José e a sua mulher Maria de Jesus, a Dijé. Em outro carro, foram o subtenente reformado Nonato Freitas (Natim), sobrinho da Fátima, e a sua namorada, Ana Paula. Passamos na casa de meu pai, em Campo Maior, para levá-lo em minha picape. 260 quilômetros depois, às 11 horas, aproximadamente, chegamos ao nosso destino. Após um pedido de informação, fomos direto ao loteamento, em que pretendia adquirir um dos lotes. Fixei-me num deles, e pedi até terça-feira para decidir se o compraria ou não. Quando fomos verificar in loco a unidade que mais me interessava, havia obras de arruamento no local, e existia uma barreira relativamente alta. O Natim, ao saltá-la, sentiu o impacto, e curvou as pernas, mas sem chegar a tropeçar ou cair.

Pelo fato de ser ele musculoso, em virtude de malhar, bem como por ser aproximadamente dez anos mais novo que eu, fiz gozação com ele. Em seguida, lembrando-me de meus tempos de goleiro, pulei do ressalto, sem nenhuma dificuldade. O Natim deu como desculpa o fato de que havia bebido no dia anterior. Quando ele foi tentar subir a barreira, para voltarmos aos carros, não o conseguiu na primeira tentativa. Como novamente eu fizesse troça, justificou-se dizendo que uma raiz, que havia na terra revolvida, lhe atrapalhara o equilíbrio, mostrando até um suposto arranhão em sua perna. Tomei distância e executei o salto sem maiores problemas. Contudo, em seu favor, devo dizer que ele efetuou o segundo pulo sem nenhum embaraço. Diante da falta de entusiasmo dos meus acompanhantes, já que se trata de terra nua, em local ainda deserto, decidi abortar minha pretensão de adquirir o pequeno imóvel.

Inicialmente, combinei com o Natim, que iríamos almoçar em churrascaria a dez quilômetros, na saída para Fortaleza, onde me informaram haver um ótimo banho. Mas, como o homem propõe e a mulher dispõe, terminamos indo para Viçosa, bela, aprazível e encantadora cidade, que conheci em minha juventude, através de uma excursão turística iniciada em Parnaíba, feita em velho ônibus, e posteriormente a revi em um passeio de motocicleta, quando desci a serra, pela encosta cearense, tendo como destino Varjota e Reriutaba. Nessa ocasião, conheci diversas cidades serranas, inclusive Ipu, em que tomei agradável banho em sua famosa bica, situada em um dos morros da Ibiapaba, de temperatura agradabilíssima, de luxuriosa floresta virgem, em que parecemos sentir com maior intensidade a presença de Deus, sobretudo quando sentimentos o afago da suave e refrescante viração.

Na excursão a que me referi, conheci a gruta de Ubajara, sítio encantado. Fomos de teleférico, que desafiou minha pouca coragem para alturas e escaladas abruptas, uma vez que não tenho a menor inclinação para alpinista. A gruta é cheia de formas caprichosas, inesperadas, e toma as mais diferentes colorações. Parece até que um pintor adepto do abstracionismo exerceu ali, com muito vigor e radicalismo, a sua arte e talento. Talvez fosse mais correto dizer que se tratava, simultaneamente, de pintor e escultor. Primeiro ele elaborava a sua escultura abstrata, e depois as pintava, nos mais diferentes tons, texturas e traços.

Em Viçosa, fui rever a Igrejinha do Céu, cuja padroeira é N. S. da Vitória. Em minha primeira viagem a ermida era solitária, fincada no alto do elevado morro. Agora, há várias construções em seu derredor, entre as quais um centro de artesanato e um restaurante. De lá descortinamos uma vista deslumbrante da Ibiapaba. Vê-se vários morros e várias encostas, cobertos por densa vegetação, que, conforme a incidência solar e a distância, tomam diferentes tonalidades, variando do verde claro ao escuro, do azul escuro ao claro, sendo que os matizes adquirem notáveis sobretons de verde azulado, ou de azul esverdeado. As névoas, ao longe, no cabeço dos picos, parecem uma cabeleira encanecida e diáfana, a que o tempo rendeu a sua homenagem um tanto irreverente e galhofeira.

Um rápido plebiscito entre meus familiares, decidiu que iríamos almoçar em alguma churrascaria onde houvesse banho. Optamos, através de consulta a nativo, pela do Ivan, a cerca de dez quilômetros, em trecho da estrada que segue para Tianguá. Seguindo a orientação do informante, chegamos a nosso destino sem maiores dificuldades, vez que o acesso, em estrada carroçável, ante as bifurcações e encruzilhadas, possui placas indicando o caminho correto, que vai serpenteando pela floresta e pelos pequenos acidentes geográficos da paisagem serrana. O Ivan, que não era o terrível, nem tampouco o rei Artur, tinha uma grande távola redonda, em azulejo, ao redor da qual nos sentamos, como perfeitos cavaleiros. Como a mesa não tinha cabeceira, uma vez que parecia uma grande roda de carro de boi, não houve privilégio nem hegemonia na hora do pagamento da despesa, que não foi grande, já que o bravo Ivan explora o turismo, e não o turista.

Eu, o Natim e o Antônio José nos aventuramos a ir até a cachoeira, onde tomamos um saboroso, porém enregelante banho, exceto meu irmão, que se entreteve em tirar algumas fotografias. Como a cascata fica em local de um tanto difícil acesso, por ser íngreme, com pedregulhos instáveis, sugerimos ao Ivan que fizesse uma espécie de corrimão com cipós, além de que providenciasse uma pequena limpeza no local, pois muitos turistas são mesmo deseducados e deselegantes, e espalham suas sujeiras e lixos por onde passam.

O Ivan é educado e não se aborreceu com as nossas sugestões. Ao contrário, as acolheu e aperfeiçoou, dizendo que iria fazer um corrimão com taboca, que é bem mais resistente que cipós. Será, portanto, um arrimo para Tarzan nenhum botar defeito. Por falar no homem macaco, devo dizer que na bica o Natim se houve com muita destreza e vigor na escalação dos obstáculos, ao contrário do que narrei anteriormente.

De lá, meu carro seguiu para Teresina e o do Natim para Parnaíba, via Cocal, dito da estação, desde os tempos de outrora, quando por ali passavam os vagões ferroviários, no início puxados por uma caquética e cansada maria fumaça e, depois, por uma mais robusta e possante locomotiva a diesel. Ainda antes de chegarmos a Campo Maior, o Natim telefonou para nos dizer que já chegara a Parnaíba. Ou Parnaíba ficava bem mais perto, ou o meu irmão desenvolveu muito menor velocidade.

Quando iniciei esta crônica, ainda serenava, aqui em Regeneração. Antes, chovera torrencialmente. Fui acordado de meu sono por fortes tiros de trovão, que atroaram aterradoramente os ares, como se fora uma batalha medonha, em que os canhões disparavam suas balas mortíferas, em que as bombas explodiam, de modo intermitente, contra o front adversário. Depois os estampidos foram escasseando, ao tempo em que o barulho foi arrefecendo, arrefecendo, até se tornar um brando ronronar, que já não assustava, ou mesmo um inofensivo ressonar de uma artilharia sonolenta. Com o último trovejar, já inaudível, pingo o ponto final deste registro.

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